Capítulo 14 — Nossos assuntos

...Miguel Rodrigues...

Isadora tentou se soltar, mas minhas mãos firmes na parede a mantinham presa.

— Você não entende, Miguel. Não é uma questão de rebeldia. É sobre ter controle sobre minha vida e minhas escolhas. Não posso simplesmente aceitar um casamento só para satisfazer seus desejos ou conveniências.

Eu a olhei nos olhos, sentindo uma mistura de frustração e desejo. Por um momento, o ar ao nosso redor parecia eletrizado.

— Eu sei que posso ser impulsivo às vezes, Isadora, mas acredite em mim, minhas intenções são genuínas. Eu não quero apenas você como minha esposa, eu a amo. E farei o que for preciso para conquistar seu coração. E mesmo que negue isso, você é minha de qualquer forma.

Ela suspirou, desviando o olhar por um instante antes de voltar a me encarar.

— Eu preciso de tempo para pensar, Miguel. Não posso tomar uma decisão tão importante assim de supetão. E você já sabe que meu casamento não foi como eu pensava que seria. — disse tristemente, me levando a crer que ainda sentia algo pelo ex. Eu espero que esteja errado.

Eu preciso ser paciente, mesmo que minha vontade fosse agarrá-la ali mesmo e provar o quanto a desejava. Mas por enquanto, teria que esperar.  Esperei até hoje por querer vê - la novamente mesmo estando casada, porque não esperar a sua boa vontade em me amar?

Eu ainda estava próximo ao seu corpo. Olhei no fundo dos seus olhos.

— Me diga, o que houve para que não se casasse? — indaguei, ela abaixou a cabeça.

— Ele me deixou plantado na igreja, não apareceu e até hoje não sei nada dele. Sumiu. — voltando a me olhar.

Senti um aperto no peito ao ouvir suas palavras, e a raiva se misturou com a compaixão diante da sua dor.

— Sinto muito que tenha passado por isso, Isadora. Ninguém merece ser tratado dessa forma. — Minha voz saiu suave, tentando transmitir conforto. — Mas saiba que estou aqui para você. Sempre estarei.

Estendi minha mão, oferecendo apoio e solidariedade. Embora soubesse que não poderia apagar as mágoas do passado, estava determinado a ser o porto seguro que ela precisava no presente.

Eu a abracei, poucos minutos ficou em meus braços.

— Vamos deixar pra lá, vamos tratar de nossos assuntos. — afastou-se enxugando as lágrimas que caiam e sentou-se na poltrona à frente da minha mesa.

— Tudo bem. — falei também sentada na minha cadeira confortável atrás da mesa.

— Então, sobre a proposta de trabalho que mencionou. — Iniciei, buscando focar na questão profissional. — Como gostaria de contribuir aqui em casa? Há alguma área específica em que tenha interesse?

Isadora hesitou por um momento antes de responder.

— Na verdade, Miguel, não tenho uma área específica em mente. Posso ajudar em diversas tarefas, desde a administração até as atividades do dia a dia na fazenda. Tenho habilidades diversas e estou disposta a aprender o que for necessário para contribuir da melhor forma possível.

Eu olhei para Isadora com um sorriso de aprovação.

— Perfeito. Seja bem-vinda à nossa equipe. Vamos trabalhar juntos para fazer a fazenda Rodrigues prosperar ainda mais.

Isadora olhou determinada para mim enquanto eu a observava atentamente.

— Antes de terminarmos, Miguel, preciso deixar algo claro. O dinheiro que você me pagará pelo trabalho será descontado do valor que você investiu na fazenda da minha família. Não quero que haja mal-entendidos sobre isso — disse com firmeza.

Assenti, admirando sua postura.

— Compreendo perfeitamente. — confirmei.

Então, depois de tudo acertado, Isadora levantou-se e partiu para sua casa. Fiquei ali, na minha sala, refletindo sobre os acontecimentos do dia. Senti um misto de satisfação por termos resolvido nossos negócios.

É intrigante como tudo parece se encaixar conforme meus planos. Isadora começaria a trabalhar amanhã, e eu conseguia tê-la mais próxima do que nunca. A fazenda Monteiro estava se recuperando, graças aos meus investimentos, é claro. E quanto a ela, bem, o dinheiro que investi é meramente simbólico para mim, que tenho tantos recursos à disposição.

Decidi abrir uma conta em seu nome para depositar o valor que ela pediu em troca do trabalho. Não permitirei que Isadora trabalhe para mim apenas para ver seu esforço recompensado com uma vida de privações. Cedo ou tarde, ela precisará desse dinheiro, e estarei pronto para garantir que o tenha.

Continuei no meu escritório, até que Leonara bateu na porta e entrou após ter deixado. Ela trazia consigo uma bandeja com algumas frutas e suco, sua face um pouco séria sem me olhar. Ela colocou a bandeja sobre a mesa e nisso o copo acabou caindo em meu colo, fechei os olhos em frustração sentindo o líquido gelado em meu corpo.

— Perdão senhor, não foi porque eu quis. — disse.

Leonara pareceu nervosa com o ocorrido, e eu, irritado com a situação, levantei-me da cadeira e confrontei-a sobre sua distração.

— O que deu em você? Está com a cabeça em que planeta? — questionei, sentindo a frustração tomar conta de mim enquanto tentava limpar o líquido gelado do meu colo.

Depois de afastá-la, decidi não perder mais tempo e saí do escritório, rumo ao meu quarto. Precisava me livrar da sensação pegajosa do suco derramado. Tomei um banho rápido, deixando a água quente relaxar meus músculos tensos. Ao sair, me enxuguei, vesti roupas limpas e retornei ao escritório. Para minha satisfação, tudo estava limpo e em ordem. Agradeci silenciosamente por isso e me concentrei em resolver a questão da conta que abriria para Isa.

Não consegui evitar de pensar em Leonara, que sempre foi tão eficiente em seu trabalho para mim. Nunca havia ocorrido algo desse tipo em minha casa. Algo está acontecendo com ela, não é possível.

Balancei a cabeça tentando me concentrar no que estava fazendo, até que meu celular tocou.

— Di' Fernando, c'è qualche problema? ( Diga Fernando, algum problema?) — Indaguei.

Fernando é responsável por cuidar dos carregamentos de armas e entre outras questões da máfia na Itália.

— Signor Rodrigues, c'è un traditore tra noi, ha consegnato tutte le nostre armi da fuoco al nostro nemico. ( Senhor Rodrigues, à um traidor entre nós, ele entregou nossas armas de fogo a nossos inimigos. ) — disse me fazendo ficar irritado.

A frustração me atingiu como um soco no estômago ao encerrar a ligação e perceber que teria que viajar hoje do Texas para a Itália.

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