CAPÍTULO 10

...OLIVIA...

Acordei com uma sensação estranhamente boa. Os lençóis macios e confortáveis envolviam meu corpo como um abraço, e os travesseiros fofos pareciam convidar-me a continuar deitada ali, entregue àquele momento de quietude. Apesar disso, havia uma exaustão latente, uma sensação de cansaço em cada músculo, como se a noite anterior tivesse drenado todas as minhas forças. Meus olhos se abriram lentamente, e comecei a observar o ambiente ao meu redor.

O quarto era moderno, mas tinha um charme rústico. Uma combinação intrigante. Logo de frente para a cama, pendurado na parede, estava um berrante antigo, algo que exalava história e tradição. A madeira bruta da bancada, onde uma televisão repousava, contrastava perfeitamente com a decoração mais sofisticada do cômodo. Uma escrivaninha organizada, com papéis cuidadosamente empilhados, sugeria um toque de disciplina em meio ao estilo casual. Duas portas à direita chamaram minha atenção — uma devia levar ao banheiro, e a outra, provavelmente, a um closet.

A cama era gigantesca, e apesar dos meus um metro e setenta, me senti pequena, quase perdida naquele colchão macio. Como uma boneca esquecida em um cenário grandioso, percebi que aquela cama certamente havia sido feita sob medida para o luxo e o conforto. Era difícil lembrar a última vez que eu tinha dormido tão profundamente.

Tentei me recordar de como cheguei ali. Um peso começou a se formar no meu peito, apertando, como se minha mente estivesse me protegendo de uma lembrança que eu ainda não conseguia processar completamente. A noite anterior voltava em flashes desconexos, o som da minha própria respiração acelerada, o frio da noite, algo... algo que me assustou. A chuva.

Cadê a minha mãe? e a Sara? Essa é a fazenda estrela?

Tirei o cobertor de cima de mim com cuidado, e o ar gelado que preencheu o quarto imediatamente me arrepiou. Olhei para o meu corpo e percebi que estava vestindo um vestido azul florido, o mesmo que raramente usava, por falta de tempo ou ocasião. Sem opções, deixei meu cabelo solto, tentando usá-lo como uma barreira contra o frio que se insinuava pelas frestas das janelas, apesar de estarem fechadas.

Desci da cama e meus pés encontraram o toque suave de um par de pantufas pretas, já posicionadas no chão como se me aguardassem. Quando abri a porta do quarto, a visão que me aguardava do outro lado era de um corredor amplo, com várias outras portas. Cada uma parecia esconder um mundo à parte, mas foi a grande porta de madeira dupla, imponente e rústica, que chamou minha atenção.

Atravessei o corredor até essa porta, empurrando-a com um leve esforço. Ela se abriu lentamente, revelando o centro da casa, um espaço amplo, com um design que misturava o moderno e o antigo de forma harmoniosa. A madeira desgastada nas vigas contrastava com os móveis contemporâneos, e havia uma energia calorosa ali, como se aquela casa fosse o coração de algo maior.

De repente, vozes e risadas ecoaram de um ambiente ao lado, puxando minha atenção. A ideia de encontrar alguém trouxe uma mistura de alívio e apreensão, mas quando me preparei para ir até lá, senti um toque leve em meu ombro.

O choque imediato fez meu coração saltar, e ao me virar, meus olhos encontraram a figura de um homem alto. Ele usava uma camisa preta justa, o tecido delicadamente esticado sobre seus braços fortes, que pareciam prontos para explodir sob a tensão. Seu rosto estava parcialmente escondido por um chapéu, mas foi o vislumbre de sua barba bem aparada e o mistério que ele exalava que fizeram meu coração bater mais rápido.

Ele tirou o chapéu com um movimento suave, revelando olhos intensos que me encaravam profundamente. Naquele momento, tudo ao redor pareceu parar. O ar ficou pesado entre nós, e uma corrente de tensão atravessou meu corpo, deixando-me sem palavras enquanto o mundo se fechava, restando apenas nós dois.

 — Olivia Wadson... — Ele sussurrou como se me associasse ao meu nome. — Me chamo Christian, essa é a fazenda Lincoln.

Olhei ao redor.

 — Não estou na Estrela? Como vim parar aqui? E cadê minha mãe e a Sara? — Perguntei já sentindo um desespero subir em mim.

 — Estamos aqui! — Vi minha mãe surgir do cômodo em que eu havia escutado vozes, seguida de Sara. — Devemos muito ao Christian, filha.

Eu olhei para ele e depois para ela. DEVEMOS?

 — Ele nos salvou ontem, tirou a gente daquela estrada, depois que você machucou o pé, ele nos trouxe para a casa dele. — Ela continuou enquanto alisava minhas costas.

Eu a olhava por cima, visto que eu era alguns centímetros mais alta.

— Mas, não era para estarmos na nossa casa? — Perguntei sem entender.

A fazenda estrela era a segunda mais famosa e cara do estado do Mato Grosso, era impossível esse tal Christian não saber onde era.

— Christian ia nos levar para lá, mas não achamos onde você colocou as chaves da casa! — Sara falou com um bico enorme. — Queremos conhecer sua nova fazenda, Olivia! Mas você desmaiou após...

Ela não terminou a frase. Me senti impotente com isso, essa coisa de trauma é um saco, eu preciso me soltar disso.

— E como eu vou saber que você — Me virei para o Christian. — não sequestrou nós três e nos levou para muito longe? — Eu falei autoritária.

Todos riram, inclusive ele. Isso me tira do sério.

Caminhei até a porta que eu imaginei ser a saída, quando abri, vi todo o enorme terreno com grama verde, era a frente da fazenda Lincoln. Alguns pavões soltos andando pela grama, cachorros brincando em outro canto, a casa parecia uma mansão vista de fora, e em volta de toda a casa, havia uma varanda extensa, com redes para todos os lados.

Logo os três patetas apareceram atrás de mim.

— Bem-vinda, Olivia. — Christian disse ao parar ao meu lado. — Aquela é a fazenda estrela. — Ele apontou com a mão direita.

Mas que merda!

As duas mansões ficavam extremamente perto da cerca que dividia as duas fazendas, fazendo com que sejamos uma espécie de vizinhos, mesmo estando num lugar longe da cidade.

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