Capítulo 8

Ethan Black

Ethan ficou parado, encarando a escuridão que se estendia além das luzes da cidade. A sensação de controle, que sempre o acompanhou, parecia cada vez mais distante. Ele odiava a ideia de perder o domínio sobre qualquer aspecto da sua vida, mas algo sobre essa situação com Natalie estava lhe tirando o equilíbrio. Ele havia planejado tudo cuidadosamente, desde o contrato até as cláusulas mais específicas, mas, mesmo assim, havia uma inquietação crescente que ele não conseguia ignorar.

"Por que ela?", ele se perguntava. Havia milhares de mulheres que poderiam ter aceitado o acordo sem hesitar. Mulheres que talvez vissem aquilo como uma transação fria e sem envolvimento emocional. Natalie, no entanto, o desafiava de formas que ele não previa. Havia uma vulnerabilidade nela que, por mais que tentasse, ele não conseguia ignorar. Ela o lembrava de coisas que ele preferia manter enterradas.

Ele se afastou da janela, andando pelo vasto espaço da sua sala, o eco de seus passos suaves no piso de mármore. Tentou afastar os pensamentos sobre seu pai. As palavras de William sobre controle e legado sempre o irritavam profundamente. Ele não precisava de lições de um homem que passara a vida manipulando tudo e todos ao seu redor. Ethan queria fazer isso do seu jeito, construir algo para si, sem as interferências do passado. Mas a verdade era que, de uma maneira ou de outra, o passado continuava a se infiltrar em cada uma de suas decisões.

Seu celular vibrou novamente, mas dessa vez era uma mensagem do seu advogado, confirmando que Natalie havia assinado o contrato.

"Já era esperado", ele pensou, sentindo uma satisfação momentânea. Agora, tudo estava oficializado. Natalie estava presa ao acordo, e o próximo passo seria colocar o plano em prática.

Ele digitou rapidamente uma mensagem para sua equipe administrativa, agendando as próximas reuniões e coordenando a logística de tudo o que viria a seguir. Natalie teria que passar por exames médicos, acompanhamento de especialistas e um processo rigoroso que garantiria que tudo fosse feito com a precisão que ele exigia. Não haveria espaço para erros.

Mas, mesmo enquanto tomava essas decisões friamente, algo continuava a perturbá-lo. O contrato estava assinado, e ela havia aceitado todos os termos. Então, por que ele sentia que as coisas estavam longe de estar resolvidas?

A imagem de Natalie lendo as cláusulas voltou à sua mente. A forma como ela mordia o lábio inferior, concentrada, a maneira como seus olhos ocasionalmente se levantavam para encontrá-lo, como se estivesse tentando entender suas motivações. Ele odiava essa sensação de estar sendo analisado, de ser vulnerável aos julgamentos de outra pessoa. Ainda assim, a honestidade no olhar dela o desarmava.

Ethan sabia que havia algo nela que ia além da simples necessidade financeira. Por mais que ela tivesse aceitado o acordo pelos motivos certos, ele não conseguia evitar a sensação de que Natalie estava igualmente curiosa sobre ele. Isso poderia ser um problema.

Ele se forçou a voltar ao racional. O contrato havia sido cuidadosamente elaborado para cobrir qualquer eventualidade. Cada cláusula foi projetada para garantir que ele mantivesse o controle absoluto da situação. Ele até incluíra um detalhe específico que o tranquilizava: Natalie não poderia se envolver emocionalmente. Eles estavam ali apenas para conceber um filho, e ele havia deixado isso muito claro.

Lembrando das cláusulas, ele se aproximou de sua mesa e pegou o contrato. Ele sabia o conteúdo de cor, mas folheou as páginas com uma precisão metódica. O documento era frio, formal, exatamente como ele queria que fosse.

Cláusula 1: O objetivo principal deste contrato é o nascimento de um herdeiro biológico para Ethan Black.

Cláusula 2: A relação entre as partes será estritamente profissional, e nenhum envolvimento emocional é permitido.

Cláusula 3: Natalie Ramos receberá compensação financeira em três partes: ao assinar o contrato, ao engravidar, e após o nascimento da criança.

Cláusula 4: A criança será criada sob tutela exclusiva de Ethan Black, com visitas e contato regular estipulados em acordo a ser revisado.

Cláusula 5: Nenhuma das partes pode expor publicamente os termos deste contrato ou revelar a natureza do acordo.

E assim continuava, cada linha friamente calculada para proteger os interesses de Ethan e manter a ordem que ele tanto prezava.

Mas havia algo na cláusula sobre "envolvimento emocional" que o incomodava. Ele sabia que não podia controlar os sentimentos humanos tão facilmente quanto controlava seus negócios. E, por mais que tentasse, algo no olhar de Natalie dizia que isso poderia se complicar. Ele havia se blindado emocionalmente, mas será que ela faria o mesmo?

Ethan fechou o contrato, apertando os dedos sobre o papel. Não importava. Ele não deixaria que sentimentos interferissem. Natalie era apenas uma parte do plano. Eles teriam um filho, ela seguiria sua vida com a quantia acordada, e ele garantiria que seu herdeiro recebesse tudo o que ele não havia tido na infância: estabilidade, segurança, e, acima de tudo, controle.

Sua mente voltou à reunião com Natalie. Ele conseguia ver o brilho determinado nos olhos dela, mas também percebeu o leve tremor nas mãos quando ela assinou o documento. Ela estava entrando em algo muito maior do que podia imaginar, e Ethan sabia que ela ainda não entendia completamente o que aquilo significaria para ambos.

A campainha tocou, interrompendo seus pensamentos. Sem esperar por ninguém, Ethan franziu o cenho e se dirigiu até a porta. Ao abri-la, foi surpreendido por Natalie, que estava parada ali, segurando um envelope branco nas mãos. Seu rosto estava pálido, mas seus olhos firmes o encararam com uma mistura de determinação e incerteza.

— Preciso falar com você — ela disse, sua voz firme, mas com uma leve hesitação.

Ethan sentiu uma pontada de curiosidade e algo mais que ele não queria admitir. Ele a estudou por um momento, tentando entender o que a havia trazido ali, àquela hora da noite. Algo havia mudado, e ele sabia que essa conversa poderia ser o início de complicações que ele não havia previsto.

— Entre — ele disse, sua voz calma, mas com uma tensão no ar.

Enquanto ela passava pela porta, ele soube que o controle que tanto prezava estava prestes a ser testado de uma maneira que ele nunca havia experimentado antes.

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