Capítulo três

Leonardo

Já se passou uma semana desde a reunião sobre a carga e, desde então, tive que reforçar ainda mais a segurança da minha família, pois estávamos recebendo ameaças de todos os lados. Membros da máfia francesa estavam nos pressionando, e há quatro dias explodiram o carro de Miriam, o que me deixou extremamente preocupado. Se eles chegaram tão perto da nossa casa, o que os impedia de entrar e me atingir?

"Aqueles comilões de macarrão mandaram outra carta," Marcos entrou e jogou a carta em cima da minha mesa, desabando no sofá logo em seguida. "O que eles querem agora?" Peguei a carta e comecei a abri-la.

"Não sei, não tenho visão de raio-X," respondi, revirando os olhos. "E são os italianos que são conhecidos pelo macarrão, seu ignorante."

Ele riu e deu de ombros. Abri a carta lentamente – vai saber se não tinha algo ali que pudesse detonar uma bomba atômica ou algo do tipo.

"Se for abrir mais devagar, me avisa que vou até a cozinha preparar um lanche," Marcos falou, arrancando a carta das minhas mãos e a abrindo de uma vez, fazendo um gravador voar na minha direção e me dando um susto.

"Se fosse uma bomba, você já era, irmão," ele falou rindo.

Que maravilha, os franceses talvez não consigam me matar, mas Marcos vai acabar fazendo o serviço por eles. O gravador era simples, bem antigo também. "Caramba, minha bisavó tem um desses, moleque," ele pegou o aparelho e começou a examiná-lo, e logo apertou um botão antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

A voz que saiu era grossa, com um sotaque francês, o que indicava um modificador de voz. "Daqui a pouco vão surgir ninjas na janela," Marcos fez mais um comentário inoportuno.

No áudio, a pessoa falava que aos poucos eu perderia todos que amava, e para evitar isso, eu só precisava entregar a carga do próximo mês para eles. No final, ouvi uma voz familiar.

"Meu filho, está tudo bem, eu vou em paz, cuida desses cabeças de vento," e logo depois um som de tiro. Marcos largou o gravador na minha mesa e saiu correndo da minha sala. Sabíamos que aquela voz era de Maria.

Minha única reação foi ficar ali sentado, sem expressão, sem saber o que fazer. Como sabiam que Maria trabalhava para mim? E como tiveram coragem de matar uma idosa?

Levantei da cadeira e a chutei com força. "MIRIAM!" Desci as escadas correndo e comecei a chamá-la pela casa, entrei em todos os quartos e nada.

"ONDE ELA ESTÁ?" Passei por Marcos, que também a procurava.

"Não sei, senhor, não a vi o dia todo!" um dos seguranças gritou do topo da escada. Já tínhamos revirado a casa toda e nada dela.

Estávamos todos à beira do desespero, incapazes de chamar a polícia, pois, caso o fizesse, eu seria o primeiro a ser levado. Se Miriam tivesse sido sequestrada, provavelmente já estaria morta a estas alturas.

"Onde ela está, Leonardo?" Marcos se aproximou com um semblante mais pálido que o de um fantasma.

"Eu não sei," foi tudo o que consegui murmurar, sentindo o peso da situação me esmagar.

Os seguranças já estavam em alerta máximo, decididos a encontrar Miriam, viva ou morta. No entanto, a tensão foi quebrada quando a porta se abriu bruscamente e a sala foi invadida por sacolas de compras, antes mesmo dela aparecer com aquele típico sorriso radiante.

"Ah, oi, meninos," ela disse animada, enquanto Marcos corria em sua direção, a envolvendo em um abraço apertado. Ela não reagiu de imediato. "Eu fiz algo?"

Caminhei em sua direção com um discurso inteiro preparado na mente, mas tudo que consegui fazer foi abraçá-la. Só de pensar que poderia não tê-la protegido, meu mundo por um momento esteve completamente desfeito. Eu precisava protegê-la, assim como Marcos. Eles eram o mais próximo que eu tinha de uma família.

"O que houve?" Ela soltou as sacolas e me abraçou de volta.

"Nunca mais saia sem avisar," sussurrei em seu ouvido, e ela apenas concordou com a cabeça, apoiada em meu ombro.

Marcos, sempre com seu sarcasmo à flor da pele, tentou aliviar a tensão. "Vê se não nos mata do coração, Miriam. Já temos inimigos suficientes tentando fazer isso."

Miriam, mimada e acostumada a ser o centro das atenções, sorriu, ignorando o perigo que havia causado. "Eu só fui às compras, gente. Como vocês podem pensar que algo ruim me aconteceu?"

"Porque estamos em guerra, Miriam! Não é momento para passeios casuais ao shopping," retruquei, tentando manter a voz firme e distante, apesar do alívio que sentia.

Ela puxou uma expressão contrariada, claramente insatisfeita com minha falta de compreensão. "Tudo bem, tudo bem, prometo que da próxima vez eu aviso. Mas vocês também não precisam exagerar, tá?"

Marcos riu, balançando a cabeça. "Ela nunca vai aprender, vai, Leonardo?"

Encarei Miriam, reafirmando minha posição. "Isso não é brincadeira. Você precisa entender a gravidade da nossa situação."

Ela suspirou, resignada, mas o sorriso ainda brincava em seus lábios. "Tudo bem, meu guarda-costas. Vou tentar não causar mais sustos."

Apesar da leveza de suas palavras, eu sabia que precisávamos reforçar nossas medidas de segurança. Não podíamos nos dar ao luxo de mais descuidos. A máfia francesa ainda estava à nossa espreita, e a mensagem gravada era um lembrete sinistro de que a qualquer momento, tudo poderia mudar.

Observo Miriam por um momento, seu rosto ainda irradiando alegria pelpras que fez. Mas sei que essa felicidade está prestes a ser dilacerada. Respiro fundo, buscando coragem para dar a notícia que vai devastá-la.

"Miriam," chamo, minha voz soando mais séria do que de costume. Ela vira para mim, seus olhos agora cheios de preocupação. "Preciso falar sobre algo muito sério."

Seu sorriso desaparece, substituído pela ansiedade. "O que houve, Leonardo? É algo com minha família?"

"É sobre Maria, nossa cozinheira... e sua amiga," começo, sentindo um aperto no peito ao ver a expressão de Miriam mudar lentamente, compreendendo aos poucos a gravidade da situação.

Ela coloca a mão na boca, seus olhos se arregalando. "Não... por favor, não me diga que..."

"Sinto muito, Miriam," continuo, lutando para manter a compostura. "Maria foi assassinada. Eles a usaram para nos enviar uma mensagem."

Miriam solta um soluço, suas pernas fraquejando. Eu a seguro antes que ela caia, guiando-a até o sofá. As lágrimas começam a cair, e a dor em seu rosto é quase palpável. "Não... Maria não... ela era tão boa, tão doce. Por que... por que ela?"

Me sento ao seu lado, minha própria tristeza se misturando à dela. "Ela era incrível. Não merecia isso. Vamos buscar justiça para ela, Miriam, eu prometo."

"Como... como vamos viver sem ela, Leonardo?" ela soluça, e eu sinto um aperto no coração. "Ela era parte de nossa vida."

"Eu sei," digo, abraçando-a com força. "Ela sempre será lembrada assim. Vamos honrar sua memória, Miriam. Não vamos deixar que isso fique impune."

Ela se aninha contra mim, buscando conforto. Sinto o peso da responsabilidade ainda mais forte em meus ombros. Prometo a mim mesmo encontrar quem fez isso, custe o que custar. Maria merece ser lembrada como a pessoa incrível que era e, como irmão, devo proteger Miriam de todo mal que nos cerca.

A noite logo chegou então subo para meu quarto, aquele dia havia me destruído por mais que Maria não fosse do meu sangue ela ainda era família e sua perda me atingiu diretamente, abro uma velha caixa que meu antigo chefe havia deixado para mim nela estava o poema que mais me espirava escrito por ele.

No reino sombrio das ruas que comando,

Governo com ferro e fogo, punho pesado.

Mas ao cruzar a soleira de nosso lar sagrado,

Deponho armas, abrindo o coração que tanto guardo.

Filhos meus, joias raras mais preciosas que ouro,

Em vossos olhos brilha a luz que guia meus dias.

Minha força, minha luta, por vós eu imploro,

Proteção divina contra as noites mais frias.

Esposa querida, porto seguro de minhas tempestades,

Teu amor é o bálsamo que suaviza minhas guerras.

Na suavidade de teus braços, encontro serenidade,

Longe do mundo onde imperam minhas feras.

Mãe e pai, meus pilares, minha base,

Ensinaram-me a ser duro, mas justo e leal.

Por vocês, mantenho firme a minha face,

Mesmo quando o dever me chama ao embate mortal.

Que estas palavras escritas com sangue e alma

Sirvam de testemunho do amor que aqui jaz.

Mesmo envolto em sombras e armadura de calma,

Meu coração pertence à família, nosso eterno e doce lar.

Peço que guardem estas linhas, como guardo vocês,

No mais profundo e seguro cofre, meu peito calejado.

Aqui, na escuridão das ruas, sou rei, senhor das leis,

Mas em casa, sou apenas um homem, por seu amor, abençoado.

Aquele poema, de alguma forma, me mostrava que um homem poderia sim demonstrar que se importa com a família e, ao mesmo tempo, ser forte. No entanto, ainda não sabia como proteger minha família, considerando que os franceses tinham mais informações sobre minha casa e minha família do que eu imaginava. E se alguém estivesse me traindo ali, eu nem mesmo saberia, já que sou completamente ignorante e incapaz de diferenciar até mesmo quem trabalha para mim. Às vezes, penso que os ataques psicológicos de minha tia eram verdadeiros. Coisas como "você é um fracassado!" ficam vagando em minha mente e, como consequência, roubam meu sono.

Por um momento, permito-me observar meu quarto. Tinha uma enorme coleção de moedas de épocas diferentes, não sei o porquê, mas gostava delas. As paredes do meu quarto eram em cinza e preto. A maioria das coisas era preta, mas algo em específico parecia não pertencer ali: um urso azul claro.

Minha mãe havia me dado antes de tudo que aconteceu. Ele me lembrava que pode sim haver algo bom em meio a tanta confusão. Às vezes, penso na vida da minha tia, se ainda está viva ou se já morreu.

Espero que ela não tenha ficado responsável por nenhuma outra criança, já que com toda certeza as teria matado. E se eu e Miriam não tivéssemos fugido, com certeza estaríamos jogados em alguma vala ou em algum mercado ilegal. Ligo a TV e percebo que apenas desgraças acontecem no mundo: enchentes no Brasil, fome no mundo e pessoas brigando por políticas. 2024 não está fácil para ninguém mesmo.

"TOC TOC" A voz de Miriam me faz olhar para a porta e vê-la de pijama do Mickey e pantufas rosa.

Viro a cabeça para o travesseiro e começo a rir.

Sua carinha fica vermelha de ódio e seus olhos azuis ficam semirrados. Estava na minha frente um ser de 1,60m, loira e completamente brava comigo.

"Não ria de mim, seu ignorante," ela me joga alguma coisa que acaba doendo no olho e vejo que foi o controle do ar-condicionado.

"Fala logo o que você quer?" Dou de ombros e pego um balde de pipocas, sentando na minha cama. "Não me lembro de ter deixado você vir para o meu quarto!"

Ergo as sobrancelhas e ela me olha com os olhos marejados. "Só queria um lugar seguro." Ela se levanta para sair, mas a seguro pela mão.

Sabia que a dor de perder Maria a tinha afetado muito mais do que a mim, já que ela a tinha como uma mãe.

"Quer ver o quê?" Ela me dá um leve sorriso.

"O mesmo filme de sempre." Reviro os olhos, já tínhamos visto aquele filme um milhão de vezes, mas não falo nada e o coloco na TV.

A noite estava tranquila até meu celular tocar. Não suporto o som, então atendo logo no segundo toque. Era Marcos, e o barulho de fundo estava muito alto, indicando que ele estava fora de casa.

"ALÔ? MARCOS, O QUE FOI?" Ele soluçava, parecia que estava chorando.

"MARCO?" Levanto e Miriam já começa a apertar meu braço, preocupada.

"Cuida dela, irmão," ele sussurra.

"ONDE VOCÊ ESTÁ? O QUE ESTÁ ACONTECENDO?" E de repente, um som de tiro.

Levanto num pulo da minha cama, e do outro lado só ouço uma respiração pesada e uma risada.

"40 milhões ou a próxima é sua irmãzinha," deixo o celular cair.

Olho para Miriam, incapaz de reagir.

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