Encontro nas Sombras

A noite havia caído, e as ruas da cidade estavam quietas, banhadas apenas pela luz pálida dos postes. Uma sensação fria atravessava o ar, uma mistura de tensão e umidade que parecia se agarrar à pele. Caminhando apressado, eu me sentia ansioso e observador, como se os passos ecoando no asfalto carregassem uma estranha urgência. Estava tentando chegar ao café habitual, aquele lugar onde tudo parecia mais seguro, envolto no cheiro acolhedor de café fresco e tortas recém-assadas. Mas, naquela noite, o ambiente parecia diferente, quase hostil.

Ao entrar, as luzes amareladas do café eram reconfortantes, lançando sombras suaves nas paredes e nas prateleiras cheias de livros. O barista cumprimentou-o com um aceno de cabeça, mas algo no seu olhar estava diferente também. Parecia haver um peso silencioso pairando sobre ele e sobre cada um dos clientes espalhados pelas mesas. Era como se um segredo, um medo silencioso, estivesse estampado no rosto de todos.

E foi então que eu o viu.

Sentado em uma mesa ao fundo, quase escondido nas sombras do canto do café, estava um homem que parecia ter surgido direto de um pesadelo esquecido. Ele vestia um casaco longo e escuro, e um chapéu desgastado cobria parte de seu rosto, deixando apenas um leve vislumbre de sua expressão tensa e sombria. Ele mantinha o olhar fixo em um livro que segurava com uma mão firme, mas o jeito como ele olhava para as páginas parecia mais uma fachada do que uma verdadeira leitura. Havia uma energia inquieta ao seu redor, um ar de alguém que não se encaixava no ambiente, mas que fazia questão de se misturar.

Uma onda de reconhecimento inexplicável me atingiu. Algo em seu rosto, na forma como seus lábios comprimiam-se em uma linha rígida, no leve tremor de seus dedos ao virar a página, era familiar. Mas não uma familiaridade confortável, como a de um amigo ou um parente. Era um tipo de lembrança inquietante, um déjà-vu que não fazia sentido, mas que tocava um medo primitivo, uma sensação instintiva de perigo.

Sem conseguir resistir, eu permaneci imóvel, observando-o, tentando captar algo mais que ajudasse a desvendar essa sensação estranha. A memória parecia pronta para se manifestar, algo soterrado no fundo de sua mente, mas, ao mesmo tempo, escorregava como água entre os dedos. A cada segundo que passava, o incômodo aumentava.

De repente, ele levantou o olhar, e seus olhos encontraram os meus.

Foi como ser empurrado de volta a uma lembrança que estava reprimida há anos. Os olhos dele eram frios e calculistas, mas também escondiam algo sombrio, um brilho sutil que parecia zombar de seu próprio disfarce. Foi um instante breve, quase imperceptível, mas o suficiente para que seu corpo reagisse com um calafrio intenso. Uma descarga de adrenalina me atravessou, e o coração começou a bater mais forte, quase dolorosamente.

O homem não desviou o olhar de imediato. Ele manteve os olhos fixos em mim por um momento a mais, e, naquele instante, parecia que ele sabia exatamente quem eu era, como se tivesse lido cada uma das suas lembranças mais sombrias. Ele não sorriu, mas seus olhos cintilaram com algo que parecia perverso e provocador.

A tensão foi interrompida pelo toque de uma xícara sendo colocada no balcão ao seu lado. O barista olhou na direção do homem no canto, parecendo desconfortável, mas não disse nada. Apenas acenou para mim, apontando para a bebida que havia preparado. Eu agradeci, mas não consegui deixar de olhar novamente para a mesa do estranho.

Ele não estava mais lá.

Como um fantasma, ele havia desaparecido em um instante, sem que você sequer notasse seu movimento. Era como se ele nunca tivesse estado lá. Mas o sentimento perturbador persistia, um pressentimento sombrio que se recusava a desaparecer. Com a mente ainda girando de perguntas sem respostas, eu me aproximei da mesa vazia. Uma sensação de calafrio envolveu meu corpo ao notar um detalhe que poderia parecer insignificante para qualquer um, mas que, para mim, era perturbador: o estranho havia deixado para trás uma pequena nota, escrita com uma caligrafia quase ilegível.

A mensagem, breve e enigmática, dizia: "Eu já te conheço."

O papel tremia levemente em minhas mãos, enquanto uma série de pensamentos aterrorizantes tomava conta da sua mente. Essa sensação, esse rosto, essas memórias distantes e confusas – tudo começava a se encaixar, mas em um quebra-cabeça que você não queria completar. E enquanto o peso da nota e de suas palavras ardia em minha mente, algo ficou claro: sua vida acabara de ser puxada para uma teia sombria da qual seria difícil escapar.

A adrenalina queimava, e eu sabia que esse encontro não era o fim, mas o início de algo muito, muito maior.

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