ISABEL
Estava no jardim, observando o nascer do sol e pensando nas últimas palavras de Leonardo, quando um servo veio correndo.
"Senhorita Isabel, a senhorita Míriam não está bem. O senhor Leonardo pediu sua ajuda."
Meu coração apertou. Míriam era como uma irmã para mim, e vê-la doente era angustiante. Corri para seu quarto, encontrando Leonardo ao lado dela, trocando compressas de água fria.
"Míriam," chamei suavemente ao entrar. Ela abriu os olhos lentamente, seu rosto estava pálido e febril.
"Isabel," murmurou, tentando sorrir. "Desculpe... incomodá-la."
"Não diga isso," respondi, sentando-me ao seu lado e pegando uma das compressas de Leonardo para substituí-la. "Estou aqui para ajudar."
Leonardo parecia aliviado com minha presença, mas não desviou os olhos preocupados de Míriam. "A febre não cede," disse, sua voz carregada de tensão.
"Vamos fazer o que pudermos," disse, tentando manter a calma. "Você consegue trazer mais água fresca, Leonardo?"
Ele assentiu e saiu rapidamente, deixando-me a sós com Míriam. Enquanto trocava as compressas, tentei encontrar algo para distraí-la do desconforto.
"Lembra-se de quando colhemos flores a uma sema ?" perguntei, tentando manter o tom leve. "Você fez uma coroa de flores tão bonita."
Ela sorriu fracamente. "Sim, me lembro. Você ficou linda com aquela coroa."
Ficamos em silêncio por um momento, até que ela começou a falar novamente, sua voz um pouco mais forte. "Isabel, posso lhe confessar algo?"
"Claro, Míriam," respondi, curiosa e preocupada. "Pode me dizer qualquer coisa."
"Estou preocupada," começou ela, respirando fundo. "Não só com essa febre, mas com tudo. Eu vejo como você olha para meu irmão. E vejo como ele olha para você."
Senti meu rosto corar, surpresa pela direção da conversa. "Míriam, eu... Leonardo é um homem incrível, mas nosso casamento é parte de um acordo. Não sei se é certo nutrir sentimentos que complicariam isso."
"Eu entendo," disse ela, apertando minha mão com a pouca força que lhe restava. "Mas o coração nem sempre segue a razão, não é? Eu vejo como ele se preocupa com você, Isabel. É mais do que apenas dever."
"Talvez," respondi, a voz baixa. "Mas mesmo que seja verdade, não posso permitir que isso interfira nos nossos deveres."
"Você merece ser feliz," sussurrou ela, fechando os olhos. "Ambos merecem."
Leonardo voltou com mais água, interrompendo nossa conversa. "Como ela está?" perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
"Ainda quente," respondi, trocando as compressas novamente. "Mas está consciente e falando."
Ele assentiu, visivelmente aliviado por um breve momento antes de a preocupação tomar conta novamente. "Precisamos baixar essa febre," disse, sua voz firme. "Vou procurar o médico do castelo se ela não melhorar logo."
Míriam abriu os olhos e tentou sorrir para o irmão. "Leo, você está sempre tão protetor. Mas estou feliz por isso."
"Você é minha irmã," disse ele, segurando sua mão. "Nada é mais importante do que sua saúde. E eu vou fazer tudo o que for necessário para você melhorar."
Ela assentiu lentamente, seus olhos se fechando novamente. Fiquei ao lado de Leonardo, trocando olhares preocupados. O peso do que Míriam dissera ainda pairava sobre mim, mas agora não era o momento para pensar nisso. Ela precisava de nós.
**Mais tarde naquela noite**
A febre de Míriam continuava alta. Eu e Leonardo nos revezávamos trocando as compressas e mantendo-a hidratada. Cada minuto que passava sem melhora aumentava minha preocupação.
"Ela está muito quente," sussurrei para Leonardo, tentando não deixar meu desespero transparecer. "E a febre não cede."
"Eu sei," respondeu ele, sua voz baixa e tensa. "Vou buscar o médico do castelo. Fique com ela, Isabel."
Assenti, observando enquanto ele saía rapidamente do quarto. Míriam abriu os olhos novamente, fraca mas consciente.
"Isabel," murmurou, sua voz quase inaudível. "Você se importa... de ficar aqui? Não quero ficar sozinha."
"Claro que fico," disse, segurando sua mão. "Não vou a lugar nenhum."
Ela tentou sorrir, mas estava claramente exausta. Fiquei ao seu lado, trocando as compressas e falando baixinho para mantê-la calma.
"Você é forte, Míriam," disse, mais para mim mesma do que para ela. "E vai sair dessa. Vamos cuidar de você."
O tempo parecia se arrastar enquanto esperava o retorno de Leonardo com o médico. O peso das palavras de Míriam e a responsabilidade de cuidar dela me mantinham alerta, mas também profundamente preocupada.
Finalmente, ouvi passos no corredor. Leonardo entrou com o médico do castelo, e eu me afastei para dar-lhes espaço. O médico examinou Míriam cuidadosamente, murmurando para si mesmo enquanto verificava sua febre e outros sinais vitais.
"Ela está muito febril," disse o médico finalmente, virando-se para nós. "Precisamos baixar essa febre imediatamente. Continuem com as compressas e mantenham-na hidratada. Vou preparar uma mistura de ervas que pode ajudar."
"Faremos o que for necessário," disse Leonardo, sua voz firme.
Enquanto o médico continuava a preparar a mistura de ervas, uma ideia improvável começou a se formar na minha mente. Lembrei-me de algo que minha babá fazia quando eu era criança e estava com febre alta. Parecia insano, mas talvez fosse o que precisávamos. A febre de Míriam não mostrava sinais de ceder, e o tempo era crucial.
"Leonardo," comecei, hesitante. "Tenho uma ideia. Pode parecer loucura, mas... quando eu era pequena e tinha febres altas, minha babá me levava até um lago para abaixar a temperatura rapidamente. O choque térmico, de alguma forma, ajudava."
Ele me olhou com surpresa e um misto de preocupação. "Um lago? Nesta hora da noite? E se piorar a situação?"
"Se não fizermos algo drástico, a febre pode piorar ainda mais," argumentei, tentando manter a voz firme. "Não podemos simplesmente esperar aqui e ver a febre subir. Temos que tentar."
Leonardo olhou para Míriam, que estava agora em um sono inquieto, a febre ainda a consumindo. Ele respirou fundo, claramente lutando com a decisão.
"Vamos tentar," disse finalmente, sua voz resoluta. "Mas temos que ser rápidos e cuidadosos."
Com a ajuda do médico e dos criados, envolvemos Míriam em cobertores quentes para a levarmos até o lago. Leonardo a carregou nos braços, e eu segui ao seu lado, segurando uma vela para iluminar o caminho. O ar da noite estava frio, e a tensão no ar era palpável.
Enquanto caminhávamos pelos jardins escuros, eu não conseguia evitar sentir uma pontada de medo. E se minha ideia não funcionasse? E se isso piorasse a condição de Míriam? Mas sabia que tínhamos que tentar. Leonardo, apesar de sua expressão tensa, parecia determinado.
"Leo, você confia em mim?" perguntei suavemente, sentindo a necessidade de alguma reafirmação.
"Isabel, você sempre foi uma pessoa sensata," respondeu ele, seus olhos encontrando os meus por um breve momento. "Se você acha que isso pode ajudar, eu confio em você."
Chegamos ao lago, a água escura refletindo a luz da lua. O som suave das ondas batendo contra a margem parecia quase tranquilizador. Leonardo cuidadosamente colocou Míriam na margem, ainda envolta nos cobertores.
"Vamos fazer isso devagar," disse, olhando para ele. "Precisamos mergulhá-la gradualmente para evitar um choque muito grande."
Com extremo cuidado, começamos a mergulhar Míriam na água fria, mantendo seu corpo envolto nos cobertores para minimizar o choque. Ela estremeceu, os olhos se abrindo brevemente em surpresa, mas depois fechou-os novamente, parecendo mais relaxada.
"Vai funcionar?" Leonardo perguntou, a voz cheia de esperança e medo.
"Só o tempo dirá," respondi, minha voz tremendo. "Mas temos que acreditar que sim."
Ficamos assim por alguns minutos, permitindo que a água fria fizesse seu trabalho. Finalmente, tiramos Míriam da água, envolvendo-a em novos cobertores secos e quentes. Voltamos rapidamente para o castelo, rezando para que a febre começasse a ceder.
De volta ao quarto de Míriam, a colocamos na cama, e o médico verificou sua condição novamente. Para nosso alívio, a febre parecia ter diminuído um pouco. Um sorriso de alívio cruzou meu rosto ao ver que ela estava mais calma e menos quente.
"Funcionou," disse Leonardo, a incredulidade misturada com alívio em sua voz. "Funcionou mesmo."
"Eu... eu não posso acreditar," respondi, sorrindo amplamente. "Foi uma loucura, mas funcionou."
Nosso alívio se transformou em uma risada nervosa, e antes que percebêssemos, nos abraçamos, comemorando a vitória. Mas rapidamente nos afastamos, ambos corando levemente, conscientes da intensidade do momento.
"Obrigado, Isabel," disse Leonardo, sua voz suave. "Você salvou minha irmã."
"Fizemos isso juntos," respondi, ainda sentindo a emoção do momento. "E estou tão aliviada que ela está melhor."
Passamos o resto da noite vigiando Míriam, que finalmente adormeceu em um sono tranquilo e reparador. A febre continuava a diminuir gradualmente, e pela manhã, ela parecia muito melhor.
"Leonardo," disse suavemente, enquanto ele olhava para Míriam com uma expressão de pura felicidade. "Acho que ela vai ficar bem."
"Graças a você," respondeu, virando-se para mim com um sorriso sincero. "E a essa sua ideia maluca."
Sorri de volta, sentindo uma mistura de alívio e felicidade. A tensão dos últimos dias parecia ter se dissipado um pouco, e por um momento, tudo parecia mais claro.
Com a chegada da manhã, o médico voltou para verificar Míriam novamente. Sua condição estava estável, e ele nos garantiu que o pior havia passado.
"Mantenham-na aquecida e hidratada," disse o médico, com um sorriso de aprovação. "Vocês fizeram um excelente trabalho."
Depois que o médico saiu, Leonardo e eu nos sentamos ao lado de Míriam, observando-a dormir pacificamente. A tensão entre nós tinha diminuído, substituída por uma compreensão silenciosa e um respeito mútuo.
"Você foi incrível," disse Leonardo, quebrando o silêncio. "Eu não sei o que teria feito sem você, Isabel."
"Eu só fiz o que qualquer um faria por alguém que ama," respondi, minhas palavras carregadas de mais significado do que pretendia.
Ele olhou para mim, seus olhos refletindo uma mistura de emoções. "Obrigado, Isabel. Por tudo."
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Atualizado até capítulo 20
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