Capítulo 06

CATARINA NARRANDO

Que nervoso passei com aquele homem me encarando! Pedi desculpa e ele não me respondeu, ficou me encarando de forma dura. Confesso que fiquei com muito medo. Vai que ele seja alguém influente dentro da empresa e peça a minha demissão.

Arrumei a garrafa e me retirei da sala, fechando a porta com cuidado, como a secretária havia me ensinado. Voltei para a copa.

Vai ter uma reunião em outra sala, e a secretária me pediu para preparar café para quatro pessoas. Enquanto eu estava arrumando as xícaras na bandeja, a moça puxou assunto, mas vi que ela estava bem interessada na minha vida.

Não costumo compartilhar minha vida com estranhos, sou muito reservada. Depois que o pai da minha filha me abandonou e a Lavínia nasceu, me fechei ainda mais para o mundo.

— Você é novata aqui, uma moça tão jovem e linda, trabalhando como copeira. O que foi, o senhor Castelã não foi com a sua cara? — ela falou sorrindo. Achei a pergunta dela sem nexo e difícil de responder.

— Trabalho como copeira e estou satisfeita com a minha ocupação. Quanto ao senhor Castelã, não saberei te responder. Para ter uma resposta concreta, sugiro que pegue o elevador até o próximo andar e pergunte diretamente para ele — falei encarando-a.

Coloquei o café nas xícaras e ela levou a bandeja, nem sequer me deu um tchau. Juntei toda a louça suja e comecei a lavar. Em seguida, fui organizando tudo, limpei a copa. Toda hora me chamam para servir água e café. A minha tarde foi bem agitada.

Tive um intervalo de quinze minutos, não deu tempo de ir ao berçário, mas a todo momento olhava para o celular. Fiquei com medo da Lavínia estranhar, mas as tias que cuidam das crianças em nenhum momento mandaram mensagem ou ligaram para mim.

Assim que deu o meu horário, passei na sala e coloquei a minha digital, batendo o ponto. Preciso fazer isso quando chego e também quando vou embora.

Desci pelo elevador de serviço e fui correndo para o berçário. Assim que entrei, a minha filha correu e eu a peguei no colo, enchendo-a de beijos. Agradeci às tias por terem cuidado da minha princesa e saí da empresa.

Esperamos o primeiro ônibus. Lavínia dormiu o tempo todo. Peguei o segundo ônibus com ela dormindo em meus braços. Lavínia acordou quando já estávamos chegando.

Quando cheguei em casa, já estava pensando em fazer macarrão. Assim que abri a porta, a mesa estava posta e a Gisele deitada no sofá assistindo TV.

— Boa noite, minha princesa — ela falou e se levantou para pegar a Lavínia no colo.

— Amiga, você preparou o jantar? — perguntei com o meu estômago dando voltas.

Ela sorriu e me mandou olhar a despensa e a geladeira. Gisele fez compras no mercado para mim mais uma vez. Agradeci com um abraço, mas vou devolver o dinheiro para ela assim que eu receber meu primeiro salário.

Deixei ela com a Lavínia na sala; as tias do berçário deram banho nela. Tomei um banho quente, tirando todo o cansaço do dia. Vesti uma roupa confortável e fui para a sala. Jantamos, e a comida estava uma delícia.

— Como foi seu primeiro dia de trabalho? — Gisele perguntou.

— Foi melhor do que eu esperava. Tive medo de fazer alguma coisa errada e acabar sendo demitida no primeiro dia — falei, porque realmente eu sou insegura e ela sabe disso.

Contei do incidente com a garrafa. Gisele, ao invés de me dar apoio, ficou rindo da situação. Lavínia ficou rindo também, sem nem entender do que estávamos falando.

Lavei a louça e deixei tudo arrumado. Amanhã saímos cedo e tomo café na empresa. Preparo só uma mamadeira para Lavínia.

Quando Gisele foi embora, me deitei com a minha filha e não demorou muito para que eu pegasse no sono, mas antes conferi o alarme várias vezes.

Assim que o meu celular despertou, já me levantei, desliguei o despertador e acordei a minha filha. Primeiro arrumei a Lavínia e a deixei tomando sua mamadeira e assistindo desenho, enquanto eu tomei banho e me arrumei.

Saímos fazendo o mesmo trajeto. Assim que entrei na empresa e deixei a minha filha no berçário, fui correndo para o elevador de serviço. Preciso bater o ponto e ir para o meu setor.

Tenho costume de andar com a cabeça baixa, e do nada esbarrei nas costas de alguém. Dei um passo para trás e, quando virou, meu Deus, era o mesmo homem da garrafa.

— Me perdoe, senhor. Eu estava andando de cabeça baixa. Me desculpe mesmo, não foi minha intenção — falei apavorada.

— Estava andando ou correndo de cabeça baixa? — ele perguntou, olhando dentro dos meus olhos.

— Me perdoe, isso não vai mais acontecer — falei, encarando-o nos olhos.

Ficamos alguns segundos assim e eu vou acabar me atrasando por causa desse homem. A fama do senhor Castelã é que ele não tolera atrasos, e esse homem me encarando, parado feito um poste na minha frente, está tomando o meu tempo.

— Se o senhor me dar licença, eu preciso ir para o décimo andar, mas antes eu tenho que bater o ponto. O senhor Castelã não tolera atrasos, eu não posso me atrasar — falei bem séria, e ele sorriu sem mostrar os dentes.

Deu um passo para o lado, saindo da minha frente. Entrei no elevador de serviço e meu coração estava quase saindo pela boca. Ainda bem que faltavam oito minutos. Tomara que não haja muita gente na fila para bater o ponto.

Consegui fazer tudo em cinco minutos na copa do décimo andar, ainda com três minutos de antecedência. Hoje ele tem uma reunião na sala de conferência. Já comecei a fazer todos os preparativos, mas sempre vem uma secretária para dar melhores instruções. Tomara que não seja a mesma mulher de ontem.

Na sala de conferência, o mesmo homem estava lá. Ele ficou me olhando. Desta vez não derrubei nada e nem esbarrei em ninguém. Mas ouvi alguém chamando o senhor Castelã, e quando virei para olhar, meu Deus, aquele homem é o senhor Castelã.

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