Vinícius fica por alguns minutos pensativo, depois se levanta: — Vamos dar uma volta Alice, quero que veja tudo e encante-me com as suas observações.
Alice o obedece, coloca a mão dele no seu braço e vão em direção a porta, Vinícius já conhece o local e com a bengala guia sai sem nenhuma dificuldade.
Vinícius: — Está vendo como são? Ainda pensa que eu exagerava quando falava da minha família?
Alice: — Elas te amam. Entendo a sua mãe, se tivesse um filho não gostaria de perder o casamento dele.
Vinícius: — Talvez tenha razão. Vou pensar em algo para compensar isso e a deixar mais contente. Está vendo, já está me ajudando. Agora eu gostaria que me levasse até o lago. Tem uma trilha atrás da casa que chega até lá e se puder me descreva o caminho.
Alice o guia até o lago, de perto é muito mais lindo ainda, foi planejado com uma pequena ilha no centro onde fica um pequeno quiosque, para ir até lá somente nadando ou num barco, do outro lado árvores frondosas, em baixo de uma delas um banco rústico, trepadeiras silvestres com flores amarelas descendo até tocar a água. Alice se encanta a descrever o que vê a ele.
Alice: — É encantador, as flores amarelas descendo parecem que querem alcançar a água do lago a beijando e o pequeno quiosque no centro deve ter sido feito para um casal de enamorados ficarem lá admirando a natureza.
Vinícius sorri: — O meu tio o construiu para minha tia, me vendeu tudo quando ela faleceu.
Alice: — Eu não seria capaz de desfazer-me de algo que me lembrasse o amor da minha vida, ainda mais algo tão lindo.
Vinícius: — Talvez a lembrança doesse demais e fosse mais fácil para ele ficar longe.
Alice: — Talvez.
Vinícius: — Alice, está arrependida, ou infeliz depois do que viu que terá que enfrentar?
Alice: — Não. Não estou infeliz. E sei que jamais me arrependerei do que fiz. Que vida eu teria se não aceitasse o seu acordo? E olha o que eu tenho desfrutado? Quanta…
Vinícius: — Beleza?
Alice: — Me desculpe...
Vinícius: — Saiba que através de você eu consigo imaginar essa beleza, o jeito que descreve—me faz imaginar, eu consigo ver pelos seus olhos! Você tem que parar de se desculpar... sabe nadar?
Alice: — Não. Tenho um pouco de cisma de água, de muita água e nunca tive a chance de aprender.
Vinícius: — Quer aprender? Eu te ensino. Marcos acompanha-me algumas vezes para nadarmos.
Alice: — Pode ser, podemos fazer um piquenique debaixo daquelas árvores.
Vinícius: — Combinado!
Vinícius: — Agora quero que conheça os cavalos!
Alice: — A minha paixão! O meu sonho de infância! Andar a cavalo!
Vinícius: — Isso já não posso ensinar-lhe, lembro-me quando saía em disparada pelas ruas de Monte Alegre, subia aqueles morros em minutos… agora... deixa para lá.
Alice sente novamente a tristeza nas suas palavras, precisa pensar em algo para o ajudar.
Alice: — Me conta o que aconteceu, como perdeu a visão?
Vinícius: — O meu pelotão estava averiguando um local que nos disseram ser seguro, do nada começaram a surgir inimigos, Marcos foi atingido e perdeu os sentidos, estava o puxando para um lugar seguro quando uma granada explodiu na minha frente. Perdi a visão e a audição. Depois do clarão fui acordar no hospital. Pedro, Vera e os outros do pelotão nos arrastaram de lá nos salvando.
Alice: — Recuperou a audição e a visão não
Vinícius: — Durante quase três meses fiquei cego e surdo, se não fosse meus amigos teria ficado louco, quis dar fim ao sofrimento, me vigiavam o tempo todo até terem certeza que eu não faria nada idiota.
Alice: — É por isso que Marcos cuida de você.
Vinícius: — Gostaria que ele vivesse, que não se sentisse responsável por mim, quero a sua ajuda nisso também.
Chegam ao estábulo, um cavalo preto, forte se aproxima assim que ouve Vinícius o chamar "Trovão!" Além dele há outros quatro, três fêmeas e um macho. Uma linda fêmea malhada, outra branca e uma negra como a noite, essa com uma barriga saliente mostrando que logo teriam um novo membro ali.
Alice: — Ela vai ter um filhote!?
Vinícius: — Sim! Trovão vai ser pai! Essa é noite, dará o primeiro filho a ele.
Alice: — Um potrinho?! Vai ser lindo!
Alice não tem medo deles, os acaricia, dá-lhes o que comer e eles percebem que ela é amiga.
Vão até o pomar e ela colhe algumas laranjas, as descascando para eles, afinal ninguém conseguiu almoçar. Vinícius explica-lhe até onde vai as suas terras, há pessoas que trabalham nas suas terras como meeiros e outros que Marcos contrata para cuidar de tudo na pequena fazenda, ele quer tomar as rédeas do que é seu, entender como tudo funciona e como pode melhorar o que possui. Desde que comprou tudo Marcos e a sua mãe são responsáveis pelo lugar, até hoje não fizeram nenhuma melhoria ou mudança e ele tem desejo de melhorar, de investir, de crescer.
Alice adorou o passeio, mais tinham que retornar, quando estavam se aproximando da casa ela percebe que Dona Dalva e Vanessa estavam os observando de longe.
Alice sussurra: — Estão nos vigiando.
Vinícius entende, para, segura o seu rosto tocando o canto dos seus lábios com os polegares, sussurra: — Vamos dar motivos para comentarem. — Então ele beija-a, um beijo cheio de desejo, acaricia as suas costas a levantando no ar, Alice sente-se queimar, um calor subir-lhe pelo corpo. Como poderia se arrepender ou estar infeliz com algo assim tão bom? Tantas descobertas e sentimentos novos em tão pouco tempo. Se separam quando lhes falta o ar.
Vinícius: — Ainda nos olham?
Alice: — Sim. Disfarçadamente mais sim!
Quando entram, algumas crianças vêm correndo ao encontro deles, chamando pelo tio Vini, o abraçam a pedir por histórias, o que ele promete contar depois do jantar dizendo que terão uma surpresa, pois ele e tia Alice têm histórias novas. As crianças ficam curiosas, tratam Alice de tia e não a julgam o que a faz sentir-se bem.
Marcos chama Vinícius para se exercitar, Alice vai para o quarto pensando o que poderia fazer para ajudar seu marido.
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Atualizado até capítulo 51
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