CAPÍTULO TREZE

LEONARDO

Três dias se passaram desde a noite em que levamos Míriam ao lago. O desespero daquela noite parecia uma memória distante, mas a recuperação lenta de Míriam estava sempre em minha mente. Eu a observava atentamente, grato por Isabel estar sempre por perto, ajudando de todas as maneiras possíveis.

No entanto, essa paz foi interrompida pela notícia de que teríamos um jantar formal com o rei e o Conde de Montclair. Sabia que o jantar não seria agradável. O Conde, um velho irritante e condescendente, era a personificação do desagrado.

Passei a tarde verificando como Míriam estava, certificando-me de que estava confortável. Isabel, com sua presença calma e reconfortante, ajudou a escolher um vestido para o jantar. Observei-a enquanto ela e Míriam riam e conversavam, e não pude evitar sentir uma onda de gratidão e algo mais profundo.

"Você vai ficar bem?" perguntei a Míriam, preocupado.

"Sim, Leonardo," respondeu ela, sorrindo. "Vou ficar bem. Isabel cuidou muito bem de mim."

Sorri de volta, um sentimento de alívio misturado com apreensão pelo jantar que estava por vir.

Entramos no salão de jantar, onde a atmosfera estava carregada de formalidade. O rei estava sentado na cabeceira da mesa, com o Conde ao seu lado. Isabel e eu nos sentamos juntos, com Míriam ao meu lado.

"Minha querida filha, Isabel," disse o rei, levantando-se para nos cumprimentar. "É um prazer ter o Conde e o Príncipe Leonardo conosco esta noite."

"Obrigado, Vossa Majestade," respondi, tentando manter a compostura. "Espero que todos desfrutem da noite."

O Conde, com seu sorriso condescendente, rapidamente tomou a palavra. "Isabel, sempre encantadora," disse ele. "E o jovem príncipe Leonardo, vejo que está se adaptando bem."

Eu mantive um sorriso educado, mas por dentro, já estava me preparando para a enxurrada de comentários irritantes que viriam.

A refeição começou de forma relativamente tranquila, com conversas educadas preenchendo o ar. Mas, inevitavelmente, o Conde direcionou a conversa para seu tema favorito.

"Vocês sabiam," começou ele, "que o polypodium vulgare, uma planta fascinante, tem propriedades medicinais incríveis? No meu jardim, tenho várias espécies..."

Lancei um olhar a Isabel, que sorriu com entendimento. Sabíamos o quanto essa conversa seria tediosa.

"E claro," continuou o Conde, "há a questão do matrimônio. Fui informado, Isabel, que o seu compromisso com o jovem príncipe aqui presente está indo bem. Uma escolha interessante, devo dizer. Trocar um Conde por um príncipe."

Senti meu corpo ficar tenso com o comentário, mas mantive a calma. "As circunstâncias mudaram," respondeu Isabel com um tom neutro. "E acredito que tudo tenha sido feito para o bem do reino."

"Sim, claro," disse o Conde, com um sorriso sarcástico. "Mas não posso deixar de sentir que fui descartado, como uma planta que já não floresce mais."

O comentário era um insulto claro. Apertei o punho sob a mesa, lutando para manter a compostura. "Príncipe Leonardo," continuou ele, "sabe, é raro ver um jovem como você envolvido em tais acordos. Diga-me, como está se adaptando ao fato de que seu noivado é mais político do que romântico?"

Respirei fundo, controlando minha voz. "Faço o que é necessário para o bem do reino," respondi, tentando manter o tom firme. "E para apoiar Isabel em tudo o que ela precisar."

"Ah, claro, apoio," disse o Conde, rindo. "Mas espero que compreenda que Isabel e eu tínhamos um entendimento antes de sua chegada. Não é fácil para um homem ser trocado tão rapidamente."

"Espero que o príncipe esteja à altura," disse o Conde, inclinando-se para frente, os olhos brilhando com malícia. "Sabe, Isabel, sempre achei que um casamento com você traria grandes benefícios ao meu jardim. Há muitas flores que respondem melhor quando há uma presença feminina cuidadosa."

Esse foi o limite. Levantei-me bruscamente, derrubando a cadeira. "Isso é o suficiente," disse, minha voz baixa mas perigosa. "Você passou dos limites."

O salão ficou em silêncio, com todos os olhos sobre nós. "Leonardo, controle-se," disse o rei, tentando intervir.

Mas eu não estava ouvindo. Dei um passo em direção ao Conde, sentindo a raiva fervilhar. "Você pode ser um Conde, mas não tem o direito de desrespeitar Isabel dessa forma."

O Conde levantou-se também, com um sorriso provocador. "E o que vai fazer, príncipe? Vai resolver isso com violência?"

Antes que pudesse pensar, avancei. Os guardas se moveram rapidamente, segurando-me antes que pudesse alcançar o Conde. "Vou ensiná-lo a respeitar Isabel," rosnei, lutando contra os guardas.

"Isso é inaceitável," disse o rei, levantando-se. "Leonardo, acalme-se imediatamente."

Respirei fundo, tentando controlar a fúria. "Leonardo, por favor," disse Isabel suavemente, tocando meu braço. "Isso não vale a pena."

Olhei para ela, seus olhos implorando para que eu me acalmasse. Com esforço visível, respirei fundo e me acalmei. Os guardas me soltaram lentamente.

"Eu... peço desculpas," disse, tentando controlar a respiração. "Mas não permitirei que Isabel seja desrespeitada."

O Conde ajeitou suas vestes, ainda sorrindo de maneira condescendente. "Aceito suas desculpas, príncipe. Mas lembre-se, controle é essencial."

O resto do jantar foi tenso, com poucos comentários além dos necessários. Finalmente, quando a refeição terminou, nos retiramos para nossos quartos.

No quarto de Isabel, Míriam e eu estávamos juntos, e o peso da noite parecia pairar no ar.

"Obrigada por me defender," disse Isabel, sentando-se na beira da cama. "Mas isso poderia ter acabado mal."

"Eu não podia ficar parado," respondi, a voz ainda carregada de emoção. "O Conde merecia uma lição."

"Talvez," disse Míriam suavemente. "Mas precisamos ser mais inteligentes do que isso. O Conde é influente, e qualquer movimento errado pode custar caro."

Sabia que ela estava certa, mas não podia evitar sentir uma onda de gratidão e algo mais profundo por Isabel. "O importante é que estamos juntos nisso," disse, tentando reunir força. "E vamos superar qualquer desafio que vier."

Aproximei-me de Isabel, segurando sua mão. "Isabel, prometo que sempre estarei ao seu lado. Não importa o que aconteça."

Ela olhou para mim, seus olhos brilhando com algo que não consegui decifrar completamente. Míriam nos observava, um sorriso tranquilo no rosto.

"Vamos descansar," disse Míriam finalmente. "Amanhã é um novo dia, e precisamos estar preparados para o que vier."

Enquanto me deitava, senti um misto de emoções – alívio, gratidão e um sentimento crescente por Isabel que não podia mais negar. Mesmo que o nosso futuro estivesse cheio de incertezas e desafios, sabia que com ela e Míriam ao meu lado, poderíamos enfrentar qualquer coisa.

O amanhecer trouxe consigo um novo dia, mas a tensão da noite anterior ainda pairava no ar. Levantei-me cedo, decidido a fazer algo que pudesse trazer um pouco de alegria e esperança para Isabel, algo que fizesse diferença. Enquanto me vestia, a ideia começou a se formar em minha mente. Sabia que os costumes de 1800 eram rígidos, mas decidi que um gesto simples e sincero poderia romper essa rigidez.

Saí para o jardim do castelo, onde as flores estavam começando a desabrochar com a luz da manhã. Lembrei-me de como, em nosso tempo, um buquê de flores podia significar tanto. Escolhi cuidadosamente algumas rosas, as mais bonitas que pude encontrar, e amarrei-as com um pedaço de fita que encontrei no meu quarto. O buquê não era perfeito, mas era sincero.

Carregando as rosas, caminhei até o quarto de Isabel, sentindo uma mistura de nervosismo e determinação. Bati suavemente na porta, esperando que ela ainda estivesse descansando. Para minha surpresa, foi Míriam quem abriu a porta, um olhar curioso em seu rosto ao ver o buquê em minhas mãos.

"Leonardo," ela disse, surpresa. "O que você está fazendo com essas flores?"

"Bom dia, Míriam," respondi, tentando parecer calmo. "Queria falar com Isabel. É importante."

Ela sorriu levemente, entendendo. "Claro. Vou chamá-la."

Míriam desapareceu no quarto por um momento e voltou com Isabel, que estava vestida em um robe simples, mas elegante. Seu cabelo estava solto, caindo suavemente sobre seus ombros. Ao me ver com o buquê, seus olhos se arregalaram de surpresa.

"Leonardo, o que...?" começou ela, mas eu a interrompi suavemente.

"Isabel," disse, entregando-lhe as flores. "Eu sei que isso não é comum aqui, mas queria fazer algo especial. Algo que mostrasse o quanto você significa para mim."

Isabel pegou as flores, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. "São lindas, Leonardo. Mas por que...?"

"Porque," comecei, sentindo meu coração bater mais rápido, "há algo que preciso dizer. Algo que talvez seja difícil de expressar, mas não posso mais manter para mim."

Ela olhou para mim, seus olhos cheios de curiosidade e um pouco de preocupação. "O que é, Leonardo?"

Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. "Isabel, desde que cheguei aqui, você tem sido uma fonte constante de força e conforto. Em meio a tudo o que estamos enfrentando, você se tornou a pessoa que eu mais admiro e respeito. E, ao longo desse tempo, percebi que o que sinto por você vai além de qualquer acordo ou obrigação."

Seus olhos brilharam com emoção, mas ela permaneceu em silêncio, permitindo-me continuar.

"Eu... eu amo você, Isabel," disse finalmente, sentindo um peso sair de meus ombros. "E sei que nosso noivado começou por razões políticas, mas para mim, se tornou muito mais do que isso. Quero que nosso futuro seja baseado em amor e respeito, não apenas em um acordo."

Ela piscou, lágrimas começando a se formar em seus olhos. "Leonardo... eu não sei o que dizer."

"Não precisa dizer nada agora," continuei, tentando dar-lhe espaço para processar. "Só queria que você soubesse como me sinto. E que, independentemente de tudo, sempre estarei ao seu lado."

Isabel segurou as flores com firmeza, respirando profundamente. "Leonardo, eu... também sinto algo muito forte por você. Desde o início, sua presença tem sido uma âncora para mim. E, apesar das circunstâncias, comecei a perceber que meu coração pertence a você."

Um sorriso surgiu em meus lábios, sentindo uma alegria indescritível. "Isabel, isso significa muito para mim. Prometo que farei tudo ao meu alcance para que nosso futuro seja feliz."

Isabel deu um passo à frente, seus olhos ainda brilhando com lágrimas. "Vamos fazer isso juntos, Leonardo. Contra todas as expectativas, podemos encontrar felicidade."

Inclinei-me e beijei sua testa suavemente, sentindo a intensidade do momento. "Obrigado, Isabel. Vamos construir algo verdadeiro."

Ouvimos um leve pigarro e percebemos que Míriam estava observando a cena, um sorriso satisfeito em seu rosto. "Parece que finalmente vocês dois resolveram as coisas," disse ela, brincando.

Rimos juntos, sentindo a tensão da noite anterior se dissipar. Isabel olhou para Míriam, segurando sua mão. "Obrigada por estar sempre ao nosso lado, Míriam. E por ser uma amiga tão boa para nós."

"Claro," respondeu Míriam, sorrindo. "Sempre estarei aqui para vocês."

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