Natalie Ramos
Enquanto saíamos da clínica, o silêncio entre nós era quase opressor. Eu sabia que Ethan tinha algo em mente, algo que provavelmente mudaria as regras do jogo. O vento frio de Nova York batia no meu rosto, mas o gelo vinha de dentro. Eu tentava me manter firme, mas a sensação de que tudo ao meu redor estava prestes a desmoronar me consumia.
Ethan abriu a porta do carro para mim, um gesto cavalheiresco, mas que parecia mais uma formalidade do que um ato de gentileza genuína. Ele se acomodou ao meu lado, e o motorista iniciou o trajeto de volta para sua casa. Eu sabia que a "conversa" sobre o contrato que ele mencionou mais cedo estava prestes a acontecer. Meu coração batia forte no peito, mas mantive minha expressão o mais neutra possível.
— Natalie — ele começou, a voz baixa, mas carregada de intenções. — Há algo que precisamos discutir antes que o processo avance.
Meus olhos se fixaram nas mãos entrelaçadas em meu colo, tentando me preparar para o que estava por vir.
— O que exatamente? — perguntei, tentando manter o tom controlado, mesmo que por dentro estivesse prestes a explodir.
Ele respirou fundo, como se estivesse escolhendo bem suas palavras, o que não era típico de Ethan. Normalmente, ele era direto, sem rodeios.
— A questão da guarda da criança, depois do nascimento. Eu quero ter certeza de que estamos na mesma página.
Levantei o olhar para ele, surpresa. Não era o que eu esperava ouvir. Até agora, tudo tinha sido centrado no acordo financeiro, nas condições médicas e nos preparativos para a gravidez. Mas a guarda... Eu achava que isso só seria discutido mais tarde.
— Eu imaginei que a criança ficaria sob sua custódia, como tínhamos combinado no contrato inicial — respondi, ainda tentando processar aonde ele queria chegar.
— Sim, a custódia principal será minha. Mas preciso garantir que, no futuro, não haja complicações legais. Quero ter certeza de que você entende o que isso significa. — Ele me olhou com intensidade, quase como se estivesse me avaliando.
Eu engoli em seco. Ele estava falando de algo muito maior do que eu havia pensado. Ethan queria que eu abrisse mão, de forma definitiva, de qualquer direito sobre o bebê. Um frio percorreu minha espinha ao entender a magnitude do que estava sendo exigido.
— Ethan... Eu entendo que esse era o acordo. Mas, depois que a criança nascer, como você espera que eu... simplesmente vá embora e finja que nada aconteceu? — minha voz falhou um pouco no final, apesar de eu tentar manter o controle.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos penetrantes fixos nos meus. Havia uma dureza neles, mas também algo que eu não conseguia decifrar completamente.
— Natalie, nós dois sabemos que isso é mais do que um simples acordo de negócios. Mas não posso permitir que sentimentos pessoais interfiram no que é melhor para a criança. — Sua voz era firme, quase fria, e isso me cortou profundamente. — Não estou pedindo para você desaparecer. Mas as coisas precisarão ser claras desde o começo.
Eu não sabia o que dizer. Parte de mim queria discutir, dizer que ele estava sendo irracional. Mas a outra parte entendia sua lógica. Ethan sempre operava em termos de controle absoluto. E, no fundo, eu sabia que me envolver emocionalmente com essa criança complicaria tudo, especialmente em um acordo com ele.
— Eu... vou precisar de tempo para pensar sobre isso — murmurei, desviando o olhar para a janela. As luzes da cidade piscavam do lado de fora, mas tudo parecia tão distante.
— Eu entendo. — Ele fez uma pausa antes de acrescentar, em um tom mais suave. — Não estou tentando ser insensível, Natalie. Sei que essa situação é difícil. Mas temos que ser racionais sobre isso.
Racionais. Como se fosse possível ser totalmente racional em algo assim.
Quando chegamos à casa de Ethan, o desconforto que eu sentia desde o café da manhã tinha se tornado uma espécie de nó na garganta. Antes de entrar, parei no jardim, respirando fundo o ar fresco da noite. Ele me observava de perto, talvez esperando que eu dissesse algo, mas as palavras pareciam fugir de mim.
— Vamos resolver isso — ele disse, com uma convicção que eu ainda não tinha.
Eu acenei, mas não tinha certeza se acreditava nisso. O peso da decisão me oprimia, e eu sabia que, de qualquer forma, algo dentro de mim já estava mudando.
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Atualizado até capítulo 104
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