CAPÍTULO 15

...OLIVIA...

A terça-feira de manhã começou linda, os galos cantavam por todo o lugar, o sol, a vitamina D perfeita, tomava conta de toda a fazenda. Eu estava na cozinha tomando café, não sabia quem havia preparado, vi um sino em cima da mesa e o toquei para ver o que acontecia, em questões de segundos, apareceram na minha frente um casal de aproximadamente cinquenta anos de idade.

— Bom dia, Sra. Wadson, me chamo João Martins, e eu sou o caseiro da plantação da fazenda estrela, e essa é a minha esposa, Rosa, ela é a cozinha e faxineira da mansão estrela. — Apertei a mão dos dois em um sorriso.

— Me chamem apenas de Olivia, ainda não me acostumei... Sentem, tomem café comigo! — Pedi apontando para a grande e farta mesa.

Os dois trocaram olhares por um tempo mas decidiram se sentar e se servirem.

— É estranho estar nessa mesa e tomar café aqui... — A dona Rosa falou acanhada.

— Não era assim antes? — Eu perguntei.

Precisava começar a entender como herdei tudo isso.

— Bom, nós nunca conhecemos o antigo dono. — O seu João falou balançando os ombros. — Estamos aqui a quatro anos, quando nos contratam, foi um advogado. Antes de nós, tinha outra família mas não chegamos a conhecê-los.

— Sim, esse senhor que era dono daqui, viveu anos trancado dentro de casa e quando saiu, uns dois anos atrás não voltou mais e só recebemos a notícia de que teríamos uma nova patroa.

— Isso é tão estranho para vocês mas, para mim é pior! Mas enfim, são só vocês dois?

— Não, senhora! — O olhei com repreensão os fazendo rir. — Olivia, temos dois filhos, Ícaro de vinte anos que é meio que capataz, ele cuida dos cavalos, bois e vacas e temos a Inara de vinte e cinco, ela era casada mas se separou do marido e voltou a morar conosco, ela ajuda minha esposa com o serviço de casa. — João concluiu ao beber sua xícara de café. — E os trabalhadores rurais e alguns que ficam no curral, são os que eu contrato de fora, a senhora me paga e eu os pago, para evitar gasto de assinar a carteira.

— Entendi João, muito boa sua logística.

Os dois são um casal muito simpático, espero que os filhos sejam do mesmo jeito.

[...]

O resto do dia foi bastante agradável, seu João foi comigo na caminhonete, me apresentou todas as plantações, conheci alguns de seus trabalhadores e paramos na sua casa. A mesma ficava no meio da roça, precisava de uma boa reforma e de novos móveis.

Paramos na sombra da pequena varanda que tinha na casa e tomamos água de coco que um dos peões havia oferecido.

— Seu João, irei separar um valor para o senhor reformar sua casa. — Ele me olhou esperançoso. — E enquanto reforma, o senhor e sua família podem ficar na mansão.

— Não, que isso dona... Só a reforma já esta bom, nos viramos aqui.

— Aceita, é um presente meu em nome do falecido dono. — Falei dando o último gole na água.

— Pai, não pode recusar presente, é falta de educação! — Uma voz de tom forte e suave ao mesmo tempo surge de dentro da casa. — Prazer, me chamo Ícaro, você é a Sra. Wadson, certo? — Ele estendeu a mão e eu a peguei afirmando com a cabeça.

Essa cidade só tem homem bonito? Adenor tem características indígenas, uma versão bem melhorada do nosso querido xamã, e tem esse Ícaro, pele parda e cheia de sardas pelo rosto e corpo, seu cabelo curto e castanho formava pequenos cachos de anjo desajeitados, um físico forte e mão firme sem ao menos se esforçar e um olhar encantador. Obviamente, não chegavam aos pés de Christian, vou confessar, ele sim faz totalmente o meu tipo, sem falar que é o único de altura boa para mim. Eu tenho um metro e setenta, se o cara não tiver no mínimo um e oitenta, prefiro nem tentar. Claro que, não quero tentar nada nem com Christian e nem com ninguém, após meu término com Lucas, a uns três anos atrás, fiquei apenas com algumas pessoas mas nada sério, lembrar dele e de como éramos felizes, me deixa bem. Eu não o amo mais, mas também não quero esquecer tudo que a gente passou, tudo o que vivemos de bom, de ruim, de mágico e espontâneo. Lucas sempre tirou o melhor de mim e eu me sentia a pessoa mais incrível desse universo quando ele estava comigo, pena que, a bolsa de estudos que que ganhou foi para fora do Brasil, e tanto eu como ele sabíamos que não dava certo namorar a distância, terminamos e deixamos nas mãos do destino.

[...]

Já estava quase anoitecendo, eu conheci toda a fazenda e plantação, me atualizei de tudo graças ao seu João e ao Ícaro.

Chegamos novamente na sede, estacionei a RAM e entramos na casa, vi de relance Christian deitado em uma das redes na varanda dele. Quando entrei na cozinha da mansão, senti um cheiro maravilhoso de lasanha, conhecia muito bem esse cheiro, minha comida favorita.

— Acabou de ficar pronta, sente-se! — Dona Rosa falou.

Minha mãe e Sara estavam eufóricas na mesa.

— Esperamos um tempo enorme... — Sara fala salivando.

— Isso parece estar divino, Rosa! — Minha mãe fala encarando a forma em cima da mesa.

— Minha mãe nasceu com o dom de cozinhar! — Ícaro falou ao adentrar a cozinha e dar um beijo na mãe.

Sara o acompanhou com o olhar, a vi quase babar em cima do Ícaro.

— Ei! — Chutei a perna dela e a mesma gargalhou.

— O que estamos esperando para comer? — Seu João falou.

— Inara, ela sumiu o dia todo... — A mãe fala olhando pela janela da cozinha.

— Estou aqui, mãe!

Uma moça muito bonita entra na cozinha, ela e Ícaro eram extremamente parecidos, se não fosse a diferença de idade, diria que eram gêmeos.

— Prazer, sou Olivia Wadson! — Me levantei da mesa e estiquei o braço para ela.