CAPÍTULO OITO

ISABEL

Lá estava eu, com um belo vestido, rodeada de empregados e um povo animado fora do reino, enquanto dentro desses muros parecia que tudo era tristeza e acordos. Era como se houvesse uma nuvem pairando sobre minha cabeça, como se toda minha vida estivesse escapando dos meus pulmões. Eu mal conseguia respirar; minhas mãos estavam suando e meu corpo parecia pesado. Queria gritar, mas nada saía da minha garganta.

"Está tão bela, princesa," disse minha ama, tocando minha mão. Senti uma dor e puxei a mão imediatamente. O que estava acontecendo comigo? Eu nem estava machucada.

"Está tudo bem, alteza? Está pálida." Eu não conseguia falar. Minha respiração estava descontrolada e eu queria chorar, queria gritar, mas nada saía. "Por Deus, princesa, estamos atrasadas. Vamos!"

"É só andar, Isabel, anda!" Eu precisava andar, mas não conseguia. Eu tremia, e não era de frio. Eu precisava andar!

"É só andar. Vá até a porta. Saia desse lugar. Ande, ande, ande, ande..." repetia incessantemente na minha cabeça, mas meu corpo não obedecia.

"PRINCESA!" O grito de Maria me fez olhá-la, tirando-me daquele estado.

"Precisamos ir!" Concordei, finalmente. Meu corpo estava obedecendo novamente.

O que havia acontecido comigo? Que sensação foi aquela? Pensei que fosse morrer e teria sido melhor se eu morresse. O som doce das melodias de Beethoven já tocava no salão e todos dançavam ao som. Mas assim que minha presença foi anunciada, todos pararam e a animação pareceu sumir, substituída por olhares de esperança e admiração, agitação e expectativas, essas que eu jamais seria capaz de suprir, por mais esforçada que fosse.

"Minha linda filha," meu pai surgiu com um sorriso exageradamente grande, acompanhado por um homem pequeno, que eu havia visto sair de sua sala. "Este é o rei de Dijon, pai do Príncipe Leonardo."

Leonardo, um nome peculiar. Procurei discretamente por ele entre as pessoas do castelo, mas não o vi. Apesar de nunca tê-lo visto, ele poderia estar em meio aos muitos convidados.

"Queira perdoar pelo atraso de meu filho, minha querida," disse o pequeno rei, beijando minha mão. Assim como no toque de Maria, o dele também me causou dor.

"É uma honra recebê-los em nosso castelo, vossa alteza," fiz uma breve reverência e ele sorriu com delicadeza.

Logo, os olhares se voltaram para as escadas. Quando me virei, percebi um homem muito bonito, alto, de olhos castanhos e um certo sorriso. Tinha braços fortes e cabelos pretos, usava uma roupa da mesma cor que meu vestido e era agradável à vista. O pequeno rei saiu de perto de mim e foi até ele, parecendo bravo, mas o homem parecia não se importar. Ele tinha um semblante sério e estava acompanhado de uma mulher que eu nem havia percebido. Ela era bonita, loira, com cabelos que brilhavam como o sol, assim como seus olhos. Usava um vestido verde chamativo. Logo, os três começaram a andar em nossa direção e meu coração começou a acelerar de um modo anormal.

"Princesa, permita-me apresentar meu filho..."

"Leonardo," ele disse antes que seu pai terminasse, levando uma cajadada no pé como punição. "Perdão!"

Fiz uma pequena reverência. "É um prazer, vossa alteza." Ele apenas segurou minha mão e a beijou delicadamente. Seu toque doía, assim como o de todos naquela noite.

"Esta é Míriam, minha segunda filha," o rei apresentou. Míriam sorria, exibindo um olhar brincalhão e animado.

"É um prazer, princesa. Você é linda," disse rapidamente, quase tropeçando nas palavras.

Eu apenas sorri e reverenciei com a cabeça. Parecíamos ter a mesma idade, enquanto o príncipe aparentava ter uns quatro ou cinco anos a mais que eu. Enquanto nossos pais conversavam, ele não falou uma vez comigo, apenas trocávamos breves olhares.

"Leonardo, leve a moça para dançar. Afinal, isto é um baile!" Ele pareceu não gostar muito da ideia, mas se virou para mim e estendeu a mão.

"Não gosta de dançar, alteza?" perguntei, entregando minha mão.

"Preferiria pular da sacada do meu quarto," ele sorriu, indicando que eu podia sorrir de volta.

Ao me conduzir para a pista de dança, ele não parecia saber muito o que estava fazendo, mas a valsa saiu perfeita, apesar de eu ouvi-lo sempre contando os passos. Foi uma dança silenciosa; ele não me fez perguntas, não puxou conversas desagradáveis e... bem, eu não sei o que dizer, ele só foi um príncipe.

O baile havia acabado. O príncipe dançou comigo três vezes, mas não falou muito. Em um momento, disse que meu perfume era agradável, o que me fez corar por um motivo que eu não saberia explicar, nem sob tortura.

Ele era calado, mas por algum motivo, aquilo era bom. Seu pai parecia rígido, mas ele sorria para o pai por alguma razão. Sua irmã era feliz e dançava como ninguém. Todos os cavalheiros solteiros do baile pediram para dançar com ela, e ela não negou nem aos mais velhos. Houve um que precisou se sentar depois da agitação; ela era como um cavalo indomável, cheia de vida. Já ele era como um cavalo de guerra, cansado de tantas batalhas, mas ainda assim sorria.

"E então, princesa, o que achou do príncipe?" Maria me abordou cheia de empolgação.

"O príncipe?" Ela me olhou. "Bem... ele é o príncipe, né?"

"Sim, senhora, disso sabemos. Mas o que achou dele?" Como descrever um sentimento que nem eu mesma sei?

"Ele é o que um príncipe deve ser, Maria. Agora, preciso descansar. Fui convidada para andar a cavalo amanhã."

"Como sua dama de honra, ficarei quieta atrás da senhorita, não muito perto." Dei um leve sorriso pela empolgação de Maria; ela parecia estar mais animada que eu para este passeio.

A noite passou como um sopro; mal deitei e já era manhã novamente. "O que acha deste vestido, senhorita?" lia enquanto Maria andava de um lado para o outro me mostrando roupas. Dei um leve sorriso.

"Assim como os outros dez que você já me mostrou, eu o acho lindo." Ela respirou fundo e sentou.

"Só quero que a senhorita esteja encantadora." Olhei pela janela e vi o príncipe passando sem camisa. Meus olhos passearam por seu corpo e senti a garganta secar; as pinturas que ele tinha eram uma obra de arte viva.

"O rosa." Ela me olhou. "Eu amo rosa," falei rapidamente.

Maria finalmente abriu um sorriso e começou a colocar o espartilho em mim, terminando de arrumar meu cabelo e colocar as joias que mais combinavam com o vestido. Desci as escadas quase correndo e escutava os gritos de Maria atrás de mim, "VÁ MAIS DEVAGAR, ALTEZA!"

Senti um doce cheiro vindo da cozinha e sabia exatamente o que Fábio havia preparado.

"OPA OPA OPA," entrei na cozinha e peguei duas tortas de morango. "Não sabe pedir licença?"

Dei um sorriso travesso e saí pela porta da cozinha em direção aos cavalos.

O príncipe já estava vestido, o que era bom, e segurava as rédeas de dois cavalos.

"Bom dia, princesa." Ele fez uma reverência e me entregou as rédeas de um cavalo. "O que seria isso?"

"Minha torta favorita. Trouxe uma para você." Ele olhou para a torta e deu um leve sorriso. "É de morango. Eu amo morangos."

Vi seu sorriso sumir e suas sobrancelhas se arquearem. Logo, uma voz doce ecoou atrás de mim.

"A menos que esteja planejando matá-lo, é melhor dar essa torta a mim." Olhei para a torta sem entender absolutamente nada.

"Mas o que há de errado?" Ela apenas sorri e morde a torta.

"Para resumir, uma pequena fatia de morango na comida dele pode ser o seu fim prematuro," eu fico abismado. Por um triz, minha noiva quase se torna viúva antes do casamento.

"Príncipe Leonardo, peço perdão, não tinha ideia de sua condição." Ele apenas sorri.

"Não se preocupe, agora você sabe." Ele segura minha mão. "Vamos, quero sair dos muros deste castelo o quanto antes."

Sua irmã apenas sorri para ele e volta para o jardim de onde tinha saído. Claramente, tanto eu quanto o príncipe não somos grandes fãs de muralhas e pedras.

"Não está gostando do castelo?" Pergunto enquanto cavalgávamos através de uma paisagem que parecia ter saltado diretamente de um quadro renascentista. Montanhas imponentes, adornadas por névoas passageiras, circundavam um lago cristalino, cujas águas refletiam o céu azul como um espelho perfeito.

"É bonito, mas prefiro a liberdade das montanhas. E você, também prefere livros a muralhas?" ele pergunta com um meio sorriso.

"Sem dúvida. Especialmente se são os de aventuras que me levam para lugares como este, sem precisar sair do quarto." Respondo, encantada com o cenário.

"Ah, os livros! Eles têm o poder de nos transportar, não é? Quais são seus favoritos?"

"Os romances de Tolstói e as poesias de Neruda," digo, sentindo uma conexão instantânea. "E você, mergulha em que tipo de páginas?"

"Ultimamente, estou entre histórias de Tolkien e os ensaios de Thoreau. Gosto como eles exploram a natureza e o ser humano," ele comenta, conduzindo o cavalo para mais perto do lago.

"Thoreau seria perfeito para ler aqui, ao lado deste lago, não acha? Seria como ouvir as palavras saindo diretamente da paisagem."

"Sabe, isso me faz pensar... E sobre música? Alguma preferência que combine com este cenário?"

"Vivaldi," respondo sem hesitar. "As Quatro Estações, talvez, para acompanhar o ciclo da natureza ao nosso redor."

"Perfeito. A primavera de Vivaldi ecoando pelas montanhas... Não consigo pensar em algo mais apropriado." Ele olha para o lago com um sorriso. "Parece que temos gostos muito parecidos."

Passamos horas cavalgando e o assunto não cessava em momento algum. Para cada escritor que eu mencionava, ele sabia alguma frase decorada, o que fez nosso assunto ir ainda mais longe. No entanto, precisávamos voltar aos muros do castelo, já que eu teria um encontro com algumas ladies hoje.

"Por mim, não voltaria mais." Desço do cavalo e o guio até uma árvore próxima, cujas folhas iam até o chão, formando uma enorme cortina ao redor da mesma.

"Está tão triste assim por ser minha noiva?" Olho para ele, que está com as mãos na cintura. "Olha para mim, um Deus grego desses."

Dou uma gargalhada que soa alto e preciso colocar as mãos na boca para conter.

"Bem, eu iria me casar com um velho de quase 80 anos, acho que você é mais agradável." Ele arqueia as sobrancelhas.

"Como assim? Você estava sendo obrigada a casar com um velho?" Apenas concordo.

Ele apenas trava o maxilar e dá leves socos na sela do cavalo.

"É comum para mulheres que não têm pretendentes até os 17, príncipe. Esta é nossa realidade." Só o escuto dar um leve suspiro e se aproximar de mim rapidamente.

Ele fica bem perto. "Posso?" Seu rosto estava próximo ao meu; ele era meu noivo, mas se alguém nos visse... então, eu só concordo e ele me abraça. Fico sem reação, pois era o primeiro abraço que eu recebia; ele era quente e agradável, era confortável estar ali. O envolvo com meus braços e fico ali por um tempo; lágrimas desciam pelos meus olhos e eu nem sabia por que estava chorando, mas eu estava e era aliviador.

Ele sussurra do alto da minha cabeça: "Vou cuidar de você." E se afasta, secando minhas lágrimas com o polegar.

"Agora precisamos ir." Aquele abraço significou mais do que qualquer joia que eu já havia ganhado, mais do que qualquer ouro.

Logo estávamos dentro dos muros do castelo novamente. Maria, em momento algum, comentou sobre meu abraço com o príncipe; ela apenas ficou calada o passeio inteiro e sorridente. Era uma boa ama e eu confiava nela para guardar este segredo.

"Prefere usar qual cor para o chá de hoje, princesa?" Ela pergunta com um sorriso travesso nos lábios.

"Decida você," falo sorridente. Eu nunca havia ficado tão feliz em toda minha vida, nem ao menos lembrava quando havia sorrido com tanta vontade.

Chegamos ao salão do chá, onde as damas já estavam reunidas, cada uma mais elegante do que a outra. No entanto, logo percebi que a atmosfera estava carregada com uma energia estranha. Enquanto eu me sentava entre elas, as conversas começaram a tomar um rumo desagradável e inadequado para damas da corte.

"Você ouviu sobre o escândalo na casa dos Montgomery? Parece que a filha mais nova foi pega flertando com um dos empregados!" Uma das damas sussurra para outra, com um sorriso malicioso.

"Ah, sim, e ouvi dizer que a condessa está tentando abafar o caso com uma soma generosa de dinheiro. Que vergonha para a família!" A outra responde, com um ar de desdém.

Enquanto isso, outra dama decide entrar na conversa: "E o duque de Wessex? Dizem que ele foi visto saindo da casa de jogos com uma mulher que não é sua esposa. Escandaloso!"

Eu me senti desconfortável com o rumo da conversa, mas não queria interromper. No entanto, Maria, percebeu minha aflição e colocou delicadamente sua mão sobre a minha, como um sinal de apoio.

Enquanto as damas continuavam a trocar fofocas e mexericos, eu me perguntava como poderiam ser tão insensíveis e cruéis em suas palavras. Afinal, éramos damas da corte, supostamente educadas e refinadas.

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