Capítulo 4: O amargor das palavras

^^^“...Um só passo falso acarreta uma série de desgraças...”^^^

^^^~ Orgulho e preconceito^^^

♔ ELENA CROMWELL

Me curvo sobre os joelhos e só neste momento me permito respirar. Está frio, tão frio que os meus dedos dos pés congelam sobre a neve branca e espessa.

— N-não... Não pode ser... – Deixo os meus joelhos atingirem o chão, que por sorte, está forrado pela branca e gelada neve, que ainda cai do céu.

As lágrimas rolam pelos meus olhos, deslizando pelas minhas bochechas enquanto minhas mãos apertam o pano da minha camisola sobre as minhas coxas. Isso tudo foi planejado por Margot? Desde o início, ela queria e sabia que havia de acontecer. Não consigo reprimir o grito que me fecha a garganta e me arranha como espinhos de uma rosa, amarga, vermelha como sangue, com o sabor de um fel feito especialmente para me matar aos poucos.

E quando levanto a cabeça, percebendo as árvores altas e as vinhas subindo pelas paredes, me dou conta de que estou no jardim, e de longe, Charla me observa, parada, sem esboçar reação.

— P-por que...? – Eu Indago, baixo, mas por algum motivo, a jovem anda calmamente em minha direção, parando alguns passos à distância.

— Você...

— Não! – A corto. — Você sabia? – Minha voz sai tão amarga quanto os meus pensamentos.

— Sim. – Charla apenas responde, com os seus cabelos loiros presos numa trança jogada por cima do ombros e a camisola cor creme que se estende até o meio das canelas.

Deixo o meu olhar cair novamente, enquanto as minhas lágrimas se misturam com a neve fofa em baixo de mim.

— Sessenta anos... – Praticamente sussurro, sentindo a bile subir. — Como amarei um homem com idade para ser meu avô? Como acordarei ao lado dele... E se ele me machucar? Eu nem o conheço e...

— O seu destino, não será traçado pelo seu pai e tampouco por aquela que dorme ao lado dele. – Charla diz, praticamente me cortando.

A olho novamente, nunca tendo a visto tão séria quanto agora, pois sempre está sorrindo e com alguma situação constrangedora de algum nobre para contar a Deus e o mundo.

Ela se aproxima devagar e me entrega um livro, a capa surrada, as folhas mofadas cheirando a velho, e o título que mal consigo ler. “ O candelabro fulgente.”

Estendo a mão e pego o livro, tocando a sua capa e sentindo as texturas estranhas do papel se desfazendo. Franzo o cenho, assim, olhando para cima novamente para questionar Charla sobre isso, mas para a minha surpresa, ela já não está mais lá.

Olho em volta, a procurando, mas a mesma não se encontra em lugar algum. Volto a minha atenção para o livro antigo, e com cuidado, o abro. Assim que passo os meus olhos pelas páginas, uma cotação me chama atenção.

— ... “A iniquidade seria efêmera? Tal qual como as minhas chamas, que durante o inverno mais frio de Hooklook, elas se esvaíram com os meus sentimentos por ti.” – Digo baixo, lendo a única citação que não fora tomada pelo bolor e atacada pelas traças.

Uma rasgada fria de vento é o suficiente para me fazer levantar, logo corro novamente para os meus aposentos e me sento na cama, enquanto olho pela janela, fitando os flocos de neve que caem do céu.

...❦...

Assim que alinho o cobertor na cama de Meredith, coloco os travesseiros e almofadas bordadas de volta ao seus lugares, enquanto me mantenho inclinada sobre a cama.

— Eu disse-lhe, ele cortejou-me e depois...

A porta do quarto se abre e Meredith, juntamente com outra jovem, da mesma idade, adentram o aposento, ambas notando a minha presença.

— O que estás a fazer no meu quarto? – Ela indaga, mesmo sabendo o motivo da minha presença.

— Estou limpando... – Respondo baixo, enquanto junto as mãos atrás do corpo e tento esconder as sapatilhas rasgadas de baixo da saia do meu vestido de tonalidade marrom, quase como estrume dos cavalos no estábulo.

— Deixas os criados a tratarem com pouco respeito? – A jovem, com nojo no semblante, indaga, olhando diretamente para mim, mesmo que as suas palavras sejam diretamente para Meredith.

— Eu não sou...

__ Não, isso é uma clara falta de respeito comigo. – Meredith me corta, enquanto se aproxima.

A jovem sorri, sob os lábios pintados tão pouco sutilmente como Meredith, os cabelos presos num coque escondido por um chapéu com rendas, babados e fitas, o vestido com a saia longa em coloração azul oceano a define como uma nobre, talvez, próxima dos campos Cromwell.

— Perdoem-me se as ofendi de alguma forma... Irei retirar-me. – Sem forças para praguejar ou discutir com Meredith, tento passar por elas, mas a voz de minha irmã me toma atenção.

— Espere.

Me viro, enquanto noto a mais velha se aproximando da cama e pegando as almofadas.

— Você não terminou o seu serviço, vira-lata.

Ela joga a almofada no chão. A garota ao lado coloca a mão na boca para tentar disfarçar o sorriso, enquanto observa toda a cena.

Com um suspiro, caminho até Meredith e me abaixo para pegar a almofada, mas no instante que vou me levantar, ela me para.

— Pegue com a boca, é assim que uma cadela vira-lata faz.

A risada nasal da jovem que presencia tudo só torna o momento prazeroso para Meredith, que me encara com uma sobrancelha arqueada enquanto espera que eu obedeça.

Os meus olhos marejam enquanto os segundos se passam, e eu não quebro o contato visual com a minha irmã.

— Temo que não adestraram essa cadela direito. Talvez ela precise de uma coleira.

Ambas riem, enquanto Meredith cruza os braços.

— Precisarei pedir novamente?

Sem alternativas, me abaixo e abro a boca, pegando a almofada entre os dentes e me levantando. Não consigo segurar a lágrima solitária que rola pela minha bochecha, e Meredith o percebe, mas a sua feição só se torna mais amarga.

— É assim que ela ficará para o lorde Albertin, em três meses.

— Não... Lorde Albertin? – A jovem mostra surpresa ao se virar para Meredith e perceber que ela não está mentindo. — O mesmo Albertin que possui cinco filhos?

— O mesmo velho barrigudo, que fede a bebidas e... – Meredith se aproxima lentamente, enquanto fala próxima ao meu ouvido. — Ama uma garota jovem e inocente.

Pego a almofada entre os dedos e sigo para colocá-la novamente no seu lugar, me segurando ao máximo para não desmoronar na frente de Meredith e a jovem que a acompanha.

— Mas não fico surpresa que Amélia irá se casar com ele... Ela fede tanto quanto ele.

Assim que me viro para retirar-me, Meredith diz:

— Pegue este lixo e jogue fora, você deixou cair no chão e pensas que usarei algo contaminado? Irei reclamar com  o papai depois.

Ouvir ela o chamando assim me parte mais ainda o coração, pois há muito tempo ele deixou de ser um pai para mim e só se importa com Meredith e Margot, é como se eu realmente estivesse morta para eles.

Pego a almofada e finalmente me retiro do aposento sem ser interrompida, assim que a porta se fecha, me encosto na mesma e permito que as lágrimas desçam sem ser segura-las, enquanto abraço forte o tecido bordado contra o meu peito.

Capítulos
1 Notas da autora
2 Agradecimentos/ Epígrafe
3 Prólogo
4 Capítulo 1: Era uma vez...
5 Capítulo 2: O canto da maledicência
6 Capítulo 3: Entre os laços do rancor
7 Capítulo 4: O amargor das palavras
8 Capítulo 5: Cinzas do passado
9 Capítulo 6: A impetuosidade de amar
10 Capítulo 7: Uma marca indelével
11 Capítulo 8: Outro lado da moeda
12 Capítulo 9: O canto da serpente
13 Capítulo 10: Motivações
14 Capítulo 11: O inesperado
15 Capítulo 12: O céu, a lua, a figueira e você...
16 Capítulo 13: Cada segundo...
17 Capítulo 14: O lorde Albertin
18 Capítulo 15: Décima oitava primavera
19 Capítulo 16: O destino é real
20 Capítulo 17: O caminho para a liberdade efêmera
21 Capítulo 18: O palácio real
22 Capítulo 19: Minueto
23 Capítulo 20: Deleitando-se com o fel
24 Capítulo 21: Decisão inusitada
25 Capítulo 22: Um dia após o outro
26 Capítulo 23: Agraciada a primeira vista
27 Capítulo 24: A visita do duque
28 Capítulo 25: O amigo do duque
29 Capítulo 26: Sentimentos vazios e arrependimentos
30 Capítulo 27: Pensamentos insanos, ações proibidas
31 Capítulo 28: Noite entre lua e cinzas
32 Capítulo 29: O duque do inverno
33 Capítulo 30: Promessas e arrependimentos
34 Capítulo 31: As fases da hipocrisia
35 Capítulo 32: Inocente pesadelo
36 Capítulo 33: A sorte entre abutres
37 Capítulo 34: A partida
38 Capítulo 35: Campos desconhecidos
39 Capítulo 36: Segredos sujos
40 Capítulo 37: Inseguranças
41 Capítulo 38: A primeira noite
42 Capítulo 39: A perversidade transvestida
43 Capítulo 40: Um pedido de desculpas
44 Capítulo 41: Aprender é ainda mais difícil do que descobrir
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
Notas da autora
2
Agradecimentos/ Epígrafe
3
Prólogo
4
Capítulo 1: Era uma vez...
5
Capítulo 2: O canto da maledicência
6
Capítulo 3: Entre os laços do rancor
7
Capítulo 4: O amargor das palavras
8
Capítulo 5: Cinzas do passado
9
Capítulo 6: A impetuosidade de amar
10
Capítulo 7: Uma marca indelével
11
Capítulo 8: Outro lado da moeda
12
Capítulo 9: O canto da serpente
13
Capítulo 10: Motivações
14
Capítulo 11: O inesperado
15
Capítulo 12: O céu, a lua, a figueira e você...
16
Capítulo 13: Cada segundo...
17
Capítulo 14: O lorde Albertin
18
Capítulo 15: Décima oitava primavera
19
Capítulo 16: O destino é real
20
Capítulo 17: O caminho para a liberdade efêmera
21
Capítulo 18: O palácio real
22
Capítulo 19: Minueto
23
Capítulo 20: Deleitando-se com o fel
24
Capítulo 21: Decisão inusitada
25
Capítulo 22: Um dia após o outro
26
Capítulo 23: Agraciada a primeira vista
27
Capítulo 24: A visita do duque
28
Capítulo 25: O amigo do duque
29
Capítulo 26: Sentimentos vazios e arrependimentos
30
Capítulo 27: Pensamentos insanos, ações proibidas
31
Capítulo 28: Noite entre lua e cinzas
32
Capítulo 29: O duque do inverno
33
Capítulo 30: Promessas e arrependimentos
34
Capítulo 31: As fases da hipocrisia
35
Capítulo 32: Inocente pesadelo
36
Capítulo 33: A sorte entre abutres
37
Capítulo 34: A partida
38
Capítulo 35: Campos desconhecidos
39
Capítulo 36: Segredos sujos
40
Capítulo 37: Inseguranças
41
Capítulo 38: A primeira noite
42
Capítulo 39: A perversidade transvestida
43
Capítulo 40: Um pedido de desculpas
44
Capítulo 41: Aprender é ainda mais difícil do que descobrir

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