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    Ao chegar em casa, ela parecia um pouco silenciosa, estacionei o carro, e entrei, Renata estava sentada no sofá assistindo televisão e até então nenhum sinal de Julian.

— Olha quem apareceu! — Ela disse e me encarou com um desprezo misturado com curiosidade. — Julian subiu agora para se arrumar para o trabalho.

   Não lhe dirigi nenhum tipo de resposta, e subi para o quarto, Lucian estava bastante entretido em escolher uma camisa para o trabalho, eu silenciosamente dentro do quarto, observei ele escolher entre o blusão azul e o bendito blusão cinza de pequenas listras brancas, então vi sua mão direita deixando o blusão azul.

— Já vai ir trabalhar? — Perguntei, ele levou um susto e me olhou com os olhos arregalados — Ainda está cedo.

— Onde você esteve todo esse tempo? — Perguntou — Porque saiu sem avisar?

— Quem te deu essa camisa? — Ele parecia pensar em uma boa desculpa.

— Pedi para a minha secretária comprar, teve um dia que a minha manchou de café, eu não poderia trabalhar com a camisa suja, não é mesmo?

     Isso foi muito convincente, por agora, eu iria acreditar, sentei na cama, e movimentei o pescoço, observei ao redor. A roupa de cama, não foi a que eu coloquei, e o cheiro no quarto era de lavanda, como se tivesse sido limpo a pouco tempo. Julian já havia parado de prestar atenção em mim a tempos, então analisei o quarto por mais tempo, fui ao banheiro, a minha escova de cabelo estava fora do armário, saí do banheiro e fui até minha escrivania, tinha uma marca de copo.

     Eu me senti movida por uma pitada de raiva, sorri, e fui para a cozinha, Renata parecia um urubu no sofá, ao chegar na cozinha, abri a geladeira e vi que faltavam as ameixas, apenas eu na casa comia ameixa, fechei a geladeira e me sentei na cabeceira da mesa.

     Julian chegou atrás de mim, me deu um beijo na bochecha, então notei bem fraco um perfume doce.

— Quando eu chegar a gente conversa, pode ser?

   Assenti, conforme ele saiu, sua mãe saiu junto, então eu relaxei, não acredito que ele teve a coragem de colocar mulher dentro de casa, meu coração batia na mesma frequência que a minha cabeça pensava em formas muito sutis de cometer crimes de ódio contra Julian. Colocar mulher dentro de casa foi um total desrespeito comigo, eu me sentia possessa.

    Eu precisava me acalmar, pois se não, não existiria Natália para Yasmin, fui tomar um banho, mas não antes de limpar a casa toda, descontaminado e descontando todo o ódio do meu coração, pois afinal, eu não ficaria fingindo que uma mulher que meu marido usou de instrumento para me desrespeitar, não havia usado minha casa, com a porra do meu marido.

      Quando terminei de limpar a casa, pensei em ligar para Yasmin, mas ela parecia não estar em um bom momento, então me conformei em apenas tomar um banho e me sentar em frente a televisão, naveguei pelos canais até parar em um programa de literatura, o tópico do dia, era o terceiro livro que a escritora secreta Millena escreveu, o livro fala sobre Lara que descobre a traição do marido e começava uma vingança, o nome é O pagamento do Desejo, o apresentador parecia bem empolgado e haviam três convidados, Arana e Vivian, duas cantores e um escritor que eu não sabia o nome.

"Hoje o assunto é pouco discutido mas ocorre bastante" o apresentador riu "Sabe, eu acredito que Lara seja uma ótima personagem, bastante obstinada e decidida, pois mesmo correndo o risco de seu coração pesar, porque até então, ela era uma pessoa boa, ela deixa isso para trás para poder se vingar." Concluiu.

"Nunca conheci uma pessoa como Lara, mas tenho a certeza que ela é uma mulher real, que cansou de estar oprimida em tantos sentidos sociais." O escritor concluiu.

Eles continuaram com o assunto interessantíssimo, até o apresentador perguntar.

"Se vocês fossem a Lara, que tipo de vingança vocês dariam para o marido infiel?" Todo mundo pareceu pensar bastante com a pergunta.

"Eu mandaria as roupas dele picotadas ou rasgadas encaixotadas para a amante." Arana disse " e se ele por algum acaso tivesse me traído dentro de casa, eu faria questão de perguntar onde ele e aquela mulher haviam encostado porque antes de colocá-lo para fora, eu faria questão de mudar todos os cômodos, fazendo uma dívida astronômica em seu nome."

Todos no set ficaram chocados, até o apresentador gargalhar.

"É uma ótima ideia, também faria a última parte, mas em principal eu ia fazer questão de difamar ele para todos os conhecidos, eu ia deixar ele tão sem graça que ele nunca mais ia querer ver a luz do dia, o problema não é a amante, até porque elas são bobinhas que foram enganadas e sonham em ser assumidas."

E essa era a real verdade, todas elas sonhavam em ser apresentadas para a família, ter alianças em seus dedos anelares, e viverem a vida "boa" que a esposa vivia, até ela ser só mais uma esposa com chifre. Pensei tanto que perdi a opinião do escritor.

"Bom, nós vamos deixar, você dona de casa, dar sua opinião, expor experiência, esse é um momento seu. " o apresentador disse.

O resto do programa foi recheado de opiniões e experiências de mulheres e raramente de senhores.

"Para encerrar, vamos ter uma última ligação, a senhorita decidiu não se identificar, mas não foi cortada nenhuma parte da gravação." anunciou.

"Boa tarde, eu queria dizer, que nós amantes não somos bobas não, a gente sabe que mesmo a esposa seja a casada, pensamos ainda mais na impotência delas de não conseguir segurar o próprio marido, tanto que ele vem atrás de outra, e eu queria deixar um recado, casada, me desculpa pelas suas ameixas, eu não sabia que seu marido não comia, até porque, comigo ele come, peço perdão, mas não tem como controlar desejo, principalmente de grávida, né? Você entende? A não, não entende." a ligação parecia encerrada.

Eu me senti completamente envergonhada, possessa, com raiva e sem perceber eu havia quebrado a televisão, minha mãe havia cortado, tinha um corte médio por onde saía bastante sangue, meu corpo todo estava quente, parecia que eu ia explodir de raiva, talvez parecesse maluquice até porque nenhum experiência é única, mas seria louco demais se houvesse situações como a minha, a minha cabeça parecia que ia derreter, então me enfiei debaixo do chuveiro, com toda a roupa, a minha mão ardia tal qual meu coração.

As seis horas em ponto, Julian irrompeu pela porta, se perguntando o que havia acontecido, se eu estava bem, respondi que estava apenas com dor de cabeça e ele disse que sabia como resolver isso, e eu deixei, tomada pelo ódio, deixei que me tomasse, que me tivesse como ele havia tido a amante, na mesma cama, na mesma casa, e talvez esse fosse o meu erro.

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