Capítulo 6 . Na recepção.

Vinícius se lembra de como era a casa do senhor George, eram proibidos de entrar ali o que os incentivava a fazer o contrário, escondidos entravam no pomar, roubavam maçãs, soltavam as galinhas, só para o ver bravo, vermelho como pimentão. A sua filha Clara não era menos soberba, sempre os esnobou. Era muito bonita desde menina, com cabelos pretos, longos, uma pele branquinha, uma dondoquinha, sempre muito arrumada e cheia de pose.

Marcos o leva até a casa deles, o encaminha até o centro da sala, dá-lhe orientações e vai embora dizendo voltar numa hora.

Ao o ver Clara muda de ideia na mesma hora, Alice do seu canto também fica admirada ao o ver de perto. Com um corpo bem definido, cabelos penteados para trás, os olhos de um azul profundo, sem nenhuma cicatriz ou evidência de algum ferimento na sua face, uma covinha no queixo, a voz firme. Quem o vê jamais diria que é cego.

George: — Vinícius! O garoto levado se torna um herói! Venha, essa é Clara, deve ser lembrar dela, minha esposa...- Vinícius estende a mão na direção de onde vinham as vozes.- Se sente na poltrona a sua esquerda!

Clara: — Então Vinícius?! Ouvimos dizer que tem uma bela propriedade, que se tornou um novo-rico? Não esqueceu dos que deixou por aqui não é?

Vinícius: — Não poderia esquecer do lugar e das pessoas que fizeram parte de uma fase muito boa na minha vida.

Mirtes e George não se cansam de tecer elogios a filha, moça prendada, sabe fazer isso e aquilo. No meio da conversa Mirtes pede a alguém para trazer café e bolo.

Alice: - Sim tia!

Vinícius achava que não havia mais ninguém na sala além de George, Mirtes e Clara. A voz soou baixa e obediente, não sabe porque mais aquela voz lhe despertou a curiosidade, não a ouve mais nenhuma vez durante a visita aumentando seu interesse nela.

Clara: — Vamos nos encontrar na recepção que estão a preparar para você, não vamos?

Vinícius: — Não precisava disso tudo.

Clara: — Precisa sim! Você é um herói e há muito tempo nós não temos uma boa festa por aqui.

Alice observa tudo, Vinícius é gentil, educado, e bonito, muito bonito. Não é a toa que Clara se encantou e mudou de ideia tão rápido. Alice decide ir à recepção também, afinal ela é para todos da cidade e ela, mesmo que passe sempre despercebida, é uma cidadã do lugar.

Quando Marcos vai buscar Vinícius ele pergunta: — Marcos? Viu alguém mais na sala quando me deixou lá?

Marcos: — Não percebi não. Acredito que não.

Vinícius explica sobre a voz, que chamou Mirtes de tia, mais não pareceu fazer parte da família. O assunto é esquecido. Vinícius resolve ligar para mãe e lhe acalmar explicando onde está e o que estão fazendo por ele.

Alice pega o vestido que Clara lhe deu por estar enjoada dele, o veste e fica parecendo um espantalho, cabem duas dela nele, a cor não é ruim. Alice não é muito boa com agulha e linha, mais o desejo de ir à recepção dá-lhe ânimo para reformar o vestido para pelo menos ficar apresentável.

No dia da recepção espera os seus tios e Clara saírem, não quis dizer a eles que queria ir, ririam dela e talvez a proibissem. Se veste, tenta arrumar os seus cabelos o melhor possível, estão muito curtos e rebeldes, não liga muito, pois pretende ficar apenas como observadora, se esconder num canto, ouvir música e ver as pessoas se divertirem. E assim o faz até que Vinícius chega. Não sabe porque mais a conversa que ouviu entre os seus tios e Clara a respeito dele não lhe saem da cabeça.

Mirtes: — Clara, aproveite a recepção e dê um jeito de fisgar esse cego para você. Imagine as vantagens que terá com ele, poderá fazer o que quiser, ele não verá mesmo, o que quiser! Pense bem filha!

Clara: — Eu já pensei mãe. E ele não é de se jogar fora. Posso acostumar-me com ele, realmente será vantajoso.

Alice vê Clara se aproximar de Vinícius o segurando pelo braço, toda sorridente, se encostando nele, oferecendo-lhe bebida. Em um certo momento Clara sai com ele do salão. Alice entende o que a prima planeja, por um bom tempo fica indecisa se faz ou não alguma coisa. Algo lhe diz que ele não merece cair em uma cilada, que Clara não pode usar as pessoas assim. Ouve George e Mirtes fingindo preocupação com a filha perguntando dela a alguns presentes. Alice sai do seu canto, pega um casaco numa cadeira e sai do salão em busca de Vinícius e Clara.

Clara leva Vinícius até um beco mais escuro e começa o seu jogo de sedução.

Clara: — Gostaria de saber se não ver muda algo, por exemplo, na hora de namorar...

Vinícius: — E, porque mudaria? Não é a noite, na penumbra que os casais se encontram?

Clara passa os dedos no peito de Vinícius: — É verdade! E os namorados fecham os olhos quando se beijam…

Clara segura a nuca de Vinícius e puxa-lhe para um beijo, é ousada, apertando o seu corpo contra o dele, coloca as mãos dele, na sua cintura…

Vinícius não é de ferro e a muito tempo não sente um corpo feminino junto ao seu, seu corpo reage ao toque do Clara, mesmo sem querer se excita, Clara é jovem, formosa, perfumada e ele é homem, a muito tempo só...

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