Capítulo 8

Marlene chegou muito emocionada ao palácio, mas não tardou a cair na realidade quando em suas primeiras aulas fracassou nas tarefas que os professores lhe colocaram para fazer. Eram as mesmas aulas que Valerian teve ao iniciar seu treinamento, por isso eram as mais básicas.

— O pai dela garantiu à rainha que ela era uma dama inteligente e pronta para isso, mas não deu uma única resposta correta. — ralhou o professor de história.

Marlene permanece com o olhar para baixo, quase chorando pelas repreensões do professor, pois com ele, já eram quatro professores que a repreendiam por seu desempenho tão medíocre.

— Não entendo, por que tem que haver tantas aulas por dia?, ninguém consegue aprender tudo num instante… — queixa-se.

— Sua irmã, a senhorita Valerian, nunca reclama e presta atenção às aulas. Sua família deveria se envergonhar de ter uma filha como você. —

E assim, passou a professora seguinte, sendo esta a encarregada dos modos, mas eram péssimos, já que não falava com o devido respeito aos seus mais velhos e superiores. No final, Marlene saiu chorando do salão, disseram-lhe que à sua idade já deveria saber o mais básico. A professora de etiqueta até a criticou pela forma como se dirigia aos outros, agia com tanta confiança que a fazia parecer vulgar. Os gêmeos que tinham ido vê-la, ouviram tudo o que Marlene passou nas suas primeiras aulas e não hesitaram em discutir com os professores. A rainha foi informada da falta de respeito dos gêmeos, por isso os mandou chamar.

— No meu palácio, um par de jovenzinhos não virá gritar com o meu pessoal, por acaso o Marquês não os educou?, surpreende-me que uma dama tão sofisticada como a senhorita Valerian tenha saído de uma casa de selvagens. — fala a rainha com firmeza, estava totalmente furiosa.

— E-esses professores foram muito rudes com a nossa irmã, isso não…—

— Esse é o trabalho deles. Arrumem as suas coisas, essa mocinha não serve para ser educada no palácio, e digam ao pai de vocês que a minha decisão é definitiva, Valerian Lacaster será a minha sucessora. —

Dito isto, a rainha ordenou que escoltassem os irmãos Lacaster para fora do palácio e que o mensageiro a procurasse em seu gabinete, porque tinha uma carta para enviar ao Marquês. Os gêmeos olham-se um para o outro, ambos estavam chateados com a forma como a rainha os tinha repreendido, para eles, era injusto que tratassem Marlene daquela maneira quando ela se estava esforçando e mal estava tendo as suas aulas básicas.

A rainha caminha em direção ao seu gabinete e Marlene a alcança pedindo para ouvi-la.

— Majestade, não é justo, tudo o que os professores me pediram para fazer é muito difícil, é para um nível muito avançado e eu…—

— Tudo isso se aprende desde a infância. Ouvi dizer que você vem de uma família nobre, por acaso não lhe deram educação? — pergunta a rainha.

— S-sim, mas eu… eu não sei muito… tudo é difícil…— Seus olhos já estavam chorosos.

— As suas lágrimas não resolvem nada, eduque-se e talvez encontre um compromisso decente, porque a minha decisão não muda, a esposa de Callisto Valencia será Valerian Lacaster. — responde com firmeza.

Dito isto, a rainha segue seu caminho e quando Marlene quer segui-la, as donzelas impedem-na. Marlene não tem outra escolha senão retirar-se, mas, aperta as mãos na saia do vestido, incomoda-a que o tempo todo digam que Valerian é melhor do que ela, sempre a usam como exemplo, quando na realidade Valerian é apenas a filha indesejada da família Lacaster e a culpada pela morte da marquesa, por culpa dela, os gêmeos cresceram sem o amor de uma mãe.

Marlene mal pôde ficar dois dias no palácio, e isso não tardou a se saber entre as senhoritas, as quais não hesitaram em falar mal da moça e do seu aparente fracasso ao tentar tirar-lhe o compromisso de Valerian, mas, só conseguiu demonstrar o quão inútil era e isso, agora até a rainha sabia, por isso, mesmo que se arrastasse perante o príncipe, não conseguiria nada.

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Por outro lado, Maddy contava o que ouviu no reino quando foi com o mordomo levar os tecidos a uma das boutiques, lá as senhoritas falavam do fracasso de Marlene na sua tentativa de entrar no palácio e como a rainha colocou a moça no seu lugar juntamente com os gêmeos, que ousaram faltar com o respeito à rainha.

— A rainha não gostou daquela pirralha? — pergunta com curiosidade.

— Não, mandou que a levassem ao palácio, mas, ao não cumprir com os requisitos da rainha, foi expulsa no segundo dia. É óbvio que ela não se compara à senhorita. — conta Maddy.

— Dou-te razão nisso. — vangloria-se Valerian.

Ambas riem um pouco, enquanto Valerian termina de rever a entrega de tecidos no reino. Também já estava a ver a distribuição noutros reinos, mas o difícil era o transporte, precisava contratar gente de confiança e escoltas para evitar os bandidos, o que seria dispendioso, especialmente porque o seu pai não enviou cavaleiros com ela, parecia que até nesse ponto, o seu pai planejava abandoná-la.

— E se pedir ajuda ao príncipe?, ele trouxe bastantes homens consigo. — sugere Maddy.

— Não quero dever-lhe nada, além disso, não confio nele… é amigo dos gêmeos… —

E Valerian tinha a ideia de que ele também era chegado a Marlene, por isso não era conveniente confiar nele. Porque talvez por agora ele se mostrasse interessado nela, mas assim que tivesse proximidade com Marlene, ficaria cego de amor por ela.

— Bom… mas contratar cavaleiros é difícil… especialmente porque não é fácil confiar neles. — Maddy deixou escapar um pesado suspiro.

— Terei de encontrar uma forma de solucionar este problema. —

E é que embora ela mesma se considerasse forte, nunca tinha experimentado enfrentar vários rivais, os bandidos às vezes costumavam ser formados por grupos de mais de cem homens, para poderem cumprir com a sua missão de roubar os nobres que viajavam acompanhados pelas suas escoltas. Embora desta vez pudesse tentar pedir ajuda a Callisto, não poderia fazê-lo sempre e não queria dever-lhe nada.

Por enquanto, teria de encontrar uma forma de viajar sem correr perigo. Inclusive chamou Walter para perguntar pelos guardas da mansão, pois estes não eram muitos e não os podia levar numa viagem deixando a mansão desprotegida.

— Temos um total de duzentos cavaleiros, são os mais jovens que o Lorde treinou. — responde Walter.

— São muito poucos para a viagem, a mansão não pode ficar sem proteção e, não sei o quão bons eles são em batalha… — Valerian estava pensativa.

— Senhorita, os cavaleiros são ágeis guerreiros, treinados em magia e combate, garanto-lhe que são os melhores protetores que a senhorita pode ter. — assegura Walter.

— Não duvido, mas, se os levar, quem protege a mansão?, não os quero expor, o pessoal desta mansão tem sido amável comigo desde que cheguei e eu sentiria-me envergonhada perante o meu avô se algo lhes acontecesse. —

Seria uma desonra deixar que o pessoal que a tinha tratado bem fosse ferido, já que não se sabia em que momento poderiam tentar entrar ladrões na mansão, especialmente se descobrissem que não havia guardas.

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A viagem planeada estava a ser adiada, já se passavam três dias sem saber o que fazer, contratar pessoas novas não era muito confiável, especialmente durante uma viagem. Valerian estava na biblioteca, perdida nos seus pensamentos.

— Ouvi falar do seu problema, já pensou em confiar um pouco no seu futuro marido? — pergunta com curiosidade.

— Confiar-lhe a minha vida?, por que o faria?, não somos assim tão chegados. — Valerian realmente não queria recorrer a ele.

— Porque sou seu noivo, deve aprender a confiar em mim, passaremos a nossa vida juntos num futuro não muito distante. — já estava sentado na secretária.

— Não confio em você, mas… talvez não tenha outra escolha, o sucesso do meu negócio depende desta viagem… — franze os lábios e aperta as mãos.

O que ela menos queria, era a melhor opção no momento.

— Perfeito, mostrar-lhe-ei que sou confiável, irei e levarei comigo os meus melhores cavaleiros. — assegura Callisto com um leve sorriso.

Para o príncipe, esta era a sua oportunidade de se aproximar um pouco mais de Valerian e de se conhecerem melhor, porque pressentia que a Valerian que conheceu por pouco tempo na mansão Lacaster, não passava de uma atuação para passar despercebida na sua família.

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