16— Confronto

 Quando a porta bateu, Brian ficou aliviado.

 Puxou com as mãos as pernas para fora da cama, ficando sentado. Ele podia sentir na sola dos pés o frio que vinha do piso. Essa sensibilidade era algo bom, Marcelo havia explicado.

 Conseguiu expulsar aquela "menina" do seu quarto, faltava expulsa-la da sua vida e daquela casa.

 Não queria continuar casado com uma estranha. Micaela seria a esposa ideal, ele conhecia-a fazia alguns anos, era a sua namorada.

 Brian Romero não precisava de uma esposa comprada, que além de ser uma vendida, ainda teve a audácia de abusar dele no momento em que estava vulnerável.

 Qual era a sua intenção com aquilo?

 Engravidar para arrancar dinheiro de sua mãe? Ana Romero era uma romântica incurável, acreditava no amor, mesmo estando com 50 anos. O seu pai, Rômulo Romero, aos 60 anos tinha olhos apenas para a sua mãe e o sonho de ver muias crianças correndo pela casa.

 Mas, se dependesse dele, não teria crianças pela casa. Ele gostava da rotina e da ordem. Crianças era tudo, menos organizadas e Micaela também sempre deixou claro que lhe daria um único filho, ela também preferia a paz.

 Brian não acreditava no que a sua mãe falou sobre Micaela ter fugido para fora do país. A sua mãe nunca gostou da sua namorada. Mas ele sabia o quanto ela era doce e educada, e nada se parecia com a sua "esposa" que teve audácia de esbofeteá-lo.E pior, não parava de falar! Em suas lembranças, vinha aquela voz incessante em sua cabeça enquanto estava "dormindo".

 Precisava falar com Eduardo, o seu secretário pessoal. Tinha planos assumiria o seu lugar na empresa novamente, voltando à vida, certamente Micaela teria uma boa explicação para o mal-entendido…

......................

 Suellen abriu os olhos a contragosto. O frio da noite não a deixou dormir bem e para piorar, sentia a garganta arder, era um espirro atrás do outro.

 "Culpa daquele Homem de Gelo".

Ela estava zangada olhou para a tela do celular. Já passava das 8 horas da manhã, certamente todos já haviam terminado o café da manhã. Pelo menos não precisaria ver a cara de Brian, pelo horário Olga já teria cuidado da higiene de seu "marido".

  Suellen não sentiu nem um peso na consciência, aquele gelo em forma de homem havia passado todos os limites naquela noite e agora ela não sabia se teria controle ao ser comparada a uma prostituta novamente.

 Deu uma última olhada no espelho.

Suelen havia prendido os cabelos no alto da cabeça, num coque prático e usava um vestido simples com estampas florais.

 Não sairia naquele dia, precisava terminar algumas traduções, afinal, tinha que trabalhar duro para poder poupar algum dinheiro, o "senhor gelo" certamente a mandaria embora e ela precisaria manter-se sozinha.

 Enquanto descia as escadas, com a intenção de comer algo na cozinha, ouviu a voz da sua sogra:

 — Venha, menina. Estamos todos à mesa.

 Para a sua triste surpresa, esse todos, incluía o seu marido. Ela parou na entrada da sala de refeições olhando para ele,que, dobrando o jornal colocando ao lado da sua xícara, falou sem expressar nenhum sentimento:

 — Desde quando uma visita deixa os donos da casa esperando?

 — Brian. — o senhor Rômulo falou, chamando a atenção do filho.

 — Meu filho, não repetirei. Suellen é a sua esposa. Seja respeitoso, afinal foi ela quem trouxe você para nós. — ao falar, a senhora olhou para nora com carinho enquanto tocava a sua mão.— Ela é como uma filha para mim.

Ficou muito feliz com o carinho da sua sogra mas preferiu o silêncio. De repente, a senhora olhou atentamente para Suellen:

— As suas mãos estão quentes... o nariz vermelho...

A mulher analisou o rosto da nora e logo entendeu tudo.

— Você está constipada!

— Acho que sim, a noite foi fria. Não havia cobertor no quarto e eu não queria incomodar Olga tão tarde da noite.

— Farei eu mesma um chá para você. Coma muitas frutas, minha filha. — Ana levantou-se e foi para a cozinha.

O senhor Rômulo também levantou-se, indo para o escritório que ficava na casa.

Brian colocou a sua xícara sobre a mesa e falou com indiferença:

— Peça para a empregada que lhe arrume cobertores.

Ao ouvir isso, levantou o olhar e encontrou os olhos frios de seu marido.

"Como um homem pode ser tão bonito"? — ela pensou.

— Eu disse a você ontem à noite o que queria, mas não acreditou na minha palavra e ainda foi grosseiro. — ela falou ressentida, saindo da mesa e indo para a cozinha, ao encontro da sua sogra.

Brian sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos.

" Ela está com raiva", ele pensou.

Deslizou a sua cadeira em direção ao escritório para falar com o seu pai. Brian decidiu que retornaria para o controle das empresas.

Entrou sem se anunciar e o seu pai demorou um pouco para perceber a sua presença.

— Oi, filho. Estou feliz que já possa se locomover.

— Nessa cadeira...

— Não reclame rapaz. Era para você estar naquela cama, mas graças ao empenho da sua esposa, agora está aqui, conosco.

— Ela não é a minha esposa!

— Sim, ela é. Eu assinei o seu nome no registro.— com a voz mais branda, continuou — Ela estava linda em seu vestido de noiva...

Brian revirou os olhos. Até o seu pai insistia naquela encenação absurda.

— Filho, ela é doce e carinhosa. Suelen fez por você o que nenhuma outra faria. Mesmo sem te conhecer, ela cuidou o tempo todo da sua integridade.

— O interesse dela é apenas financeiro. Quanto pagou por ela? Micaela faria tudo isso sem cobrar.

— Micaela! Essa daí fugiu do país no dia seguinte em que saiu o parecer médico sobre a sua saúde. Ela não quis nem tentar te ajudar e aqueles tios dela? Empurraram a sobrinha órfão para o altar sem ao menos pensar nos sentimentos da moça.

Brian calou-se. Não discutiria com o seu pai. Não precisava das pernas para tomar as rédeas da sua vida. Enquanto estava pensativo, o seu pai mudou de assunto.

— Já mandei que o pessoal da manutenção colocasse o elevador em funcionamento novamente, assim você terá mais autonomia em se locomover.— O homem mais velho olhou para o filho com os olhos cheios de emoção— Meu filho, estou muito feliz por você estar vivo...

— Eu sei, pai...

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