CAPÍTULO QUIZE

LEONARDO

Do alto daquela torre, a vista era espetacular. O reino se estendia majestosamente, ainda intocado pela poluição do século vinte. Enquanto me perdia na paisagem, um miado agudo cortou o silêncio, seguido por uma voz grave que parecia surreal vindo daquele pequeno gato.

"Apreciando a bela vista?" ele perguntou, com um tom que insinuava mais do que uma simples curiosidade. Revirei os olhos. "Deveria estar grato por estar neste mundo, Leonardo. Não está se apaixonando por Isaaaabel?" Ele esticou seu nome, se espreguiçando logo após.

"Por que me trouxe para cá? Por que eu?" perguntei, enquanto ele calmamente lambia as patas.

"Destino, talvez," respondeu, despretensioso. A ideia de estar conversando com um gato sobre destino era absurdamente estranha. "Mas, posso te mandar de volta," continuou ele, começando a se enrolar e lamber sua barriga.

"Para virar peneira naquele beco com Miriam? Não, obrigado," eu disse, ainda processando a situação.

"Posso mudar isso. Eu te mando de volta com uma vida normal, e nem você nem Isabel se lembrarão de nada que aconteceu aqui."

"Mas com quem ela vai casar?" perguntei, quase sem querer saber a resposta.

"Com o Conde, como estava destinado. Ela não será feliz, mas sobreviverá," ele disse casualmente, como se isso fosse o menor dos problemas.

A possibilidade de voltar para uma vida normal tinha sido meu desejo por meses, mas agora, por que eu estava hesitante? Pensei por um longo tempo, e quando olhei novamente, o gato tinha desaparecido. Isabel estava na porta, e parecia ser a hora de contar a verdade para ela e ser sincero comigo mesmo.

As semanas em que fui ignorado por ela foram angustiantes. Isabel evitava minha presença ao máximo, e aquilo parecia muito infantil de sua parte. No jantar, o clima estava particularmente tenso, e por algum motivo, o Conde evitava insultar a mim ou a Isabel, limitando-se a conversar com o Rei.

"O que está achando da sopa, Príncipe?" perguntou ele. Coloquei mais uma colherada da sopa na boca e logo senti um formigamento em minha garganta. "Está bem?"

Ele tinha um sorriso maléfico nos lábios. Quando Miriam gritou que havia morangos na sopa, entendi o motivo. Aquele desgraçado tinha tentado me matar. Eu estava no chão, apenas conseguindo olhar para Isabel, que falou algo antes de correr para longe. Minha respiração estava cada vez mais pesada, e eu não tinha forças nem para levantar minha cabeça do chão. Aquilo certamente me levaria à morte, mas logo vi um brilho de luz forte. Nas minhas últimas forças, apenas sussurrei:

"Eu quero ficar."

Tudo se apagou, e lá ia eu para mais um sono mágico. Para onde agora? Uma viagem para 500 anos antes de Cristo?

Mas não, eu acordo em minha cama, cercado por rostos conhecidos, incluindo o do Conde, que parece nada feliz ao ver meus olhos se abrindo.

"ELE ACORDOU!" Míriam gritou, e logo sinto seu corpo se jogando sobre o meu em um abraço apertado.

"Você está de volta," a voz de Isabel soa doce como um torrão de açúcar.

Eu poderia ficar ali, apreciando as duas mulheres que mais me importavam, mas à minha frente estava aquele desgraçado, e eu não podia deixá-lo tentar me matar mais uma vez.

"Foi ele quem tentou me matar," falo ainda fraco, apontando para o Conde, que reage com surpresa e seus olhos ficam cobertos de medo.

A acusação faz com que todos na sala se voltem para ele. O Conde, percebendo que estava em uma posição comprometedora, rapidamente tenta se defender.

"Isso é um absurdo! Por que eu faria uma coisa dessas?" Sua voz treme um pouco, revelando seu nervosismo.

"Você colocou morangos na minha sopa, sabendo que sou alérgico," continuo, minha voz ganhando força à medida que a raiva crescia dentro de mim. "E você é o único que se beneficiaria com minha morte, herdar minha posição ao lado de Isabel."

O silêncio que se segue é tenso. Todos olham para o Conde, esperando por sua resposta. O Rei, que até então observava a cena com uma expressão indecifrável, finalmente se levanta.

"Nós vamos investigar essa acusação," anuncia ele com uma voz que não admite contestação. "Até lá, o Conde será mantido sob vigilância."

O Conde tenta protestar, mas dois guardas se aproximam, indicando que não haveria discussão. Enquanto ele é escoltado para fora do quarto, Isabel se aproxima de mim, sua expressão misturando alívio e preocupação.

"Você realmente quer ficar aqui, sabendo que sua vida corre perigo?" ela pergunta, a preocupação evidente em seus olhos.

Eu pego sua mão, entrelaçando nossos dedos. "Eu escolhi ficar, Isabel. E vou lutar para garantir que nossa história tenha um final feliz, sem ameaças."

Isabel sorri, um sorriso que aquece meu coração. "Então vamos lutar juntos," diz ela, com uma determinação que me dá ainda mais certeza de que fiz a escolha certa.

Ao longe, os gritos do Conde ecoavam pelos corredores do castelo. Míriam segurava minha mão com firmeza, enquanto Ricardo permanecia encostado na porta, de braços cruzados.

"Eu deveria ir lá e dar uma surra naquele desgraçado," disse ele. "Onde já se viu matar um homem dessa forma!"

"Ainda bem que ele falhou," completou Isabel, segurando minha mão e sorrindo.

"Por sorte, a quantidade de morangos na sua sopa não foi suficiente para matá-lo," disse o Rei, sem muita preocupação. "Agora vou me resolver com esse Conde."

Ele saiu, deixando-nos na sala. Percebi que Isabel ficou desconfortável com a saída dele, algo parecia incomodá-la, e não fui o único a perceber.

"O que está passando pela sua cabeça, cabeça de vento?" perguntou Ricardo. Ela olhou para todos nós e se aproximou mais da cama.

"Acho que o Rei tem algo a ver com esse atentado também," disse ela. Ficamos todos sem reação. "Não é estranho como ele e o Conde são próximos?"

Por um momento, lembrei-me de que quando caí no chão, apenas o Rei e o Conde permaneceram sentados, como se já esperassem por isso.

"Mas Isabel, seu pai é o Rei," lembrou Míriam. "Por que ele faria isso?"

"Porque acho que não é a primeira vez que ele tira uma vida," disse ela, segurando um colar que sempre percebi que usava.

"Como vamos descobrir isso?" perguntou Ricardo, sem um pingo de remorso. "O que esperam, que eu queira o bem daquele aproveitador?"

Não pude conter um sorriso. O ódio pelo Rei era um sentimento que todos naquela sala compartilhavam, até mesmo o ladrão do castelo era mais amado que ele.

"Ele foi falar com o Conde, não foi? Esta é a hora, vamos lá!"

Nos entreolhamos, e eu me levantei. "Vamos, minhas filhas. Esses vestidos não facilitam para corrermos rápido."

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