Os ecos da conversa com o homem ainda reverberavam em minha mente enquanto eu e Isabel caminhávamos pelas ruas mal iluminadas da cidade. As sombras se alongavam ao nosso redor, e a brisa fria da noite parecia sussurrar segredos que não queríamos ouvir. Clara estava desaparecida, e a sensação de urgência crescia a cada passo que dávamos em direção ao desconhecido.
A cidade, que costumava ser um lugar familiar, agora parecia um labirinto de desconfiança e medo. As luzes dos postes piscavam, projetando formas distorcidas no chão, como se refletissem o caos que sentíamos dentro de nós. Ao nosso redor, os sons da noite se misturavam – o canto distante de um galo, o farfalhar das folhas, e o ocasional carro passando, como se o mundo continuasse girando sem se importar com nossas angústias.
— Precisamos pensar no que ele disse, — Isabel murmurou, quebrando o silêncio tenso. Sua expressão era uma mistura de preocupação e determinação. — “A verdade pode ser uma faca de dois gumes”. O que você acha que ele quis dizer com isso?
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. O que aquele homem sabia que não estávamos vendo? E quem mais poderia estar envolvido nesse mistério?
— Não sei, mas sinto que ele está nos levando para um caminho muito mais complicado do que podemos imaginar. Clara pode estar em perigo real, e quanto mais tempo perdemos, mais difícil será encontrá-la.
Isabel concordou, mas seu olhar permanecia distante, como se ela estivesse processando algo que a incomodava.
— Você se lembrou de alguma coisa sobre o passado? — perguntei, tentando direcionar sua atenção. — Alguma coisa que poderia nos ajudar a entender o que está acontecendo?
Ela hesitou, uma sombra de dúvida passando por seu rosto.
— A única coisa que vem à mente é o nosso tempo na escola. Lembro de como Clara e eu éramos próximas, e depois, quando começamos a nos distanciar, quando ela se envolveu com o grupo que parecia… diferente. Não sei, apenas sinto que aquele ambiente tinha algo de sombrio.
Parei por um instante, absorvendo suas palavras. O grupo a que Isabel se referia era conhecido por suas festas clandestinas e comportamentos duvidosos. O que Clara poderia ter feito para se envolver com eles?
— Você acha que isso pode estar relacionado? — indaguei.
— É possível. — Isabel parecia pensativa. — Se Clara fez amigos que eram problemáticos, isso pode ter a ver com o que aconteceu agora.
Meu coração disparou. Precisávamos visitar aqueles lugares onde Clara costumava ir, onde as influências eram mais sombrias. O primeiro pensamento que me veio à mente foi o antigo armazém na periferia da cidade, um local conhecido por ser um ponto de encontro de festas.
— Vamos ao armazém. — Eu disse, a decisão se formando com clareza em minha mente. — Pode ser a nossa única chance de encontrá-la ou descobrir mais sobre o que está acontecendo.
O caminho até o armazém era tortuoso. Enquanto caminhávamos, a tensão crescia, e eu podia sentir o peso das expectativas. As luzes dos postes iluminavam nosso caminho, mas as sombras pareciam ganhar vida, como se houvesse algo escondido esperando para nos pegar.
Quando chegamos ao armazém, a estrutura imponente parecia quase viva, suas paredes cobertas de graffiti e sujeira, contando histórias de festas passadas e pessoas que se perderam em suas próprias sombras. A porta rangia ao abrir, revelando um interior escuro e cheio de mistérios. O cheiro de mofo e álcool impregnava o ar, e a atmosfera pesada parecia nos absorver.
— Você está pronta? — perguntei a Isabel, sentindo a adrenalina percorrer meu corpo.
Ela assentiu, embora seus olhos expressassem uma mistura de medo e determinação. Entramos no armazém, e a escuridão nos envolveu como um manto. O eco de nossos passos se misturava com o som distante de música e risadas que pareciam vir de algum lugar mais profundo no interior do lugar.
— Clara! — chamei, minha voz ressoando entre as paredes. — Você está aqui?
O silêncio respondeu, apenas interrompido pelo som de nossos corações acelerados. A escuridão parecia nos observar, e a cada passo que dávamos, a sensação de que estávamos sendo seguidas aumentava.
Isabel se virou para mim, a preocupação em seu rosto evidente.
— Devemos ser cuidadosas. Se Clara estiver aqui, precisamos encontrar uma maneira de garantir que não estamos entrando em uma armadilha.
Concordei. A atmosfera era palpável, e uma presença inquietante parecia nos seguir. Com cautela, começamos a explorar o armazém, cada sala revelando novos segredos, mas nenhuma pista sobre Clara. Os restos de festas passadas estavam por toda parte – copos quebrados, latas de bebidas, e os ecos de risadas que pareciam zombar de nós.
Finalmente, encontramos uma porta nos fundos, meio entreaberta. O som da música se tornava mais forte, e a iluminação suave que emanava do interior parecia convidativa, mas ao mesmo tempo aterrorizante.
— É aqui, — disse Isabel, hesitando. — Devemos entrar?
A ideia de cruzar aquela porta me deixava nervosa, mas não havia escolha. Clara poderia estar em perigo, e estávamos dispostas a tudo para encontrá-la. Com um último olhar de encorajamento para Isabel, empurrei a porta.
O que encontramos do outro lado foi uma cena de festa, mas havia algo de errado. Os rostos das pessoas pareciam vazios, como se estivessem perdidos em um transe. O que deveria ser uma celebração parecia mais uma reunião sombria de almas.
— O que está acontecendo aqui? — sussurrei, meu coração disparando.
— Não sei, — respondeu Isabel, o medo evidente em sua voz. — Mas precisamos descobrir onde está Clara.
As luzes piscavam, e a música ensurdecedora nos envolvia. A festa continuava ao nosso redor, mas uma sensação de inquietação se intensificava. Algo estava prestes a acontecer, e sabíamos que tínhamos que agir rápido.
Caminhando pela multidão, cada rosto se tornava mais familiar, mas ninguém parecia perceber nossa presença. Foi então que um grito atravessou o ar, cortando a música e fazendo com que todos parassem. O som estava vindo de uma sala adjacente, e sem pensar duas vezes, corri em direção à origem do grito, Isabel logo atrás de mim.
Ao entrarmos na sala, o que encontramos foi um choque. Clara estava ali, mas não sozinha. A cena era aterrorizante, e a verdade que nos aguardava era mais devastadora do que poderíamos imaginar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 47
Comments