...OLIVIA...
4 MESES DEPOIS
Quatro meses. Quatro longos meses se passaram desde que assinei os papéis de posse da herança. Apenas agora pude começar a usufruir de tudo, como se finalmente estivesse aceitando que minha vida havia mudado para sempre. Durante esse tempo, tirei minha carteira de motorista. Não foi fácil, mas eu me esforcei porque sabia que precisaria dirigir na fazenda. Arrastei Sara comigo para as aulas, mesmo com ela relutando. Sabia que não demoraria até que ela precisasse escapar daquele lar tóxico que a sufocava. E hoje... hoje seria o dia em que eu a levaria comigo. Ela só não sabe disso ainda.
Era um domingo claro e frio, o tipo de dia em que o sol brilha, mas você sente o vento cortar sua pele. O relógio marcava oito da manhã, e eu sabia que precisaríamos sair logo. A última coisa que eu queria era chegar à fazenda tarde da noite, perdida no meio de uma estrada escura e confiando cegamente em um GPS instável.
Sara, por algum milagre, estava na minha casa. Ela havia conseguido escapar da bolha sufocante de patricinhas de seu condomínio por algumas horas, e eu tinha que aproveitar essa chance. Ela me observava com curiosidade enquanto eu terminava de arrumar minha mala. Sua expressão estava dividida entre a curiosidade e a confusão, seus olhos me seguiam a cada movimento.
— Eu ainda não entendi, Olivia... — Sara disse, sua voz carregada de hesitação. Ela estava sentada na ponta da minha cama, o corpo levemente inclinado para frente, como se buscasse entender algo invisível. — Como foi que toda essa fortuna parou nas suas mãos?
A pergunta ecoava no meu próprio coração. Eu também não sabia. Era tudo tão surreal. Uma fazenda chamada "Estrela", um testamento misterioso, uma herança que parecia ter caído do céu.
— Eu também não sei, mas acredito que irei encontrar as respostas que preciso assim que pisar naquela fazenda. — Respondi, fechando a bolsa com um suspiro. — Tudo começa lá.
Sara olhou para a mala, franzindo a testa.
— E vai levar só isso? — Perguntou, arqueando uma sobrancelha, incrédula.
Eu ri de leve. Ela sempre foi muito prática, enquanto eu sempre preferi o essencial.
— É tudo que preciso. O resto são apenas coisas velhas. — Dei de ombros, mas então, decidi tocar no assunto que vinha rondando minha mente há semanas. — E, falando em coisas velhas... Sara...
Eu precisava tirá-la daquela vida. A casa dos pais dela, aquele ambiente sufocante e tóxico, estava destruindo sua alegria, apagando o brilho nos seus olhos. Não podia mais vê-la daquele jeito.
— Que tal vir comigo? — A proposta saiu mais direto do que eu planejava, e vi seus olhos arregalarem de surpresa. — Não precisaria se preocupar com nada. Você já concluiu sua faculdade, e eu vou precisar de ajuda para administrar tudo... — Minha voz soou mais esperançosa do que eu pretendia.
Ela piscou, chocada. Sua boca abriu e fechou, sem som. Sabia que isso a pegaria desprevenida, mas tinha esperança de que ela veria a oferta pelo que realmente era: uma chance de se libertar.
— Como assim? Ficou louca? — Ela se levantou de um salto, recuando e se escorando na parede, como se precisasse de algo sólido para se apoiar.
— Sara, você precisa sair daquela casa! — Minha voz se suavizou, e me aproximei, pegando suas mãos, que estavam frias como gelo. — Você merece respirar novos ares, viver de verdade. Assim como eu vou fazer. — Ela tentou desviar o olhar, mas a segurei firme. — Se não quiser, tudo bem... Mas sua passagem já está comprada. — Sorri de leve, tentando aliviar a tensão.
Ela riu, nervosa.
— Você é louca, Olivia. — Tentou parecer brincalhona, mas havia uma sombra de seriedade em sua voz.
— Sairemos às dez horas. Se decidir ir, é melhor arrumar suas coisas. — Disse, dando espaço para que ela refletisse.
[...]
Horas depois, eu ainda não sabia se ela viria. O aeroporto estava cheio de gente indo e vindo, e a cada minuto, minha ansiedade crescia. Eu e minha mãe estávamos na fila do check-in, e a terceira passagem queimava em minhas mãos. O olhar de minha mãe mostrava compreensão, mas também preocupação. Sara era uma peça fundamental nessa jornada. Mas agora, parecia que ela não viria.
"Desiste, ela não vem", pensei, tentando me convencer a seguir em frente.
A fila avançou, e quando finalmente chegamos ao balcão, uma voz ecoou no meio do barulho do aeroporto:
— OLIVIA!
Virei-me, e lá estava ela. Sara. Descabelada, sem fôlego, correndo como uma criança, mas com um sorriso que iluminava tudo ao redor. Por um segundo, esqueci que ela tinha vinte e cinco anos. Naquele momento, ela parecia livre. Verdadeiramente livre.
— Achei que você não viria... — Disse quando ela se aproximou e me entregou os documentos, ainda ofegante.
— Até parece... — Ela respondeu, tentando recuperar o fôlego, rindo como se tivesse acabado de escapar de uma prisão.
— E seus pais? Disseram algo sobre você ir embora? — Perguntei, com o coração apertado.
Ela mordeu o lábio, hesitante, e então suspirou.
— Sim. Disseram que eu não posso mais voltar. E... que era pra eu esquecer que tive família um dia. — Sua voz quebrou, e eu senti um aperto no peito.
A abracei com toda a força, e minha mãe logo se juntou a nós. Naquele momento, senti como se algo importante estivesse começando.
— Fica tranquila — sussurrei. — Dias melhores virão. Agora, somos uma família de três mulheres.
Enquanto abraçávamos Sara, uma onda de esperança cresceu dentro de mim. Ela estaria conosco nessa loucura. E isso era o suficiente para saber que tudo daria certo.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Mônica Santos
no início da leitura 📚 e já estou gostando sei que dará tudo certo ✔️
que bom que as duas amigas estarão juntas nessa nova jornada da vida delas
2024-11-30
0
Elza Ferreira Gomes
que bom que sara aceitou ir com elas
2024-12-07
0
Rosilene Santos
Graças a Deus Sara foi junto é horrível tá num lugar tóxico
2024-11-21
1