CAPÍTULO 18

...CHRISTIAN...

Hoje faz uma semana que Olivia tem me evitado, me responde seco e mal me olha nos olhos. Estamos eu e Adenos descascando algumas canas para guardar o caldo para festa de hoje, a segunda-feira virou o dia em que eu dou festa em minha fazenda aberta aos outros fazendeiros e suas famílias.

— Patrão, é hoje que o Beto volta de férias, não é? — Adenor perguntou retirando a tampa do grande tambor onde guardamos o caldo.

— Merda, Adenor! — Eu falei olhando o relógio no meu pulso que marcava exatas dez da manhã. — Era pra eu ter buscado ele na rodoviária às nove horas...

Beto poderia ser o mais festeiro, mulherengo e bagunceiro de nós três, mas se tem algo que ele odeia são pessoas que não cumprem o que falam ou que se atrasam para um compromisso que o afete em algum quesito, inclusive mental.

— Ele vai ficar uma fera com você, Christian! — Adenor disse e saiu para trazer mais canas para descascarmos.

Eu não queria ter esquecido isso, geralmente eu sou bem pontual com as minhas coisas, mas, tem dias que na minha cabeça só vem uma mulher de cabelo preto... Minha mente só faz imaginar Olivia, com aquele belo sorriso e aqueles lábios com batom vermelho que eu adoraria saborear. E parece só piorar a cada ignorada que ela me dá, uns dois dias atrás eu a vi carregando um gato no colo, me aproximei e perguntei desde quando ela tinha aquele gato, ela me olhou, revirou os olhos e saiu batendo os pés com suas botas de couro. Eu já estou ficando sem ideias para descobrir o que houve para ela ter mudado tão rapidamente assim, eu não quero me magoar e nem magoar ela, mas quero ter ao menos sua amizade.

— Olha quem está do outro lado da cerca. — Adenor apontou com a cabeça na direção de Olivia e Sara.

As duas riam sem parar enquanto escovavam a égua. Olivia tentava não olhar para mim, e isso me doía de uma forma. Um cara bruto como eu sendo completamente ignorado por uma única mulher... É de ferir o coração do cowboy.

— EI, EU VOU MATAR VOCÊ!

Eu ouço alguém gritar na minha direção, apertei o facão que ainda estava na minha cintura, mas logo relaxei quando vi o homem de cabelo preto até o ombro e boné escrito "fazenda Lincoln" se aproximando de mim.

Ele me empurrou e fui segurado por Adenor. De longe eu vi Olivia encarar a situação estranha.

— Para de palhaçada, idiota!

Gritei com ele, nos encaramos por alguns segundos e logo depois estávamos nos abraçando.

— Caraca, você está mais forte, o que fez nesse tempo que eu estive fora, Chris? — Ele perguntou apertando meu braço. — E você Dedê, daqui uns dias suas calças irão estourar, o tamanho dessas pernas, se eu fosse mulher, pegava os dois!

Ouvi um estralo e logo depois Beto gritou de dor.

— Porra, Dedê! — Ele xingou tentando alcançar a parte das costas que foi atingida pelo pedaço de casca de cana.

— Não me chama desse apelido horroroso... — Adenor disse colocando mais canas na moedoura.

Essa era a nossa amizade de anos, todos implicando um com outro, mass logo rindo das bobeiras.

Estávamos colocando a conversa em dia, quando ouvimos risadas altas e leves gritos, o olhar de Beto varreu todo o terreno vizinho até parar onde Olivia e Sara estavam.

Meu coração acelerou com o fato de que ele está solteiro e ela... Também está...

— Nossa, parece que eu estou sonhando... — Ele disse tirando o boné e jogando o cabelo liso para trás. — Quem são aquelas beldades? — ele perguntou enquanto seu braço chacoalhava no ar.

— A de corpete rosa é Olivia Wadson, herdeira e atual dona da Fazenda Estrela e de todas as plantações e aquele ao lado dela, a mais baixa, é a Sara, amiga e administradora da fazenda. — Eu disse em tom baixo.

— Me fala que elas irão vir na festa. — Ele virou para mim. — Anda gente, respondam ou eu mesmo irei ir até lá e perguntar.

— Olha, você pode até ir lá, mas dê em cima apenas da mais baixa. — Adenor ordenou sem nos olhar.

Eu gelei por dentro, Adenor está gostando de Olivia? Não, ele teria me falado...

— Que isso em Dedê, e aquela sua frase "Nunca irei namorar" parou de usá-la? — Beto disse dando uns trapinhas nas costas de Adenor, que o olhava sério.

— Não sou eu quem estou gostando da Olivia! — Ele disse dando de ombros.

Jogou a bomba pra mim?

Meu amigo me olhou esperançoso e um pouco preocupado. Desde o que houve com Joyce, não me envolvi sério com ninguém e prometi diversas vezes na frente dos dois que eu nunca mais me apaixonaria novamente, mas Beto sempre disse que quando eu sentisse que estivesse na hora de eu ter alguém na minha vida, essa pessoas iria chegar e mudar totalmente a minha maneira de viver e de pensar.

— Eu não gosto dela, já falei para vocês pararem! Eu não vou me apaixonar de novo, que saco.

— Christian... — Beto se aproximou e passou um dos braços por cima do meu ombro, me fazendo virar totalmente na direção de Olivia. — Sente o seu coração, macho! Seus olhos estão brilhando só de olhar na direção dela, não adianta esconder, isso vai te machucar ainda mais.

Eu me soltei dele e entrei dentro da mansão.

Beto pode estar certo, eu tenho que escolher entre continuar nutrindo esse sentimento ou fazê-lo sumir, e eu escolho fazer ele sumir já que Olivia nem minha amizade quer.

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