ISABEL
Eu não sabia por que estava desconfiando de meu pai, mas todos os segredos sobre minha mãe me deixavam aflita. Não tinha nenhuma lembrança dela, apenas alguns fragmentos que ouvi de empregados comentando. Meu pai não parecia preocupado com Leonardo em momento algum, mesmo sabendo que perderia a aliança entre mim e ele se o mesmo morresse. Agora ele próprio ia falar com o Conde no calabouço real?
"Xiii", reclamei para Míriam, que fazia barulho atrás de nós.
"Ta", ela sussurrou. O barulho das madeiras do calabouço ecoava a cada passo, o que era péssimo para tentar entrar sorrateiramente.
Juntar duas mulheres atrapalhadas como eu e Míriam tornava o plano ainda mais difícil. Leonardo parecia bem saudável, e dentro de mim, agradecia por isso. Quando nos aproximamos da cela onde o Conde estava, os gritos de meu pai logo foram ouvidos.
"VOCÊ SÓ TINHA UMA FUNÇÃO, MATÁ-LO QUANDO ELE ESTIVESSE CASADO COM ISABEL, E NÃO NUM JANTAR NA FRENTE DE TODOS!" Bem, se eu tinha alguma dúvida, ela já havia ido embora.
"Perdão, meu rei", o Conde parecia chorar. "Aquela idiota", o rei socou a parede.
Logo, nos entreolhamos, e Leonardo deu um sorrisinho. "Estamos parecendo o Esquadrão Scooby-Doo", ele disse. Não entendi a piada, mas acabei rindo também, mesmo soando alto demais.
Mas o riso logo cessou quando o rei parou de repente e olhou na nossa direção. Ele não nos viu, já que estávamos escondidos.
"QUEM ESTÁ AÍ?" ele gritou, e Leonardo olhou para nós e fez sinal para que eu falasse. Era hora de desmascarar aquele farsante de uma vez.
"Sou eu, papai", disse, saindo de onde estávamos escondidos. O rei nos olhou com um semblante assustado. "É mesmo verdade isso?"
Sua reação, na verdade, não foi uma reação, ele olhou para o Conde e para nós e saiu correndo, tentando passar por todos nós, mas Ricardo o acertou com um soco, fazendo-o cair.
"Isso foi pela minha mãe", disse Ricardo, enquanto o rei desmaiava no chão, e dois homens bem zangados se aproximavam do Conde.
"Nós devemos?", Míriam sussurrou, como se lesse minha mente.
"Deixa eles resolverem", ela disse, com um sorriso de canto maléfico que, estranhamente, me agradava.
Leonardo puxou o Conde pela camisa, e o mesmo começou a gritar por socorro, mas todos os soldados já estavam sob o comando de Leonardo, então ninguém o impediria.
"Melhor começar a falar", eu sussurrei, preocupada.
"Ele vai matá-lo", Míriam respondeu, segurando minha mão e sorrindo.
"Não vai não", Leonardo disse, apertando ainda mais a gola da roupa do Conde, deixando-o sem ar.
"Eu nunca vou trair meu rei!" o Conde gritou, e Leonardo sorriu.
"Ah, vai sim. ABRAM ESSA MALDITA CELA", ele ordenou aos guardas, que rapidamente obedeceram. O Conde logo começou a gritar.
"EU CONTO, EU CONTO", disse ele, e Ricardo sorriu, como se isso fosse esperado. "O rei e eu somos amigos há anos", continuou ele, ajeitando a gola da camisa.
"Ele se casou com a Rainha deste reino, sim, Isabel, sua linda mamãezinha. Ele se apaixonou por ela, e quando ela engravidou, me expulsou do castelo, me dando o título de Conde para que eu ficasse satisfeito", cada palavra parecia uma facada em meu peito. "Mas eu não podia deixar aquilo acontecer, então adicionei algumas gotinhas de veneno no chá dela. Por azar, VOCÊ NÃO MORREU JUNTO."
"DESGRAÇADO", eu tentei ir na direção dele, mas Míriam me segurou.
"Depois que ela morreu, o rei voltou à sua postura e força, me prometendo a sua mão e o reino. Até esse pirralho aparecer e acabar com nossos planos, mas o rei sabia o que estava fazendo. Era só vocês casarem e as terras passariam para você também. Depois da lua de mel, era só matar esse principizinho, e você seria obrigada a se casar comigo novamente, e todos sairiam felizes, mas agora..."
"Agora você não vai machucar mais ninguém, nenhum de vocês", Leonardo disse friamente, e foi até meu pai, que ainda estava desacordado, o pegou como um boneco de pano e o jogou em outra cela que ficava à frente da cela do Conde. "Pena de morte para os dois, por traição à coroa."
Ele olhou para mim em busca de aprovação, mas eu apenas sabia chorar, e como resposta apenas concordei com um aceno de cabeça. Então, a morte da minha mãe nunca foi por minha culpa e sim um assassinato frio e calculista? Todos esses anos me sentindo um peso e buscando entender o desprezo de meu pai, quando na verdade ele desprezava até mesmo a esposa. Como ele foi capaz de fazer isso comigo, com a gente?
As lágrimas escorriam pelo meu rosto sem controle, cada gota carregava o peso de anos de dor e confusão. Leonardo se aproximou de mim, seu rosto expressando uma mistura de raiva e preocupação. Ele me envolveu em seus braços, oferecendo um consolo que eu nem sabia que precisava até aquele momento.
"Está acabado, Isabel. Vamos reconstruir tudo, juntos," ele murmurou, seus lábios tocando levemente o topo da minha cabeça. Havia uma promessa em suas palavras, uma promessa de um futuro, talvez não sem dor, mas pelo menos livre das sombras que meu pai e o Conde haviam lançado
Nossa saída do calabouço foi marcada por um silêncio respeitoso entre os guardas e servos que nos cruzavam pelos corredores. A notícia da prisão do rei e do conde por traição já começava a se espalhar como fogo, e os olhares que recebíamos eram mistos de surpresa e esperança. Alguns rostos mostravam alívio, outros, uma curiosidade ansiosa pelo que viria a seguir.
Ao chegar aos aposentos reais, sentei-me no grande salão, o peso das revelações ainda me afetando profundamente. Míriam e Leonardo permaneceram ao meu lado, pilares de força em um momento de turbulência interna e externa.
"Vamos precisar planejar os próximos passos com cuidado," disse Leonardo, puxando um mapa do reino para a mesa. "Temos aliados que ficarão ao nosso lado, mas também aqueles que podem ver esta mudança de poder como uma oportunidade para suas próprias ambições."
Ricardo juntou-se a nós, com um olhar determinado. "Eu já comecei a contatar os líderes das outras casas nobres. A maioria está chocada, mas disposta a apoiar Isabel como nossa nova rainha. Eles respeitam sua coragem e integridade."
Eu ouvia, ainda um pouco distante, os detalhes práticos sendo discutidos, mas minha mente vagava pela memória de minha mãe. Ela tinha sido uma rainha amada, conhecida por sua benevolência e sabedoria. "Eu quero honrar a memória dela," falei de repente, interrompendo a conversa. "Quero ser a rainha que ela teria querido que eu fosse, não apenas uma figura de poder, mas um símbolo de justiça e esperança."
Míriam segurou minha mão, apertando-a suavemente. "Você já é isso, Isabel. E vamos garantir que todo o reino veja isso também."
Os planos foram se desenrolando: anunciaríamos a prisão do rei e do conde, a convocação de um conselho de nobres para a transição, e uma declaração para o povo, explicando as mudanças e reafirmando nosso compromisso com a justiça e a prosperidade do reino.
Quando a noite caiu, eu me retirei para os meus aposentos, sentindo uma mistura de exaustão e determinação. Olhando pela janela do meu quarto, para as estrelas que brilhavam no céu claro, senti uma conexão com minha mãe que nunca tinha sentido antes. Era como se, de algum modo, ela estivesse comigo, guiando-me através da escuridão para trazer luz ao nosso reino.
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Atualizado até capítulo 20
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