Capítulo 15

CATARINA NARRANDO

A casa do senhor Castelã é um verdadeiro palácio. Lavínia já está toda à vontade, parece que mora aqui há anos. Minha filha está muito apegada a ele. Estou com medo de que, quando tudo isso acabar, ela sofra.

Ele me mostrou a casa, e vou levar dias para aprender a andar aqui dentro. Tem cozinha, sala de jantar, sala de estar, sala de TV, escritório, jardim de inverno, sala de jogos. Na parte de cima ficam as suítes. Casas assim eu só via na TV. Ele me pediu para escolher um quarto para Lavínia, mesmo eu falando que não precisava, porque dormimos juntas. Ele insistiu e ainda disse que ela terá um quarto em todas as suas casas.

Queria perguntar quantas casas ele tem, mas tenho vergonha. Estou rindo o tempo todo porque estou nervosa.

Tomamos banho. Havia alguns produtos no banheiro, mas eu trouxe todos os produtinhos da Lavínia, que queria tomar banho com uma das bonecas que acabou de ganhar.

— Lavínia, você não pode tomar banho com a boneca nova. E outra, você tem que se comportar — falei enquanto tirava a roupinha dela.

Olhei ao redor. O quarto de visitas é maior do que a casa em que eu morava. A cama é enorme e bem aconchegante. Tem um tapete no quarto e um armário cheio de espelhos.

Peguei uma toalha na mala e a toalha da Lavínia e fomos para o banheiro. Tomei banho rapidinho com ela, nos arrumamos, e quando saí do quarto, olhei para os lados sem saber para onde ir.

— Mãe, fominha — Lavínia falou puxando meu vestido.

Ainda bem que o Sr. Castelã apareceu. O quarto dele fica de frente para o quarto que escolhi. E minha nossa, a calça que ele estava vestindo marcava todo o seu membro, que é grande. Desviei o olhar na mesma hora.

— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou.

— Não, senhor. Lavínia está com fome e eu estava esperando o senhor para pedir autorização para ir à cozinha preparar algo para ela — falei e abaixei a cabeça, fiquei com vergonha de ter olhado para o membro dele.

O senhor Castelã tocou no meu queixo e levantou o meu rosto. Falou que posso fazer o que bem entender dentro da casa e me mandou parar de chamá-lo de senhor, é para chamá-lo de Andrew, que é o seu nome.

Ele pegou a Lavínia no colo e fomos até a cozinha, onde mais uma vez ele me apresentou como sua namorada e falou que a Lavínia é nossa filha. Ainda não me acostumei com isso, mas notei que a governanta ficou o tempo todo me olhando atravessado desde a hora em que chegamos. Não vou falar ao Andrew, acabei de chegar e não quero causar intrigas.

— O que a nossa princesa gosta de comer? — ele perguntou baixinho, olhando nos meus olhos.

— Lavínia come de tudo, mas à noite uma sopinha de legumes e frango está de bom tamanho — falei baixinho só para ele. Ele me mandou dar ordem aos empregados para fazer a sopa da Lavínia.

Olhei para o Andrew e pensei: não consigo dar ordens nem à minha filha, imagina a outras pessoas.

— Por favor, prepare uma sopa de frango com legumes, pouco sal e sem usar temperos com muito sódio — falei e olhei para o Andrew, que concordou com a cabeça de leve.

Ele falou mais algumas coisas que achei bem arrogantes e também percebi que as empregadas têm medo dele, só pelo jeito delas olharem, nunca diretamente nos olhos dele.

Fomos para a sala. Ele ligou a TV, que é enorme, e colocou o desenho para Lavínia. É um desenho que ela adora e eu também. Ficamos assistindo. Minha filha, toda folgada, colocou os pés no meu colo e a cabeça no colo do Andrew.

Quando olhei para o lado, ele estava me encarando. Rapidamente fechei o sorriso, fiquei com vergonha.

— Você gosta de desenho animado? — ele perguntou, e eu abri novamente um sorriso e concordei com a cabeça.

— Depois que me tornei mãe, me acostumei a assistir e aprendi a gostar — respondi sorrindo.

— Me fala mais sobre você. Quem é Catarina Viegas? — umedeci os lábios com a ponta da língua antes de responder.

— Eu não saberia fazer uma autobiografia, mas Catarina Viegas é uma mulher com alma de menina. Gosto de desafios, comecei a trabalhar ainda muito jovem para ter minha independência e ajudar a minha família. Não preciso de muito para ser feliz, tendo o que comer, onde morar e como pagar as contas já está de bom tamanho — continuei falando sobre mim, e ele prestou atenção.

Até que ele perguntou sobre o pai da Lavínia. Nesse momento, meu coração murchou. Não falo do Nalbert há muito tempo, até porque só quem sabe tudo sobre ele é Gisele, e ela também tem raiva dele.

— O genitor foi a pior pessoa que já conheci na minha vida. A única coisa boa que ele fez foi a Lavínia — foi a única coisa que consegui falar. Abaixei a cabeça, respirando fundo.

Ainda bem que ele mudou de assunto e perguntou sobre minha vida profissional. Gertrudes veio nos chamar para jantar e avisou que a sopa da Lavínia também estava pronta.

Andrew se levantou, pegou Lavínia no colo, segurou minha mão e fomos para a sala de jantar. A mesa é enorme, só para três pessoas. Tive que sentar Lavínia no meu colo, já que a mesa é muito alta para ela. Primeiro, dei sua sopinha e depois a sentei ao meu lado.

Fiquei olhando para aquele tanto de talher. Andrew percebeu minha insegurança, tocou de leve na minha mão e pegou os talheres.

Fiz o mesmo que ele. A comida estava deliciosa. Enquanto comíamos, ele puxou assunto e ficamos conversando mais sobre a Lavínia. Gertrudes estava parada em pé perto da mesa. Andrew mandou que ela se retirasse.

Continuamos comendo e conversando. Não pensei que eu teria tanto assunto assim com ele. A conversa fluiu naturalmente entre nós dois. Andrew sorriu várias vezes, mas é um sorriso que não mostra os dentes.

Depois do jantar, fomos para a sala de jogos, onde Lavínia brincou bastante.

— Já está tarde. Se você me permitir, tenho que colocar a Lavínia para dormir — falei, entregando o controle do videogame para ele.

Eu sei jogar, mas não tão bem quanto ele. Mas foi o suficiente para a gente se divertir.

— Vamos, eu acompanho vocês — peguei na mão da minha filha, e ele pegou na outra.

Subimos. Tive a impressão de ter visto Gertrudes embaixo da escada. Assim que chegamos à porta do quarto, Andrew abraçou Lavínia, que começou a fazer manha.

— Amanhã a gente brinca mais. Agora vai dormir porque amanhã eu, você e a mamãe vamos passear e comprar um monte de coisas para vocês — ele falou de forma tão natural.

Peguei Lavínia do colo dele e fui surpreendida por um beijo na testa, um beijo de boa noite.

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