A decepção na noite

O relógio na parede da mansão Barone marcava pouco mais de duas da manhã quando Isabella acordou. Algo a havia despertado, talvez um barulho distante, mas alto o suficiente para tirá-la de seu sono. Ela se levantou

lentamente, o silêncio da casa tão pesado. Isabella passou a mão pelos cabelos enquanto descia as escadas, ainda meio adormecida, até que um som abafado e desajeitado quebrou a tranquilidade da noite.

Quando ela chegou ao hall de entrada viu seu irmão, Matteo, estava parado perto da porta, tentando se equilibrar enquanto tirava os sapatos. O cheiro forte de álcool e cigarro tomou conta do ar, e Isabella imediatamente percebeu que ele estava completamente embriagado.

—  Matteo? —  Ela chamou, tentando manter a voz calma, embora por dentro estivesse fervendo de preocupação e raiva. —  O que você está fazendo a essa hora? Onde você esteve?

Matteo levantou a cabeça, piscando algumas vezes para focar os olhos na irmã. —  Ah, Bella... minha

doce Bella, —   ele murmurou, arrastando as palavras. —  Não se preocupe comigo... tá tudo bem...

Isabella cruzou os braços e deu um passo à frente, o rosto duro. —  Você está bêbado, Matteo. Onde você esteve? E quanto você perdeu desta vez?

Matteo riu, mas não era um riso de alegria; era amargo, quase desesperado. —  Por que você sempre

acha que eu perco? —  ele respondeu, tentando manter o tom leve, mas sem sucesso. —  Eu sei o que estou fazendo, Bella. Só... só confia em mim.

Ela se aproximou mais, sentindo o cheiro forte da bebida que emanava dele. Seu coração estava apertado. —  Matteo, para com isso! Me diz quanto você perdeu!

Matteo balançou a cabeça lentamente, seus olhos evitando os dela. —  Não... não se preocupe com isso, tá? Eu vou resolver... eu sempre resolvo.

—  Resolver? —  Isabella repetiu, incrédula. —  Você diz isso toda vez, e cada vez a situação só piora! A gente não tem mais nada, Matteo! E o pouco que nos resta, você está jogando fora!

Ele suspirou, sentando-se pesadamente no sofá, seus ombros caídos como se o peso do mundo estivesse sobre eles. Ele olhou para as próprias mãos, incapaz de encará-la. —  Eu... eu vou dar um jeito, Bella. Prometo.

Isabella sentiu uma mistura de raiva e desespero tomando conta de si. —  Você pagou a hipoteca da

casa este mês? —  Ela perguntou, sua voz tremendo.

Matteo não respondeu. Ele simplesmente afundou no sofá, o olhar perdido em algum ponto distante da sala.

—  Matteo, me responde! —  Ela exigiu, a voz ficando mais alta, quase histérica. —  Você pagou a hipoteca ou não?

O silêncio dele foi como um soco no estômago. Isabella entendeu, naquele momento, que a situação era ainda pior do que ela imaginava. Ela deixou escapar um soluço, a realidade batendo com força. —  Você usou o dinheiro da hipoteca no jogo, não usou? Meu Deus, o que a gente vai fazer?

Matteo passou a mão pelo rosto, esfregando os olhos cansados. —  Eu... eu vou arrumar, Bella. Não se preocupa... por favor.

—  Não se preocupar? —  Isabella riu, mas o som saiu mais como um choro. —  Como você quer que eu não me

preocupe? A gente está prestes a perder a única coisa que nos resta, Matteo!

Ele tentou se levantar, mas o mundo girou ao seu redor, e ele caiu de volta no sofá, derrotado. —  Bella, eu vou dar um jeito... só preciso de tempo.

Isabella o olhou, vendo não só seu irmão, mas também os traços de seu pai nele. As mesmas promessas vazias, a mesma teimosia. Ela sentiu as lágrimas queimarem seus olhos, mas segurou-as. —  Eu não sei mais o que fazer, Matteo. Eu não posso continuar assim...

Matteo não respondeu. Ele já estava adormecendo, o corpo entregue à exaustão e ao álcool. Isabella ficou ali, parada, observando-o enquanto ele começava a roncar, completamente alheio ao caos que estava criando.

Finalmente, ela se afastou, limpando uma lágrima solitária que escorreu pelo seu rosto. Sentia-se impotente e perdida. Como poderiam sobreviver àquilo? Sem saber o que fazer, Isabella se dirigiu à janela da sala, olhando para a noite lá fora. O silêncio da mansão agora parecia mais pesado do que nunca, e ela se perguntou quanto tempo mais eles conseguiriam continuar vivendo assim.

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