Na primeira oportunidade Vinícius dá um jeito de ir para seu quarto. Do jeito que Mirella o tocava não duvida que ela possa invadir o seu quarto no meio da noite.
Vai até à janela e torce para que Marcos esteja trabalhando ali por perto. A chuva diminuiu um pouco e por sorte a janela de seu quarto dá para o estábulo, começa a assoviar, é um meio de se comunicar com Marcos que já sabe ao ouvir o assovio que ele quer conversar com ele. Em alguns minutos Marcos aparece, pula para dentro do quarto.
Marcos: — O quê o amigo quer? A chuva o entediou? Ou foi as visitas?
Vinícius: — Marcos vamos sair?
Marcos: — Sair? Debaixo dessa chuva? Já está a anoitecer! E onde o amigo pensa em ir?
Vinícius: — Estou falando de sair de férias. Sem data para voltar...
Marcos: — Não estou-te entendendo?
Vinícius: — Preciso sair! Não estou a aguentar mais…
Marcos: — A moça é tão ruim assim? — ri.
Vinícius: — Não duvido nada dela aparecer na minha cama a noite e depois exigir se casar…
Marcos: — Isso não me parece tão mau! — ri — Para aonde iríamos? Quando iríamos?
Vinícius: — Vamos para qualquer lugar bem longe daqui! Se puder essa noite mesmo, daqui a pouco. E aí topa sair com um cego pelo mundo sem destino?
Marcos: — Você que manda patrão! Estou precisando mesmo de férias! O que quer que eu faça?
Vinícius: — Poderia arrumar a minha mala? E assim que anoitecer buscar-me aqui. Ainda tenho que passar por um jantar. Eu espero sobreviver-lhe.
Marcos faz o que o amigo pediu-lhe, deixa tudo organizado e vai arrumar as suas coisas, por sorte tem um ajudante que sabe como tudo é feito no sítio e saberá como resolver qualquer problema enquanto estiverem fora.
O jantar pareceu interminável para Vinícius que detesta se alimentar perto de outras pessoas. É extremamente constrangedor. Não sabem como é tentar comer sem saber o que vai a boca ou como o alimento está distribuído no prato. Para completar Mirella pergunta-lhe se quer que pique a carne para ele. "Só falta ela querer tratar de mim!" — pensa. Por sorte sua avó teve o bom senso.
Avó: — Vinícius não é nenhum bebê! Querido o seu prato está arrumado como de costume.
A sua avó era a responsável, no início, de o alimentar e criou uma maneira dele não precisar de ajuda colocando o alimento sempre na mesma posição no prato e distribuídos de forma que lhe facilitasse comer, e ele decorou, mesmo assim ele não gostava de comer em público, na verdade ele não gosta de estar em público, de ninguém além da sua família e dos amigos do exército, e nesse momento qualquer lugar seria melhor que ali com a sua família, o oferecendo como um objeto raro a Mirella e a sua família.
Os pais de Mirella só faziam perguntar sobre as posses de Vinícius, se tinham empregados para ajudar, se… se…
A mão de Mirella o apalpando por baixo da mesa chegando a irritar. Parecia que ela queria ter certeza de que não lhe faltava mais nada além da visão. E a maneira deles falarem com ele então? Infantilizando a voz como se falassem com um retardado.
"Vinícius querido, tome seu suquinho! Como consegue não derramar? Não enxerga nada mesmo? Nem luz?"…
"Como podem o imaginar casado com uma mulher assim?" Seria mais uma para o tratar como a um inválido. Vinícius sabe que o que vai fazer é covardia, mais precisa de um tempo longe de tudo e de todos. Precisa se sentir em paz, não vai sobreviver sozinho, pois Marcos estará ao seu lado, porém ele o entende, o respeita não o sufoca. Sabendo que ele o acompanha, apesar de ficarem bem irritados, saberão que está bem.
Assim que teve uma oportunidade, Vinícius vai para seu quarto, tranca a porta para evitar que entrem, em poucos minutos Marcos aparece, sem precisar dizer-lhe nada, ele leva as coisas para o carro próximo à janela, não esquece o violão, sabe que Vinícius o toca por horas e isso o distrai. Vinícius passa para o lado de fora com facilidade, já acostumado a sair por ali, chega ao carro, ainda meio apreensivo mais é a única solução que encontrou para ter um pouco de sossego. Depois ligará para sua mãe e irmãs as informando que está bem. A garagem fica atrás da casa, podem sair sem serem vistos e a essa hora, com a chuva fina não correm nenhum risco de serem pegos em fuga. Vinícius não quer nem pensar no que dirão quando perceberem sua fuga, se ficasse ali poderia ser bem pior, poderia magoar e muito àquelas que a seu modo o amam e acham que o que estão fazendo é o melhor para ele.
Marcos pesquisou e encontrou uma cidadezinha não muito longe onde se alugam chalés pelo tempo que desejarem, lá podem pescar, andar de barco, descansar sem serem incomodados, Vinícius gosta de pescar e de onde há água, então supôs que seria um bom lugar, Vinícius confia no amigo e sabe que não o decepcionará.
Ali ficam por quase um mês, até que Vinícius decide que já era hora de dar outro rumo a sua vida, de parar de se esconder e enfrentar o seu destino.
Mas antes de voltar para casa resolve visitar a sua terra Natal, o lugar onde viveu bons momentos, onde foi feliz, onde era autor do seu destino e de muitas travessuras…
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Atualizado até capítulo 51
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