Rastos no Silêncio

No dia seguinte, caminhei até o café novamente, como se algo ali pudesse me ajudar a organizar os pensamentos. Eu queria perguntar mais ao barista, talvez pressioná-lo por mais informações, mas, ao chegar, percebi que ele não estava trabalhando naquela manhã. Sentei-me em uma mesa ao fundo e observei o ambiente em busca de algo que pudesse ser útil. Cada canto, cada detalhe, parecia encoberto por um véu de mistério que eu ainda não tinha conseguido decifrar.

Enquanto o cheiro de café fresco invadia o lugar, peguei a caneta e comecei a rabiscar símbolos semelhantes ao da espiral, tentando lembrar de tudo o que tinha encontrado no fórum. Porém, a cada tentativa, o desenho parecia mais desconexo, como se eu não conseguisse capturar a essência do símbolo. Frustrado, fechei o caderno, e foi então que notei uma figura sentada no canto oposto do café, de frente para mim.

Era uma mulher, jovem, de traços delicados, com o rosto parcialmente encoberto por uma boina escura e um cachecol grosso em volta do pescoço. Ela me encarava com um olhar que misturava curiosidade e desafio, como se soubesse exatamente o que eu estava fazendo ali. Tentei desviar o olhar, mas algo em sua presença me impedia de ignorá-la. Quando olhei de volta, ela fez um pequeno aceno, um movimento quase imperceptível com a cabeça.

— Posso me sentar? — perguntou ela, aproximando-se antes mesmo que eu pudesse responder.

Assenti, tentando manter a expressão neutra, mas o nervosismo crescia. Havia algo de misterioso e, ao mesmo tempo, perigoso em sua presença, como se ela fosse parte de um quebra-cabeça que eu ainda não tinha começado a montar.

— Eu vi você ontem. — Ela disse de forma direta, os olhos fixos nos meus. — Parece que estamos investigando a mesma coisa.

O coração disparou. Eu não sabia se podia confiar nela, mas havia uma estranha conexão, uma sensação de que talvez ela soubesse mais do que estava disposta a admitir. Aproximei-me, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

— Quem é você? — perguntei, tentando esconder a apreensão.

Ela sorriu levemente, sem responder de imediato, deixando o silêncio pairar entre nós. Depois de alguns instantes, ela pegou um guardanapo, desenhou o símbolo da espiral nele e o empurrou na minha direção.

— Meu nome é Clara. E acho que estamos no meio de algo que vai muito além do que você imagina.

Clara me encarava, e por um momento, senti que ela estava examinando não apenas meu rosto, mas minha alma. O nome dela, aquele símbolo desenhado no guardanapo, tudo parecia proposital, cuidadosamente orquestrado para me levar a um lugar que eu não conhecia e, ao mesmo tempo, não conseguia evitar. Eu estava diante de alguém que parecia saber demais, como se já conhecesse minha história e todos os passos que eu tomaria a seguir.

Ela cruzou os braços, mantendo um olhar firme sobre mim.

— Você provavelmente já percebeu que isso não é apenas uma coincidência, certo? — Sua voz era suave, mas carregada de intensidade. — O homem que você viu, a nota, o símbolo… tudo isso é apenas a superfície de algo muito maior.

Permaneci em silêncio, processando o que ela dizia. Por mais que a ideia de confiar em alguém fosse perigosa, havia algo em Clara que me atraía, algo que parecia ressoar com meu próprio desejo de entender o que estava acontecendo.

— Então, o que exatamente está acontecendo? — perguntei, tentando ocultar o medo em minha voz.

Ela deu um leve sorriso, como se estivesse esperando por essa pergunta.

— A Ordem da Espiral. — Clara pronunciou cada palavra como se fossem segredos antigos sussurrados em cavernas ancestrais. — Eles têm olhos em todo lugar, inclusive aqui, nessa cidade. Suas ações são silenciosas, mas devastadoras. E a última pessoa que decidiu investigar essa ordem… bom, digamos que ela não viveu para contar a história.

As palavras dela atingiram como uma rajada de vento frio. De repente, a investigação que eu começara por curiosidade, o mistério que parecia intrigante, tudo se transformou em algo sombrio e perigoso. Ela continuou:

— Eu já estive onde você está agora, achando que poderia desvendar os segredos sozinha. Mas, ao contrário de você, eu tive ajuda, e ainda assim quase perdi tudo. É por isso que estou aqui. Quero garantir que você entenda o que está enfrentando.

Ela se inclinou para mais perto, o olhar penetrante, quase ameaçador.

— Esse homem, o que você encontrou no café, é apenas um peão. Ele é um 'mensageiro', um sinal de que eles já estão observando você. Se eles deixaram você encontrá-lo, é porque já tomaram uma decisão sobre você.

O ar parecia mais denso, quase irrespirável. Senti que cada palavra de Clara abria uma nova porta para o desconhecido, e, ao mesmo tempo, uma sensação de urgência começou a me dominar. De repente, nada mais importava; tudo o que eu queria era entender o que realmente estava em jogo.

— E o que a Ordem quer comigo? — perguntei, um arrepio percorrendo minha espinha.

Clara suspirou, como se já esperasse minha pergunta, mas relutasse em me dar uma resposta.

— Eles precisam de algo que você possui. Um passado, uma memória, um segredo... ainda não sei o que é, mas você, de alguma forma, se tornou importante para eles. E quando a Ordem escolhe alguém, essa pessoa tem apenas duas opções: seguir as regras ou desaparecer.

O peso das palavras dela ecoava no silêncio.

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