O Primeiro Beijo

Os dias estão passando rapidamente. Maria Alice e Armando têm saído juntos com frequência. Almoçam em restaurantes charmosos, às vezes jantam em lugares aconchegantes, e até curtiram noites descontraídas em barzinhos com amigos. Já foram ao cinema e, como era de se esperar, houve certa comoção entre os amigos mais próximos — todos estavam curiosos para saber se algo havia acontecido entre eles. A verdade é que eles estavam cada vez mais envolvidos, e a cada encontro sentiam que estavam construindo algo especial.

Na noite anterior, finalmente aconteceu o tão esperado momento: o primeiro beijo.

Maria Alice estava radiante naquela manhã, ainda sentindo a euforia daquele instante mágico. Ela jamais imaginou que um simples beijo pudesse mexer tanto com ela. Foi como se tivesse revivido as emoções de uma adolescente apaixonada, mesmo nunca tendo experimentado algo assim com tamanha intensidade antes.

O beijo fora perfeito. Armando a olhou nos olhos com suavidade, sorrindo de forma encantadora. Seus dedos deslizaram pelos fios de cabelo dela, que ele ajeitou atrás da orelha com delicadeza. A aproximação foi lenta, como se o tempo tivesse desacelerado para que ambos pudessem aproveitar cada segundo. Quando seus lábios se tocaram, foi um gesto sutil, mas cheio de significado. Depois do beijo, ele a envolveu em uma série de selinhos carinhosos que a fizeram suspirar. Ela nunca havia sentido algo tão envolvente e genuíno.

Após o beijo, Armando a surpreendeu ainda mais.

— Namora comigo? — ele perguntou, com um brilho sincero no olhar.

Ela riu, mas corou instantaneamente.

— Somos casados, lembra? — respondeu Maria Alice, tentando disfarçar a timidez.

— Sim, mas nunca namoramos e nem noivamos. Quero fazer tudo isso, pela primeira vez, e quero que seja com você. — A sinceridade nas palavras dele a tocou profundamente.

Maria Alice ficou sem palavras. Por um momento, tudo parecia um sonho bom. Mas decidiu ser honesta e compartilhar algo que vinha guardando dentro de si:

— Eu nunca havia recebido um beijo assim... — confessou, abaixando os olhos. — Foi a primeira vez que senti algo verdadeiro. Tenho 22 anos, e ainda sou virgem. Nos últimos dias, saí com você mais vezes do que saí com meu ex-namorado em quase quatro anos de relacionamento. Ele nunca se importava em me levar para sair, e nossos encontros aconteciam sempre na casa dele ou na minha. Quando íamos à casa dos pais dele, era sempre com segundas intenções... Como se estivesse na hora de "avançarmos".

Ela fez uma pausa para respirar fundo, lembrando-se do passado.

— Quando fiz 18 anos, meu avô me deu uma cobertura, e logo me mudei. Mas Derek queria morar comigo. Ele aparecia sem avisar e tentava passar a noite, sempre dizendo que era "para fazer companhia". Era sufocante. Agora, pensando bem, percebo que ele sempre levava Fernanda junto quando ia me encontrar, como se fosse natural. Nunca dei espaço para eles sozinhos, mas havia algo estranho ali. Ele insistia que devíamos abrir uma poupança conjunta ou que eu deveria entrar como sócia na empresa da família dele. Só que meu avô sempre me orientou e me manteve informada sobre tudo. Eu sabia que a situação financeira deles não era boa, por mais que Derek tentasse fingir o contrário.

Armando a ouvia com atenção, cada palavra dela o deixava mais conectado e mais determinado a protegê-la.

— Obrigado por compartilhar isso comigo, Maria Alice — disse ele, apertando de leve a mão dela. — Saiba que eu não tenho pressa. Estou aqui por você, e quero que as coisas aconteçam no seu tempo. Ah, e preciso confessar algo: esse foi o primeiro beijo que eu dei por vontade própria. Antes, eu só era beijado, mas nunca havia desejado beijar ninguém... Até você.

Maria Alice sorriu emocionada, sentindo-se segura ao lado dele.

— Sobre o Derek... — continuou Armando, hesitante. — Eu já sabia de algumas coisas. Ele e os pais dele tentaram negócios comigo, pediram empréstimos... E, infelizmente, eu já o vi várias vezes com Fernanda. Ele a apresenta como se fosse a noiva dele. Sinto muito por isso.

As palavras de Armando caíram como uma bomba para Maria Alice. Ela mal podia acreditar na deslealdade de Derek, e as peças começaram a se encaixar. No entanto, a revelação mais surpreendente ainda estava por vir.

— Tem mais uma coisa, Maria Alice... Derek é adotado.

Ela ficou chocada. Nunca imaginou que algo assim fosse possível e, de repente, tudo começou a fazer sentido. As atitudes dele, a forma como ele sempre tentou se agarrar a qualquer oportunidade para se manter financeiramente seguro... Derek parecia estar em constante busca por validação e estabilidade, algo que talvez tivesse faltado em sua infância.

Armando fez uma pausa. Não queria sobrecarregá-la, mas havia algo mais que ele precisava dizer.

— Ainda não é o momento certo para falar sobre isso, mas quero que saiba que estou preocupado com sua segurança. Seu pai apareceu algumas vezes no hotel enquanto eu estava lá e tentou se aproximar de mim, como se quisesse forçar uma amizade. Vi dois homens conversando com ele... Pareciam seguranças do cassino.

Maria Alice franziu a testa, preocupada.

— Você acha que ele está envolvido com algo perigoso?

— Não sei ao certo, mas estou atento. Conversei com John, e ele está ciente da situação. Por isso, também decidi trabalhar com você no hotel três vezes por semana. Nos dias em que não estou lá, seu avô e a equipe de segurança ficam de olho. Temos até seguranças à paisana ocupando cargos estratégicos.

Maria Alice sentiu um alívio ao saber que Armando e seu avô estavam protegendo-a, mas também ficou apreensiva com as intenções de seu pai.

— Ele tem insistido para que jantemos na casa dele, Armando continuou. — Não confio nele, muito menos na esposa dele, mas propus que o jantar fosse na minha casa. Ele perguntou se meus pais estariam presentes, e eu disse que sim.

— Então vamos convidar mais gente. — sugeriu Maria Alice, sorrindo. — Assim, não precisamos ficar sozinhos com eles.

— Perfeito. — concordou Armando. — Vamos chamar nossos amigos para tornar a noite mais leve.

Eles passaram o resto da tarde organizando os convites, e a presença dos amigos lhes trouxe um sentimento de segurança e conforto. Sabiam que, juntos, poderiam enfrentar qualquer desafio que estivesse por vir. A história de Maria Alice e Armando estava apenas começando, mas ambos estavam dispostos a construir algo verdadeiro, mesmo em meio aos obstáculos e sombras do passado.

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