LEONARDO
Já havia se passado uma semana desde o enterro de Marcos. Eu mal conseguia respirar direito e, mesmo assim, ainda estava tentando proteger Miriam. Não podia deixar que a machucassem.
"Irmão", ela aparece na porta do meu escritório. "Posso entrar?"
Desde que ela perdeu Maria e Marcos no mesmo dia, nunca mais conseguiu ficar sozinha. Então tento me manter presente 100% do tempo.
"Estou em reunião agora!" Ela me olha com seus olhos azuis e se senta na poltrona, quietinha. "Não quero saber, quero a cabeça desse desgraçado cervo em uma bandeja", falo e fecho o notebook.
"Ainda não acharam os responsáveis?" Nego e me sento ao seu lado. "Promete que não vai morrer também?" Miriam era como uma criança; tinha 19 anos, mas o coração de uma criança de 5.
"Prometo", beijo sua cabeça e a abraço.
Não sabia quem mais precisava daquele abraço, eu ou ela. Ficamos abraçados por um tempo até meu celular tocar.
"Alô", era a voz de Celine, uma pessoa insistente que não saía do meu pé. Desligo o celular e Miriam me olha. "Estavam perguntando se eu queria marmita." Ela só sorri e se levanta.
"Podemos sair para comer algo?" Olho para ela queria negar por tudo que está acontecendo, mas acabo cedendo.
"Contanto que seja dentro do carro", ela concorda, e logo sai mais animada do que quando entrou, o que era ótimo.
Tudo na casa nos lembrava Marcos, até mesmo os quadros obscenos que ele fez questão de pendurar no corredor até seu quarto. Antes dele se envolver com Miriam, eu quis matá-lo por desejar ela, mas percebi que ele a fazia feliz e nunca a desrespeitou, pelo menos não que eu saiba, pois ele sabia que se a machucasse eu o jogaria amarrado pelos pés da ponte e o deixaria pendurado lá por dias.
Mas agora tudo o que eu queria era que ela o odiasse, ou que eu o odiasse, para que sua morte não machucasse tanto a ela. Eu estava acostumado a perder pessoas e imaginava que isso poderia acontecer, mas não tão cedo. Quem vive no crime sabe que a qualquer momento uma bala pode achar sua cabeça ou coração e te levar de arrasto em minutos.
"Estou pronta, vamos?" ela desce as escadas e vejo que escolheu a roupa mais longa e preta que encontrou pelo jeito.
"Está quente lá fora, tem certeza que vai assim?" Ela olha para uma foto nossa na parede. "Sim, ele ia gostar."
Dou de ombros e logo saímos. Estava realmente quente naquele dia, então resolvemos passar em um drive-thru para comer algo gelado.
"O que você quer?" Ela olha o cardápio.
"Um Mec e um Milk Shake de morango", concordo e logo faço meu pedido junto. Parecido, mas mudo o sabor para chocolate porque odeio morango. Além de ser alérgico àquela fruta maldita.
"Hmm, está com cheiro bom." Eu apenas olho para ela e reviro os olhos. "O quê? Não é porque você odeia algo que todo mundo deve odiar também!"
Eu era um cara de 1,80m com um monte de tatuagem e músculos. Como eu não ia sentir raiva, tendo a fraqueza igual a porra do Super-Homem? Que uma pedra faz ele virar um bosta? Já eu, é a porra de um morango que pode me matar.
Claro, aqui está a correção do texto:
Estava tudo bem. Miriam bebia sua bebida mortal e eu mexia no celular, esperando ela terminar. Mas por algum motivo, Miriam tinha o sensor ativado para animais de rua. Foi quando ela viu um gato preto entrando em um beco; ele parecia estar mancando de uma pata. Sem que eu percebesse, ela abriu a porta e saiu correndo do carro.
"Miriam, volte aqui!" gritei para ela, mas fui totalmente ignorado. Fui atrás dela e logo entramos onde o maldito gato entrou.
Ele estava assustado, todo preto com olhos azuis. Miriam tentou se aproximar dele, mas o bicho inchou como um baiacu.
"Cuidado, ele pode te jogar espinhos como um ouriço," eu avisei, mas Miriam revirou os olhos.
"Xii, sua voz vai assustá-lo," ela sussurrou. O gato era surtado e a culpa era da minha voz?
Fiquei de braços cruzados, observando a luta dela para pegá-lo. Por um momento, desejei estar em algum lugar onde Miriam pudesse perseguir gatos sem medo.
Não demorou muito até que seguranças começassem a nos cercar. Nesse ponto, Miriam já estava com o gato nos braços, e eu não entendia nada até ouvir os tiros.
Nos abaixamos atrás de latas enquanto o gato miava desesperadamente, e Miriam tentava acalmá-lo.
"Onde eles estão?" perguntei, engatilhando minha arma, mas senti a mão de Miriam segurando meu braço enquanto ela chorava. "Vou ficar bem."
Ela negou com a cabeça e abraçou o gato mais forte.
"Eu quero sair daqui!" ela gritou, e de repente, todo o barulho cessou. Um sono que não era deste mundo me consumiu, e eu desmaiei no chão.
Era estranho; o chão parecia incrivelmente confortável, mas o barulho das galinhas estava me tirando do sério. Espera um minuto, galinhas?
Abro os olhos e percebo que onde quer que eu estivesse, não era um beco. Estava luxuoso demais para isso. "Vossa alteza", as portas do quarto se abrem, revelando um homem vestido como um pinguim, olhando-me seriamente. "Vejo que acordou. Temos muito a fazer esta manhã, senhor."
Ele começa a abrir as cortinas e eu não consigo entender o que está acontecendo. "Onde estou?", são as únicas palavras que consigo dizer.
"Creio que o senhor exagerou no vinho na noite passada, senhor", ele fala, tirando as cobertas de cima de mim.
"O que você está fazendo?", pergunto, confuso, enquanto ele escolhe roupas do armário.
"Escolhendo suas roupas, como todas as manhãs, vossa alteza", ele responde, como se fosse óbvio, enquanto eu levanto as sobrancelhas.
"MIRIAM!" Grito, e o homem me olha como se minhas palavras fossem engraçadas. "Onde está minha irmã?"
Ele me olha enquanto me levanto e percebo que estou vestido com um robe. "Senhor, a princesa está no chá com as damas da corte. Vista-se, senhor."
Eu me sinto perdido, olhando pela janela e vendo um lugar simples, como uma cena de filme antigo. Isso não parece de forma alguma o ano de 2024 ou qualquer ano próximo.
O quarto é espaçoso e opulento, com paredes cobertas por um rico papel de parede em tons de azul e dourado. Um tapete persa macio e luxuoso cobre o chão de madeira polida. Há uma cama grande e majestosa no centro, com dossel e cortinas de seda. Ao redor do quarto, móveis elegantes, como uma cômoda de mogno e uma poltrona estofada, completam a decoração. A luz do sol entra pelas janelas amplas, destacando as delicadas rendas das cortinas.
"Depois que o senhor estiver pronto, poderá se juntar à princesa", o homem diz, finalizando o processo de me vestir. Sinto-me como uma criança sendo arrumada.
Após ele terminar, finalmente saio do quarto e começo a andar pelo corredor, percebendo que o homem continua atrás de mim como uma sombra.
"MIRIAM!" Grito pela sala e escuto sua voz vindo de uma sala vizinha.
"LEONARDO!" Ela me olha e corre em minha direção, vestida como uma verdadeira princesa, com um vestido rosa cheio de brilhos, parecendo uma Barbie assustada. "Onde estamos?"
Nego com a cabeça e a abraço enquanto na mesa algumas mulheres cochicham algo.
"Por que elas me chamam de princesa?" Continuo negando, mais confuso do que nunca.
"Não faço ideia, mas você está parecendo uma Barbie", ela sorri.
"Vossa alteza, o senhor tem um encontro com o rei agora", o mesmo homem do quarto fala atrás de mim, e Miriam segura minha mão com firmeza.
"Se não nos machucaram até agora, então não vão fazer isso. Fique aqui, eu vou voltar", ela concorda, voltando a se sentar com as outras mulheres.
Logo, o homem muda a ordem e começa a andar na minha frente, aparentemente me guiando até outra sala. Aquele lugar era enorme, com lustres quase do meu tamanho, fazendo-me sentir pequeno ali.
Havia arte nas paredes, esculturas de gesso e estátuas de homens e mulheres nus, sem braços ou pernas, além de quadros enormes pintados à mão. Eu estava em um cenário real de filme de época, completamente fora do lugar e do tempo.
Logo chegamos a uma sala com uma porta enorme. Eu não fazia ideia do porquê de ser tão grande, dava pra passar um gigante ali sem precisar se abaixar.
"Ta porra, porta grande," comentei, e o pinguim me olhou como se eu tivesse ofendido a mãe dele. "Que foi?"
Ele apenas negou com a cabeça. Logo, a porta se abriu, e o pinguim se curvou para alguém sentado à nossa frente, um homem segurando uma espécie de cajado. Legal, vamos brincar de Harry Potter.
"Opa, tranquilo?" falei entrando. O homem, ou seja lá o que fosse, se levantou e começou a descer as escadas, mas o foda é que a cada degrau ele ia diminuindo. "Tá explicado a escada," comentei, vendo-o andar na minha direção. Quando percebi, o anão bateu o cajado no meu pé.
"AII!" gritei de dor, e o pinguim começou a rir e saiu fechando as portas. "Por que fez isso?"
Ele não disse nada, apenas me olhou sério. Ele devia ter uns 90 centímetros de altura, meio gordinho, com um nariz pontudo.
"LEONARDO!" ele gritou com uma voz de quem está gripado e com nariz entupido.
"Presente," respondi, e o bixim tacou o cajado no meu pé novamente. "Calado!"
Se eu tivesse minha arma, já teria dado um tiro nesse menor. Menor mesmo!
"Leonardo de 2024," ele começou a andar de um lado para o outro. "O que faz no meu reino?"
"Ixi, fi, se tu não sabe, imagina eu," respondi, e ele semicerrou os olhos, andando na minha direção.
"Em que confusão você se meteu para ser salvo pelo meu gato?" Dei de ombros.
"Com todo respeito, vossa excelência, eu não tenho culpa desse B.O., não. Eu tava cercado com minha irmã em um beco quando ela segurava um gato que tava machucado. Ela gritou pedindo pra sair de lá e, do nada, a gente acordou aqui sem entender porra nenhuma," despejei tudo de uma vez.
"Hum," ele continuou andando. Era muito engraçado. "Isso só aconteceria se alguém daqui desejasse também, mas quem?"
Não demorou muito e escutamos um miau. O gato surgiu do nada, parecia aquele bixinho verde de orelhas pontudas de um anime antigo.
"Olha você aí, Migal. Agora explique para mim por que trouxe dois visitantes ao meu reino," o homem pediu, e o gato só se jogou no chão e começou a se lamber.
"Não espera mesmo que ele responda, né?" Olhei para o gato e para ele.
"Tem tão pouca fé assim?" O diabo do gato falou, e o pior, ele tinha a voz daquele gato de Alice no País das Maravilhas, tá ligado?
"Você falou?" Olhei incrédulo para o gato.
"Humanos," ele continuou se lambendo e começou a andar. "Uma velha amiga minha precisa da sua ajuda."
Olhei em volta e não vi ninguém mais na sala. Espero que não surja uma Bellatrix doida do nada.
"Quem?" Olhei para o gato e para o homem pequeno.
"O nome dela é Isabel. Você precisa se casar com ela para salvá-la."
"Hahahaha, me casar? Que legal..." Olhei em volta e eles não estavam rindo. "Espera, é sério isso?"
"Ou isso, ou faço vocês voltarem para a situação da qual os salvei. E, Leonardo, quer mesmo perder sua irmã?" Porra, o gato era pior que mafioso, sabia ameaçar legal.
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Atualizado até capítulo 20
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