Capítulo 04

CATARINA NARRANDO

Arrumei a nossa casinha na parte da tarde, enquanto a Lavínia dormia, tirando o soninho da tarde logo após o almoço. Limpei e arrumei tudo. Amanhã começo a trabalhar, pegando duas conduções até chegar em casa. Já vai estar bem tarde e eu só vou querer a minha cama, tenho certeza disso.

Olhei no armário para ver o que tinha para preparar para o jantar. Vamos ter que comer macarrão novamente. Tem macarrão e molho para o mês inteiro. Dessa vez vai ser apenas um jantar, já que na empresa tem almoço para os funcionários.

Quando Lavínia acordou, eu fiz uma mamadeira para ela. Gisele comprou leite suficiente para durar até o final do mês. Enquanto ela tomava a mamadeira, eu preparava o nosso macarrão.

— Oi, meus amores, a Dinda veio ver a princesa e a rainha — Gisele entrou já gritando. A Lavínia é apaixonada pela madrinha.

Enquanto as duas brincavam no sofá, eu terminei de preparar o macarrão. Já fiz o molho e temperei com um pouco de sal e orégano. Assim, eu me sinto comendo uma massa deliciosa.

— Amiga, tenho uma novidade para te contar. Consegui — falei sorrindo e com os olhos ardendo para chorar de emoção.

— Você conseguiu um emprego, é isso mesmo? — Ela perguntou, e eu balancei a cabeça que sim.

Gisele me abraçou. Comemoramos juntas. É um sonho para mim desde que a Lavínia nasceu. Conversamos sobre a empresa, os benefícios e o mais importante de tudo: lá tem um lugar para deixar a minha filha.

— Vamos comemorar comendo macarrão — falei sorrindo e me levantando.

Quando Gisele viu que era apenas macarrão, me deu uma bronca e foi na casa dela, que fica ao lado da minha, e trouxe proteína. Peito de frango já pronto, estava muito cheiroso e gostoso. Comemos conversando. Falei a Gisele sobre o desdém de algumas mulheres quando me viram comemorar a vaga de copeira.

— Amiga, não liga para essas pessoas. Infelizmente o mundo é assim. Quem tem um pouco mais se acha melhor do que quem não tem — concordei com ela, porque isso é verdade.

Gisele trabalha como recepcionista de um hotel, um dos maiores de Londres. Faz anos que ela trabalha lá e, às vezes, chega triste, até chorando, pelas humilhações que passa por parte de hóspedes milionários que humilham os funcionários e as pessoas de classe inferior.

Depois do jantar lavei a louça enquanto Gisele brincava com a Lavínia, conversamos um pouco e ela foi embora. Eu e a minha filha nos deitamos, estou muito ansiosa, mas tenho que dormir Amanhã é o meu primeiro dia e eu não quero chegar atrasada e nem ficar caindo pelos cantos por não ter descansado o suficiente.

Amamentei Lavínia e ela sempre dorme mamando. Também consegui dormir. Acordei com o despertador. Já acordei a minha pequena e comecei a arrumá-la. Tomei banho para me despertar e me arrumei. Ainda tive tempo de me olhar no espelho, de me ver de uniforme. Isso até me emocionou. Saímos para o ponto de ônibus. Pegamos a primeira condução, foi tranquilo. O segundo, da mesma forma, passou rápido. A parada fica na frente da empresa, o que facilita muito para mim, já que estou carregando Lavínia, sua bolsa e a minha bolsa.

Meu crachá já estava pendurado no pescoço. Entrei na empresa. Muita gente entrando e saindo, acredito que nem fui notada. Fui direto para o berçário deixar minha filha. Abracei-a bem forte e dei um beijo. Preenchi uma ficha com alguns cuidados com Lavínia, meu nome, o setor onde vou trabalhar e meu número de telefone.

Passei no RH como a moça me orientou ontem. Cadastrei minha digital e ela me acompanhou até o décimo andar, onde vou trabalhar hoje.

— Catarina, esse é o último andar onde os funcionários têm acesso. O próximo andar é a cobertura, o décimo primeiro, onde só há a sala do presidente. Funcionários não têm permissão para ir lá, a não ser que sejam chamados. No seu caso, acredito que nunca será, só se for para fazer algum tipo de limpeza — quando ela disse isso, fiquei um pouco triste, mas não baixei a cabeça.

Ela me mostrou o andar todo. Nas salas, há a identificação de cada diretor e também há a sala de reuniões.

— A sala de reunião tem de estar sempre limpa e impecável. O senhor Castelã odeia qualquer tipo de bagunça e sujeira. Demitimos a outra copeira por conta disso. Se você não der conta do trabalho, vai para a rua. Entendeu? — ela disse e eu respondi.

— Eu já entendi tudo que a senhora falou e não se preocupe, eu darei conta do serviço — falei encarando-a nos olhos, uma mulher prepotente.

Ela fechou a cara e saiu, me mandando fazer um excelente trabalho. Comecei pela copa. A manhã passou rápido. No horário do almoço, fui para o refeitório. Eu nem sabia onde era, então apenas acompanhei outras pessoas. Ainda bem que elas estavam indo para lá. A comida era deliciosa e não havia macarrão. Comi rapidamente e corri para o berçário para ver minha filha. Fiquei um pouco com Lavínia.

Quando estava saindo do berçário, corri para o elevador. Não queria chegar no décimo andar nem um segundo atrasada. Vi que um homem estava me olhando, loiro, alto, forte. Fiquei envergonhada e abaixei a cabeça. Entrei no elevador de serviço e, antes de as portas se fecharem, levantei a cabeça. Ele ainda me olhava.

Assim que cheguei na copa, tinha a notação no mural. Fui direto para a sala de reunião e arrumei tudo. Deixei a sala limpa para receber os diretores ou quem quer que fosse fazer a reunião.

Voltei para a copa e comecei a preparar o café. Não demorou muito para entrar uma secretária e pedir ajuda para servir o café e a água.

Fomos para a sala de reunião. Ela levou a bandeja com café e eu levei a bandeja com a água. Perguntei como fazer isso, pois era a primeira vez que faria esse serviço. Ao contrário da outra moça, ela me explicou tudo certinho, de forma educada.

Não olhei nos rostos dos diretores. Apenas coloquei a água do lado direito, como a secretária me ensinou. Quando fui colocar a última garrafa de água, ela virou. Eu a segurei e senti uma mão forte segurando a minha.

Quando levantei a cabeça, tinha um par de os olhos castanhos claro me observando, engoli seco é o mesmo homem que estava me olhando no elevador.

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