Capítulo 11: O inesperado

^^^“ Ontem todos os meus problemas pareciam tão distantes.”^^^

^^^~ The Beatles, Yesterday^^^

♔ JAMES WINDSOR

À medida que nos aproximamos da pequena província, as luzes do festival parecem se intensificar, inundando a paisagem com cores vibrantes e energia contagiante. Apesar de não ser o local mais encantador de Durham, há uma aura de felicidade e satisfação que paira sobre os moradores, envolvidos pelo som da música e conversas animadas.

Os sorrisos calorosos e os olhares cheios de vida dos habitantes locais revelam uma comunidade, talvez, unida e acolhedora, que encontra alegria nas pequenas coisas e celebra a vida com entusiasmo. Embora, nada disso seja o suficiente para me tirar um sorriso. Odeio festas, e odeio ainda mais estar entre muitas pessoas, talvez, a solidão do tempo e a falta de comunicação por meses fizeram-me abraçar esse meu lado.

Apesar das modestas aparências da província, é evidente que ali reside uma riqueza de espírito e contentamento que não pode ser medida em termos materiais. Bobagem, são pessoas que fingem estar felizes, sorrindo, se divertindo, enquanto cada um neste lugar carrega demônios, demônios, nos quais, não nos atrevemos a libertar entre tanta gente reunida.

Ao meu lado, Bane parece ter sido envolvido pela energia contagiante do festival. Ele bate palmas ritmicamente e observa, encantado, a dança quase sincronizada que se desenrola diante de nós. No entanto, não passamos despercebidos entre os presentes. Alguns olhares pretensiosos e cochichos quase nada discretos nos seguem enquanto passamos pelo tumulto do festival. Mulheres, jovens e outras nem tanto, parecem intrigadas pela nossa presença, talvez curiosas sobre quem somos ou de onde viemos. Apesar das atenções indesejadas, continuamos nosso caminho.

— Você chama muita atenção, meu caro irmão. – Bane, com um sorriso no rosto, joga um braço por cima do meu ombro, enquanto parece ignorar duas jovens, ambas morenas que não escondem o interesse no mesmo.

Mesmo que Bane não possa ser um duque, ele possuí o seu chame, desde garoto, quando ainda sua única preocupação era jogar pedras no lago de Brook Chale e correr dos cachorros dos vizinhos. Ele é alto, não tanto quanto eu, sua estatura é magra, mas alguns músculos se escondem por baixo de suas vestes, além dos cabelos pretos e olhos castanhos que fazem qualquer mulher desejar estar entre os seus lençóis.

— Poderia dizer o mesmo de você. – Respondo, enquanto abrimos caminho entre as pessoas.

— Bobagem, sabes muito bem que entre um lorde de linhagem indefinida e um duque de sangue real, não cogitam nenhum pouco ao se jogar-se aos seus pés.

— Conversamos sobre isso... – O repreendo.

Bane olha de soslaio para o lado e logo sorri de lado, parecendo interessado em algo, ou melhor, alguém. Acompanho o seu olhar, notando um jovem rapaz que retribui o olhar de Bane, enquanto se afasta com um sorriso tímido.

— A noite é sua, sabe onde me encontrar. – Digo, enquanto Bane me dá três tapas leves no ombro e me lança uma piscada com o olho direito, se afastando e seguindo o mesmo caminho do outro rapaz.

De fato, ele poderia ser sentenciado ao algoz pelas suas aptidões e gostos, mas eu realmente não me importo com o que ele faz da sua vida e com quem anda. Benedict é meu amigo, talvez único, um irmão para mim, embora seja lorde, como ele mesmo dissera, sua família possui muito dinheiro, dinheiro suficiente para fazê-lo subir de posição, mas, assim como eu, Bane nunca se importara com isso, só almejando viver e beber mais do que o normal. Irônico.

Enquanto me encontro perdido nos meus próprios devaneios, sinto algo bater contra as minhas costas. Me viro, desejando nunca ter visto o que os meus olhos capturam assim que olho para baixo baixo. Encontro um rosto angelical, onde é marcado por lágrimas que deslizam silenciosamente por bochechas rosadas, deixando rastros molhados em sua pele pálida. A beleza serena de seus cabelos compridos, onde pequenos fios rebeldes que caem sobre sua feição são empurrados levemente pela respiração pesada e irregular, contrastando com a angústia visível em sua expressão. Seus olhos verdes, vívidos e profundos, capturam a minha atenção imediatamente, revelando uma mistura complexa de emoções. Por trás da vivacidade de seu olhar, consigo discernir uma sombra de dor que parece pesar sobre ela.

— P-perdoe-me, senhor... – Sua voz, embora a música alta atrapalhe muito, consigo escutar a leveza, sutileza e ingenuidade entre as palavras temerosas, como se eu fosse um carrasco.

Antes que eu possa dizer algo, a pequena ratinha assustada corre por entre as pessoas que ainda festejam, totalmente alheios do maldito feitiço que me prendeu sem ao menos eu perceber. O que vem a seguir me chama ainda mais atenção, três homens de aparência sugestiva seguem o mesmo caminho que ela havia feito, terminando num beco escuro que forma um cenário perfeitamente lúcido do que acontecerá.

Não espero por Bane, os sigo enquanto cochicham algo baixo e se enfiam na extremidade escura e vazia entre uma casa ou outra. Espio por trás dos tijolos enquanto os homens não demoram muito e começam a rir, como se acabassem de tirar a sorte grande.

— Não! Soltem-me! – Um grito é seguido pelas risadas e logo confirmo o que suspeitava.

Não demoro um segundo a mais para aparecer no campo de visão de um deles, onde os três seguram a mesma garota de antes e um tenta puxar o seu vestido, o rasgando um pouco e revelando metade do seu busto, enquanto os outros dois seguram os seus braços.

— Cai fora. – Ele diz quando percebe a minha presença, atraindo a atenção dos outros dois e da jovem, que praticamente suplica com o olhar para ajudá-la. — Vai se divertir em outro lugar.

Ele cospe no chão, me fazendo seguir seu gesto com o olhar. Retiro as mãos dos bolsos do meu casaco, encarando os olhos azuis da jovem que por esmo me atraiu tanto, me deixou curioso como nunca havia ficado com nenhuma outra maldita mulher.

— Ei, você é surdo? – Ele solta o vestido da jovem e logo se aproxima de mim, estendendo a mão para me empurrar. — Eu disse para...

Antes que ele termine de dizer qualquer coisa, sinto minha uma onda intensa de raiva crescer dentro de mim. Num movimento rápido e decisivo, seguro firmemente seu punho e encaro-o com firmeza nos olhos. Percebo o momento de tensão se intensificar quando ele tenta desferir um soco com a outra mão, mas desvio a tempo da sua mão cortar o ar com um som rapido. Com um movimento fluido, levo meu punho em direção ao seu rosto, acertando em cheio seu nariz com força suficiente para fazê-lo começar a sangrar em poucos segundos.

O choque se espalha pelo rosto do homem, refletindo-se em seus olhos ampliados pelo receio do momento e pela dor. Enquanto isso, os outros dois homens parecem hesitar, surpresos pela minha reação inesperada. Em meio à confusão, eles soltam braços braços da jovem, praticamente a empurrando para trás enquanto avançam juntos até mim. Seu corpo minúsculo atinge o chão enquanto um gemido de dor escapa dos seus lábios, me enchendo ainda mais com aquele sentimento amargo que deixei de sentir há tempos.

Enquanto os dois homens avançam em sincronia, seguro firmemente o braço de um deles e contorno o outro, aproveitando a abertura para desferir soco após soco contra seu rosto. Sinto o impacto dos meus golpes ecoar através de seus ossos enquanto ele cai no chão, seu rosto ensanguentado testemunhando a minha ferocidade. No mesmo instante, sou pego de surpresa por trás, com o primeiro tentando me imobilizar. Instintivamente, vejo o segundo retirar uma faca da cintura, encarando-me com determinação e fúria nos olhos. Em um movimento impetuoso, ele corre em minha direção com um frenesi assassino, claramente determinado a tirar minha vida naquele instante.

Uso o peso do corpo do primeiro que me segura e levanto os pés, cercando seu pescoço com as minhas pernas e girando o corpo, o levando ao chão.

— Maldito! – Ele grunhe de dor.

— Vamos embora. – Escuto um deles sussurrar para o outro enquanto o primeiro segura o nariz ensanguentado.

Os três praticamente correm enquanto me levanto e chuto a faca para longe, esperando que voltem. Mas não voltam.

Me viro, prendendo a minha atenção na pequena criatura atrás de mim, que ainda está no chão, seus olhos vermelhos enquanto as lágrimas não cessam.

Capítulos
1 Notas da autora
2 Agradecimentos/ Epígrafe
3 Prólogo
4 Capítulo 1: Era uma vez...
5 Capítulo 2: O canto da maledicência
6 Capítulo 3: Entre os laços do rancor
7 Capítulo 4: O amargor das palavras
8 Capítulo 5: Cinzas do passado
9 Capítulo 6: A impetuosidade de amar
10 Capítulo 7: Uma marca indelével
11 Capítulo 8: Outro lado da moeda
12 Capítulo 9: O canto da serpente
13 Capítulo 10: Motivações
14 Capítulo 11: O inesperado
15 Capítulo 12: O céu, a lua, a figueira e você...
16 Capítulo 13: Cada segundo...
17 Capítulo 14: O lorde Albertin
18 Capítulo 15: Décima oitava primavera
19 Capítulo 16: O destino é real
20 Capítulo 17: O caminho para a liberdade efêmera
21 Capítulo 18: O palácio real
22 Capítulo 19: Minueto
23 Capítulo 20: Deleitando-se com o fel
24 Capítulo 21: Decisão inusitada
25 Capítulo 22: Um dia após o outro
26 Capítulo 23: Agraciada a primeira vista
27 Capítulo 24: A visita do duque
28 Capítulo 25: O amigo do duque
29 Capítulo 26: Sentimentos vazios e arrependimentos
30 Capítulo 27: Pensamentos insanos, ações proibidas
31 Capítulo 28: Noite entre lua e cinzas
32 Capítulo 29: O duque do inverno
33 Capítulo 30: Promessas e arrependimentos
34 Capítulo 31: As fases da hipocrisia
35 Capítulo 32: Inocente pesadelo
36 Capítulo 33: A sorte entre abutres
37 Capítulo 34: A partida
38 Capítulo 35: Campos desconhecidos
39 Capítulo 36: Segredos sujos
40 Capítulo 37: Inseguranças
41 Capítulo 38: A primeira noite
42 Capítulo 39: A perversidade transvestida
43 Capítulo 40: Um pedido de desculpas
44 Capítulo 41: Aprender é ainda mais difícil do que descobrir
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
Notas da autora
2
Agradecimentos/ Epígrafe
3
Prólogo
4
Capítulo 1: Era uma vez...
5
Capítulo 2: O canto da maledicência
6
Capítulo 3: Entre os laços do rancor
7
Capítulo 4: O amargor das palavras
8
Capítulo 5: Cinzas do passado
9
Capítulo 6: A impetuosidade de amar
10
Capítulo 7: Uma marca indelével
11
Capítulo 8: Outro lado da moeda
12
Capítulo 9: O canto da serpente
13
Capítulo 10: Motivações
14
Capítulo 11: O inesperado
15
Capítulo 12: O céu, a lua, a figueira e você...
16
Capítulo 13: Cada segundo...
17
Capítulo 14: O lorde Albertin
18
Capítulo 15: Décima oitava primavera
19
Capítulo 16: O destino é real
20
Capítulo 17: O caminho para a liberdade efêmera
21
Capítulo 18: O palácio real
22
Capítulo 19: Minueto
23
Capítulo 20: Deleitando-se com o fel
24
Capítulo 21: Decisão inusitada
25
Capítulo 22: Um dia após o outro
26
Capítulo 23: Agraciada a primeira vista
27
Capítulo 24: A visita do duque
28
Capítulo 25: O amigo do duque
29
Capítulo 26: Sentimentos vazios e arrependimentos
30
Capítulo 27: Pensamentos insanos, ações proibidas
31
Capítulo 28: Noite entre lua e cinzas
32
Capítulo 29: O duque do inverno
33
Capítulo 30: Promessas e arrependimentos
34
Capítulo 31: As fases da hipocrisia
35
Capítulo 32: Inocente pesadelo
36
Capítulo 33: A sorte entre abutres
37
Capítulo 34: A partida
38
Capítulo 35: Campos desconhecidos
39
Capítulo 36: Segredos sujos
40
Capítulo 37: Inseguranças
41
Capítulo 38: A primeira noite
42
Capítulo 39: A perversidade transvestida
43
Capítulo 40: Um pedido de desculpas
44
Capítulo 41: Aprender é ainda mais difícil do que descobrir

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