^^^“ Pegue um pedaço do meu coração e o torne seu, assim, quando estivermos separados, você nunca estará só.”^^^
^^^~ Never be alone, Shawn Mendes^^^
♔ ELENA CROMWELL
À medida que os dias passaram-se, uma atmosfera de excitação e antecipação envolvia todos, não só na Inglaterra , mas pelo mundo também, marcando a chegada de um dos eventos mais aguardados e grandiosos. O baile real de noivado do Príncipe Harry. Quando um membro da família real prepara para casar-se, especialmente se estiver destinado a ser coroado como rei ou rainha em breve, a tradição exige a realização de um baile que transcende o comum. Este não é apenas um baile qualquer, mas sim, o Baile de Máscaras de Charmed.
Esta celebração é mais do que uma simples festividade. É uma tradição centenária que simboliza a união entre duas grandezas, a Inglaterra e a Frísia Ocidental. Há séculos, essas duas nações estiveram envolvidas em conflitos e guerras intermináveis, mas foi através de um tratado nominado como “Charmed” que finalmente encontraram uma paz duradoura. Neste evento, nobres de todas a Inglaterra se reúnem, não só para presenciar o noivado real, mas também, buscam acordos com outros nobres, casamentos entre famílias e tratados.
Assim que terminei de limpar toda a residência, Margot fez-me ir à um passeio de carruagem com o lorde Albertin, onde ele me mostrou alguns dos campos que planejava comprar e outros para plantio. É claro que gostaria de dizer tudo que penso, principalmente pelo fato de haver muitos furtos na região por não ser supervisionada pelas autoridades, mas mantive-me em silêncio e apenas forcei um sorriso. Durante todo o passeio.
— Não consigo acreditar! – Enquanto punha os talheres à mesa na sala de jantar, Meredith entra com furor, batendo as portas, gritando, pisando fundo - Com os seus grandes saltos - e agindo como uma criança mimada de cinco anos, logo com Margot atrás da mesma, a seguindo como uma criada pessoal, tentando acalma-la. Ambas passam por mim sem ao menos dizer nada, assim, deixando-me tranquila enquanto faço os meus deveres.
— Não havia nenhum convite com ele?
— Não, minha querida. Nada.
— Não podes ser verdade, mamãe. – Ela chora dramaticamente. — O baile é hoje a noite e não havia nenhum convite com o arauto? Nenhuma carta da família real? Ao menos de algum duque convidando-me para ir? Eu tenho certeza de que ele furtou para si mesmo, gente como ele age da pior forma contra pessoas como nós.
— Fique tranquila, querida. Ele não furtou nenhuma correspondência, e se tivesse o feito, eu mesma seria a primeira a saber. Haverá outras oportunidades e...
— Eu não quero outras oportunidades, mamãe! – Meredith se vira bruscamente e praticamente grita na cara de Margot, que segura em suas mãos e tenta contestar. — Eu quero esse baile! Eu quero conhecer a família real pessoalmente, e se não poderei casar-me com um príncipe, exijo um duque!
— Meu bem, sabes como é difícil ver algum duque pela região, principalmente porque estarão todos na província de Durham durante as semanas que estiverem aqui.
— Eu não aguento mais essa casa que está caindo aos pedaços, não aguento ter que usar o mesmo vestido mais de uma vez. – Meredith cai por vencida na cadeira e cobre o rosto com as mãos, enquanto chora. — Eu não mereço passar por essa situação repugnante e humilhante.
Continuo colocando à mesa, fingindo não me importar com mais um dos surtos da mesma.
— Odeio não ter dinheiro, odeio esta casa e odeio vocês!
— Acalme-se, querida. – Margot, ao contrário da forma que realmente age comigo, trata Meredith como se ela fosse a filha perfeita, e talvez, aos olhos da mais velha, ela realmente seja.
Me retiro da cozinha, já não sentindo fome depois de todo esse teatro. Enquanto seguro o pingente pendurado no meu pescoço, sorrio ao lembrar que foi presente da pessoa mais importante para mim, e sigo para pegar um pouco de água no poço.
— Logo cedo, já trabalhando.
Olho para trás, assim que retiro o balde cheio de água de dentro do poço, me deparo com Charla, sentada num tronco de madeira próximo que derrubaram há alguns dias para fazer lenha para a lareira. Mas nunca o fizeram.
— Você assustou-me. – Digo, com um sorriso no rosto. — Tens sempre este costume?
— Talvez. Sabes que sou como uma raposa sorrateira, minha senhorita.
— Elena. – A corrijo. — Tenho muito carinho por vocês para me tratarem desta maneira, você é quase uma irmã para mim, embora seja mais velha.
— Levarei como um elogio. – Ela diz, e sinto que tens vontade de acrescentar algo mais.
Espero segundos o suficiente para que Charla não poupe as palavras.
— Hoje é o dia que Meredith descabela até os fios grisalhos da própria mãe.
— Retirei-me de casa por este exato motivo. – Rio. — Ela realmente almeja muito participar de um baile dado pela família real. Pena que seja muito difícil um evento como este acontecer.
— Talvez, a esperança ainda reine no coração daquela cobra.
Assinto, retirando a corda amarrada da alça de ferro do balde.
— E você...?
— Eu? – Indago, confusa com o que Charla quer dizer.
— Sim. Se tivesse a oportunidade em vossas mãos, iria ao baile?
Penso bem. A ideia de participar do baile sempre pareceu um devaneio distante para alguém como eu. Criada em um ambiente distante, intransponível, tornando o acesso a tais eventos como este, uma mera fantasia. Apesar disso, desde a infância, nutri secretamente o desejo de experimentar os prazeres da alta sociedade, justamente por me encantar pelos grandes castelos, salões reais e vestidos com mangas bufantes descritos nos livros como meras ilustrações palpáveis para os nossos pensamentos insaciáveis. Almejo provar as iguarias finas, deslizar pelo salão num minueto perfeitamente sincronizado com um cavalheiro elegante e experimentar a doce sensação de ser cortejada e paparicada como uma verdadeira dama. No entanto, esses anseios sempre permaneceram como meras fantasias distantes, separadas da minha realidade.
— Bem... Teoricamente, seria bom. Mas, não.
— Não? – Charla, surpresa com as minhas palavras, se levanta num pulo, enquanto caminha em minha direção e se apoia contra as pedras lapidadas do poço, deixando as duas mãos abaixo do maxilar enquanto espera uma resposta plausível para a sua indagação.
— Isso não é para mim. – Sorrio, mesmo que nos meus olhos demonstrem dor com a verdade. — Sou uma baro... Criada. – Me corrijo. — Olhe bem para mim.
Me afasto o suficiente para que Charla me observe de cima a baixo.
— Tenho fuligem no rosto, um vestido surrado que remendei umas dez vezes só nesta semana. Meus sapatos desgastados fazem-me sentir a textura do chão e os meus cabelos estão sempre cobertos por toucados em alfinetes que espetam a minha cabeça.
Com um sorriso nasal e uma pontada de dor no peito ao dizer, apenas entrego a verdade.
— E logo serei ainda menos quando casar-me com lorde Albertin. – Mordo o lábio inferior. — Não deveria ser rude ao dirigir-me a ele, é o meu noivo... Mas, eu simplesmente não posso continuar mentindo para mim mesma e acreditar que tudo ficará bem.
Pego o balde com certa dificuldade.
— Seria injusto comigo mesma.
Antes que eu me retire, escuto as palavras murmuradas de Charla.
— O destino é real, minha senhorita. Apenas acredite.
Sendo mais rápida, ela passa por mim, me deixando confusa.
— Encontre-me em vosso quarto as nove horas... Em ponto.
Com essas palavras, Charla some tão rapidamente da minha vista, quanto apareceu.
...❦...
Mesmo hesitante diante das palavras persuasivas de Charla, às nove em ponto, já me encontrava a esperando, com certa curiosidade no que tinhas a me dizer. Após desfrutar de um banho com água quente, aquecida por Anna, aproveitei para utilizar as essências que me foram presenteadas por Charla. Feitas com óleo de flores, as fragrâncias envolviam meu corpo em um aroma delicado, enquanto o sabonete de baunilha deixava minha pele suave e perfumada.
Ao ouvir as batida à porta, meu coração saltou no peito, e dei permissão para Charla entrar. Ela adentrou o aposento com algo em mãos, cuidadosamente coberto por um pano espesso. Uma sensação de curiosidade misturada com nervosismo percorreu meu corpo enquanto aguardava para descobrir o que ela havia preparado.
— O que é isso? – Indago, franzindo o cenho.
— Não temos muito tempo, o baile irá começar em pouco tempo. – Charla diz, em pressa.
— C-como? – Confusa, pisco rapidamente tentando compreender as suas palavras, as repetindo várias vezes na minha mente para saber se não ouvi errado. — Do que está falando?
— Minha senhorita... – Charla retira o pano que cobria algo em baixo, revelando um lindo vestido de tonalidade azul claro, que se estende até o chão e não possui volume. — Se ainda há uma única chance de sorrir antes do mundo desabar, deixe que as pessoas vejam os vossos lábios curvarem-se e mostre os lindos dentes que possui.
— E-eu... – Me aproximo e pego numa manga de um dos braços do lindo vestido longo. O brilho de cima a baixo me encanta enquanto detalhes que parecem ter sido feitos por mágica, o deixa ainda mais belo. — É lindo!
— Ficaria ainda mais lindo em vosso corpo. Venha, a ajudarei a vesti-lo.
Me afasto abruptamente.
— N-não. Se for mais um presente de aniversário, eu simplesmente o adorei. Mas não irei ao baile, nem convite recebi, e mesmo se o recebesse, eu seria a última pessoa que Margot permitiria ir.
— Já tenho tudo preparado.
— O quê? – Entrando ainda mais choque, todas essas informações parecem martelar na minha cabeça como sinos grandes e ocos.
— Fiquei há meses fazendo este vestido, já consegui a sua carruagem e alguém para levá-la e trazê-la. Basta apenas dizer... Sim.
Boquiaberta, não consigo dizer nada, esperando acordar deste sonho confuso, alucinante. Mas isso não acontece.
— Olha, Elena... Nada na sua vida irá mudar se não aceitar as oportunidades maravilhosas que o destino impõe em sua vida. Deves ser você mesma, era isso que Eleanor gostaria.
Meus olhos marejam enquanto recordo das palavras reconfortantes de minha mãe, ecoando em minha mente. Ela sempre me dizia, com sua voz suave e doce, que, por mais desafiadoras que fossem as circunstâncias, eu deveria sempre tentar. Mesmo imersa nesta situação, uma pontada de esperança começa a florescer em meu peito. Sob o olhar esperançoso de Charla, uma pessoa que tem sido dedicada e leal para mim, sinto-me apreensiva, mas também contente pelo seu apoio. Sei que, independentemente do que acontecer neste baile, se eu tiver coragem de comparecer, nada poderá ser pior do que as punições cruéis impostas por Margot e Meredith, ou do que este noivado forçado que sufoca-me, está sendo para mim.
Num impulso de loucura, ou talvez de pura imprudência, ergo a cabeça, sentindo-me invadida por uma onda avassaladora de emoções conflitantes. Talvez esta seja minha única e última oportunidade de escapar da monotonia opressora que sufoca-me. Sei que estou agindo de forma irracional, impulsionada pelo desespero e pela necessidade desesperada de mudança. No entanto, apesar de todas as dúvidas e inseguranças que me assolam, minha resposta ressoa clara e determinada no próximo momento.
— Sim.
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Atualizado até capítulo 48
Comments
Lanne Carvalho
estou amando a cada capítulo essa história
2024-03-28
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