Saindo da casa dos pais de Armando, o celular de Maria Alice tocou. Ela olhou para o visor e reconheceu o número. Com um suspiro cansado, silenciou a chamada, sentindo um desconforto crescente no peito.
— Não vai atender? — Armando perguntou, percebendo o comportamento estranho da esposa.
— Não agora. É... posso ligar mais tarde — respondeu ela, evitando contato visual.
O telefone voltou a tocar, e, mais uma vez, Maria Alice o silenciou, tentando disfarçar a inquietação que a tomava. Armando não insistiu, mas algo lhe dizia que aquela ligação tinha mais significado do que ela deixava transparecer.
Assim que chegaram à mansão, ele convidou Maria Alice para entrar. A moça hesitou por um instante, mas acabou aceitando. Ao atravessar a porta principal, foi surpreendida pela elegância e sofisticação do lugar. Cada detalhe na decoração exalava luxo e bom gosto, e ela se perguntou se Armando teria escolhido tudo sozinho.
— Pode se sentar. Fique à vontade — disse Armando, com um sorriso convidativo. — Quer beber alguma coisa?
— Sim, por favor — respondeu ela, ainda nervosa e sentindo as mãos suadas.
Armando percebeu seu nervosismo e, sem dizer nada, serviu uma taça de vinho tinto e a entregou a ela. Sentou-se na poltrona em frente à moça e observou-a por um momento.
— Então, vamos ao que interessa — disse ele, direto. — Você mencionou que precisava falar sobre sua família. Especialmente sobre seu pai e avô.
Maria Alice suspirou, tomando um gole do vinho para relaxar.
— Sim... Vou ser sincera com você, Armando. Preciso que entenda tudo antes que possamos seguir em frente.
Ele fez um gesto para que ela continuasse, ouvindo atentamente.
— Minha mãe faleceu quando eu era pequena. Meu pai casou-se novamente, e a esposa dele, minha madrasta, já tinha uma filha, a Fernanda. No começo, eu achava que eles me tratariam bem, mas logo percebi que não seria assim.
Maria Alice olhou para o fundo da taça, relembrando memórias dolorosas.
— Meu avô queria que eu fosse morar com ele, mas eu era criança e preferi ficar com meu pai. Foi um erro. Meu pai nunca se importou com o que minha madrasta e a Fernanda faziam comigo. Ele via, mas nunca me defendia. Fernanda me batia, inventava mentiras sobre mim, e eu vivia de castigo. A única razão pela qual continuei indo ao colégio foi porque meu avô pagava minhas mensalidades e a diretora sempre avisava a ele se eu faltasse.
Armando franziu a testa, sentindo um incômodo crescer em seu peito ao ouvir a história de Maria Alice.
— Quando comecei a namorar o Derek, todos achavam que ele era o cara ideal. Até eu acreditava nisso, até descobrir a traição dele. Meu pai estava ansioso para que eu me casasse, não porque se importava comigo, mas porque Derek poderia ajudá-lo a expandir os negócios da família dele.
Ela fez uma pausa, respirando fundo para afastar a tristeza que ameaçava dominá-la.
— Quando fiz 18 anos, meu avô me deu uma cobertura. Foi minha salvação. Finalmente saí da casa do meu pai e consegui um pouco de paz. Derek tentou me convencer a não me mudar, e, quando viu que não havia como impedir, ele quis morar comigo. Meu avô, claro, não permitiu. Então, Derek começou a pressionar para casarmos antes de eu completar 21 anos.
Armando balançou a cabeça, indignado.
— E o que seu pai fez? — perguntou ele.
— Meu pai apoiava o Derek em tudo. Mas meu avô disse que eu só me casaria depois de terminar os estudos. Derek ficou obcecado, fez chantagens emocionais e até mentiu que a mãe dele estava doente para me apressar. Só que meu avô descobriu a mentira.
Maria Alice olhou para Armando, seus olhos brilhando com lágrimas contidas.
— Por isso, quero contar sobre o nosso casamento primeiro ao meu avô. Ele sempre cuidou de mim. Meu pai não pode saber agora. Não quero que ele use isso contra mim.
Armando se aproximou, pegando as mãos dela entre as suas.
— Entendo, Maria Alice. Podemos dizer que estamos namorando por enquanto. Vamos convencer todos até que seja o momento certo de contar a verdade.
Maria Alice se surpreendeu com o gesto, mas também se sentiu reconfortada pela atitude dele. Depois de terminarem o vinho, ele a convidou para passar a noite ali, mas ela recusou gentilmente.
— Preciso ir para casa. Tenho trabalho cedo e não trouxe roupas extras — explicou ela, sorrindo de leve.
— Está bem. Mas, por favor, me avise quando chegar.
Quando entrou no elevador, o celular tocou novamente. Dessa vez, era seu pai. Ela suspirou e atendeu.
— Finalmente! Onde você estava? — a voz do pai soou ríspida do outro lado da linha.
— Oi, pai. Eu...
— Seu noivo está preocupado! Você não foi à prova do vestido e deixou sua irmã e Derek te esperando. O que você pensa que está fazendo? — ele a interrompeu, irritado. — Quero você aqui amanhã para esclarecer tudo!
Antes que Maria Alice pudesse responder, ele desligou abruptamente.
Ao entrar em casa, ela fechou a porta e começou a chorar. Sentia-se sufocada pela pressão de todos à sua volta. Seu telefone vibrou, interrompendo seus pensamentos. Era uma mensagem de Armando: “Chegou bem?”
Em meio às lágrimas, ela sorriu. A gentileza dele trouxe um breve conforto. Respondeu rapidamente: “Sim. Boa noite.”
Depois de tomar um banho quente e vestir uma camisola confortável, Maria Alice deitou-se na cama. Exausta, adormeceu logo após encostar a cabeça no travesseiro.
O despertador tocou, e Maria Alice se levantou devagar. Tomou outro banho para despertar e escolheu um terninho preto com detalhes brancos. Combinou a roupa com uma camisa branca e sapatos elegantes. Fez uma maquiagem leve, usou um batom nude e deixou os cabelos soltos, o que a deixava ainda mais encantadora.
No trabalho, foi recebida com um abraço caloroso de seu avô, John Alfred Saint Germain, que acabara de chegar de viagem. Ele a chamou para conversar em sua sala, onde exibiu algumas fotos no tablet.
— Você está linda, minha querida — elogiou ele, sorrindo orgulhoso.
John era um homem impressionante para seus 61 anos. Inteligente e perspicaz, ele sempre soubera das dificuldades que Maria Alice enfrentava na casa do pai. Por isso, a tirou de lá assim que pôde.
— Precisamos conversar sobre Derek — disse ele, sério.
Maria Alice assentiu, sabendo que não poderia esconder nada do avô.
— Ele não é quem parece ser, e você sabe disso. E agora você se casou com um Walton... Precisamos ter cuidado com como lidamos com isso.
Ela contou tudo ao avô, desde a cerimônia secreta com Armando até sua decisão de não revelar o casamento ainda.
— Vou te acompanhar até a casa do seu pai — decidiu John.
— Não, vovô. É melhor eu ir sozinha. Quero resolver isso por mim mesma.
Depois de alguma insistência, ele concordou, mas com uma condição:
— Quero que me ligue assim que sair de lá. E lembre-se, qualquer coisa que precisar, estarei por perto.
Com um último abraço, Maria Alice saiu determinada a enfrentar o pai e, finalmente, começar a escrever seu próprio destino.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 73
Comments
Elis Alves
E vc vendo essa mentira, tendo um QI acima da média, não se tocou que era uma furada?
2025-03-06
6
Josanice Vanderlei
É muito difícil se livrar de pessoas manipuladoras!
2025-03-08
0
Marli Batista
Eita que agora vai pega fogo
2025-03-19
0