CAPÍTULO SETE

LEONARDO

Pássaros, galinhas, mais galinhas e, adivinhem, mais galinhas, e muito, muito mato. Basicamente, esse foi o resultado de uma semana nessa carruagem apertada, indo para o reino dessa tal de Isabel.

"Acha mesmo que eles vão me aceitar?" pergunto para Míriam, que estava olhando pela janela da carruagem. "Olha para mim, tenho mais de 40 tatuagens, algumas em lugares que qualquer uma dessas 'donzelas' cairiam mortas se tivessem contato. Sem falar que nunca quis me casar."

Ela apenas ignora, com um olhar que diz: "Você acha mesmo que tem opção?" E se ela falasse, eu diria que sim, já que aquele gato maldito me deu duas opções: me amarrar a uma princesa chorona ou virar peneira de bala dos meus inimigos. Para falar a verdade, ainda acho que morri e isso aqui é o purgatório.

"E você? Aprendeu alguma coisa?" Ela finalmente me dá atenção. "Passou a semana toda tendo aulas com aquele zangão."

Zangão foi o apelido que dei para aquele sujeito de 90 centímetros de altura, que só sabia me bater com a porra daquele bastão dele. Por semanas, infernizei a vida dele perguntando como andava a Branca de Neve. Acredito que devo ter merecido algumas das pancadas.

"Bem, eu aprendi um pouco de grego, francês e mandarim..."

"Mandarim? Quem fala mandarim?" pergunto, indignado por ela ter aprendido tanta coisa em apenas três semanas.

"Sem falar que aprendi etiqueta, um pouco sobre a moda dessa época e os costumes. E sobre mandarim, vai que um príncipe que fale essa língua me peça em noivado?" Ela olha para a mão. "Vai ficar lindo com uma aliança enorme."

Apenas sorrio. Por sorte, sou eu quem está tendo que enfrentar os perigos do casamento e não Míriam. Para mim, é fácil escutar o mimi de uma princesa. Não sei se suportaria vê-la tendo que ser submissa a um homem que pode simplesmente rejeitá-la com sete filhos. Entre isso, descobri que a falta de internet faz a fofoca circular ainda mais rápido. Ontem mesmo descobri que Katherine, irmã de um conde, foi vista sozinha com um homem, acreditam? Sim, são esses os tipos de fofocas mais perturbadoras. Mal sabem eles que, em 2024, os casais fazem sexo em público e ainda convidam mais gente para participar. Tem mulher que anda mais com macho do que com mulher, e tem lá suas vantagens, segurança, digamos.

"Chegamos, vossa alteza." A carruagem para em frente a um enorme castelo. Ele tinha uma espécie de...

"Cara, esse castelo parece que tem um véu de luto nele, mó sinistro." Míriam completa meus pensamentos sem saber.

Até mesmo o castelo do zangão era mais animado. Nele, tinha um cara pequeno ameaçando pessoas, era engraçado. Agora, tenho que aceitar esse circo que está se formando aqui. Logo entramos no castelo e percebo que as preparações para o tal baile de noivado estavam a todo vapor. Quem inventou a valsa, hein? Porque os pés de Míriam, que pratica balé há anos, estão com uns cinco dedos faltando de tanto que eu pisei tentando aprender isso. Tenho dois pés esquerdos. Por outro lado, luta com espadas foi fácil, o treinamento com a máfia me ajudou muito.

"Príncipe Leonardo," uma mulher de uns 40 anos se aproxima da gente. "Princesa Míriam," a mesma se curva para ambos. "Por favor, nos acompanhem. Mostrarei vossos aposentos."

Acompanhamos a mulher escada acima. Que falta faz um elevador! Logo percebemos que tudo o que falavam sobre os reinos nas histórias era verdade. A maioria das coisas era notavelmente de ouro, e com toda certeza, com todo esse ouro, dava para salvar muitas vidas. Percebo que Míriam foi para outra direção. Já estava acostumado a me separar dela; ela sabia se virar nesta época melhor que eu.

"Aqui é seu quarto, vossa alteza." As portas se abrem e o quarto era maior que o necessário, era tudo o que eu poderia descrever. Parecia o quarto daquela princesa do filme da Barbie que vi com Míriam, aquele da ilha, sabe? Então, o quarto era bem parecido. "Seu acompanhante está à sua espera para os preparativos para o baile desta noite, alteza."

A mulher era fria. Basicamente, tudo nesse reino era frio e sem vida. Até eu, que mexo com a morte todos os dias, sentia um arrepio aqui. Parecia algo inacabado, algo incompleto, uma sensação ruim.

"Vossa alteza," um homem loiro se curva. "Sou Mike, serei seu acompanhante no reino e fora dele quando os acordos forem selados esta noite." Legal, o cara parecia um advogado vestido de pinguim. Interessante.

Agora sei de onde saiu a bata de formandos do ensino médio e das faculdades. Com certeza, o povo vem pegar aqui, porque já vi uns cinco usando umas dessas. Daqui a pouco, vão jogar o chapeuzinho e gritar o ano de formatura.

Ao abrir a pesada porta de carvalho, fui imediatamente envolvido pela opulência do quarto do príncipe. Esse lugar exalava uma aura de poder e autoridade, exatamente como se espera de alguém que comanda com punho de ferro. A luz suave das velas espalhadas pelo aposento lançava sombras dançantes nas paredes, criando um espetáculo que parecia saído de um sonho, ou talvez de um pesadelo.

O piso de madeira brilhava sob a iluminação trêmula, com tapetes persas ricamente ornamentados em pontos estratégicos, adicionando um toque de sofisticação. No centro, um dossel imponente dominava a cena. A cama, esculpida em mogno, estava coberta com lençóis de linho branco e travesseiros macios, todos bordados com o brasão da família real. O dossel de seda dourada pendia em pregas elegantes, criando um refúgio quase sagrado para o príncipe.

Ao lado da cama, uma mesinha de mármore segurava um candelabro de prata trabalhada. As velas, agora acesas, exalavam um leve aroma de cera de abelha, enchendo o ar com uma sensação de calma e tranquilidade. Próximo, uma lareira de mármore branco, enfeitada com arabescos dourados, emanava um calor suave, seu brilho laranja refletindo nas paredes e móveis. Acima da lareira, um retrato do antepassado mais ilustre do príncipe olhava severamente para o aposento, seus olhos parecendo seguir cada movimento.

As paredes estavam cobertas com tapeçarias que narravam cenas de batalhas gloriosas e caçadas reais, contrastando com os painéis de madeira escura que revestiam o resto do espaço. Em um canto, um armário de ébano guardava trajes finamente tecidos e armaduras brilhantes, um símbolo da dualidade da vida de um príncipe, dividido entre a elegância e a guerra.

Uma escrivaninha de mogno, com pilhas ordenadas de correspondências e documentos importantes, deixava claro que os negócios nunca paravam, nem mesmo de noite. Sobre ela, uma pena de escrever repousava em um tinteiro de cristal, pronta para registrar decisões que moldariam o destino de muitos.

Cada detalhe do quarto parecia cuidadosamente escolhido para refletir não apenas a riqueza e o poder, mas também o peso das responsabilidades que vinham com a posição de um príncipe. Era um espaço onde luxo e dever coexistiam em uma harmonia delicada, servindo como um lembrete constante do papel singular que ele estava destinado a desempenhar, mesmo na quietude da noite. Um lugar que gritava poder, influência e a constante vigilância de alguém que sabe exatamente o que está em jogo.

Era impressionante. Qualquer um que gostasse de detalhes iria prestar atenção em todos eles, e era exatamente o que eu estava fazendo. Não era algo que eu deixava outros saberem, mas eu costumava ser bem perfeccionista, e esse quarto com toda certeza era um exemplo disso.

"Algum problema, meu senhor?" o empregado perguntou, aproximando-se com uma roupa.

"Não," respondi. Ele se aproximou e começou a me analisar.

"Ouvi dizer que a princesa vestirá azul hoje no baile, então um traje azul será adequado para o senhor também," ele disse, andando ao meu redor. "Por sorte, essas pinturas serão escondidas por baixo do seu vestuário."

"Que bom, não quero assustar a donzela," respondi, e ele apenas sorriu.

Sem preconceitos, mas esse cara tinha um jeito de gay. Ele poderia até ser, mas pelo ano, acredito que tenha que esconder isso.

Logo ele voltou com outra roupa. Era até bonita, mas eu gostava dessas roupas por algum motivo. Era elegante, ao contrário de como os homens se vestem no meu tempo. Será que tenho que parar de falar "meu tempo"? Até porque, pelo que sei, estou preso aqui graças àquele gato e ao zangão.

Logo, os sinos na cidade da frente começaram a tocar, e todos começaram a gritar alguma coisa. O homem que me vestia apenas negou com a cabeça, indicando algo. Uma música começou a tocar, e parecia que o povo estava dançando lá embaixo.

"O que está acontecendo?" perguntei, e o homem me olhou como se eu tivesse matado o Papa Francisco.

"Não sabe do rato que ronda o castelo?" Olhei para ele.

"Eles estão cantando e dançando graças a um rato?" pensei na palavra. "Ah, um ladrão, né?"

"Sim, senhor. Ele entra nas despensas do castelo e rouba comida para distribuir ao povo da cidade," ele respondeu.

"E isso é ruim?" ele pensou por um momento.

"Vossa Alteza, ele está roubando do Rei, e há uma recompensa para quem o pegar vivo ou morto," ele terminou de me vestir.

Se eu trombar com esse cara, o máximo que vou fazer é fingir sonambulismo e demência. Fala sério, o povo passa fome, trabalha noite e dia, e o rei quer matar um cara por roubar comida? Pau no roda dele.

"O baile começa em minutos," ele disse, olhando para um relógio de bolso que achei muito bonito. "Algum problema, Vossa Alteza?"

"Onde conseguiu esse relógio?" perguntei. Ele arqueou as sobrancelhas.

"Foi dado a mim por meu pai, senhor. É algo de família," ele respondeu, e eu apenas assenti com a cabeça.

"Vamos, o baile já deve ter se iniciado," comecei a andar e percebi como o castelo tinha segurança. Um monte de soldados andava de um lado para o outro nos corredores. Esse tal ladrão deveria saber bem como roubar.

E lá estava eu, em frente a uma grande porta, prestes a encontrar uma noiva que nunca nem vi na vida e com quem terei que casar para manter minha irmã viva. Eita vidinha boa essa minha, viu!

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