"Eco de Familiaridade: A Chegada de Darius"

Adrian

Saindo de casa com as chaves na mão, respiro fundo ao pensar: finalmente sexta-feira. Porém, ao tentar abrir a porta do meu carro, sou surpreendido. Um uivo forte e alto ecoa, fazendo meu coração acelerar. Atento, percebo que não é um uivo comum de um lobo, mas sim de um lobisomem, como eu.

O som vem do topo de uma montanha próxima à minha casa. Olho para a montanha, para as chaves na minha mão e depois para o relógio no meu pulso. A vontade de me transformar e correr na direção do uivo é intensa, mas respiro fundo e digo a mim mesmo: 'Calma, Adrian. Pode ser apenas um lobo normal na região. Você tem uma aula para dar'.

Entro no carro e ligo o motor, passando a mão pelo cabelo de forma quase frenética. A possibilidade de encontrar alguém como eu me atinge em cheio. No entanto, evito criar falsas expectativas. Afinal, faz décadas desde a última vez que estive com outros como eu.

Enquanto dirijo, uma inquietação persiste dentro de mim. A ideia de alguém semelhante a mim nas proximidades, mesmo que seja apenas uma suposição, mexe com minhas emoções profundas.

— Respire, Adrian — repito para mim mesmo, tentando acalmar os pensamentos turbulentos que invadem minha mente.

Minha responsabilidade como professor e a rotina diária servem como âncora para manter meu foco. O trajeto até a escola é um misto de nervosismo e determinação. Cada curva da estrada parece aumentar a distância entre mim e a fonte do uivo, mas a sensação persiste, como um eco sutil em minha mente.

"Devo investigar isso ou simplesmente deixar para lá?", questiono a mim mesmo, debatendo internamente entre curiosidade e responsabilidade. Ao chegar à escola, tento manter calma e profissionalismo ao me dirigir à sala dos professores. A presença dos colegas, os papéis na mesa e a rotina escolar tentam dissipar a inquietação provocada pelo misterioso uivo.

No entanto, mesmo concentrando-me no planejamento das aulas e nas atividades do dia, minha mente não se desvia completamente do ocorrido da manhã. O eco do uivo continua presente, como um sussurro insistente nos recessos da minha mente.

Enquanto preparo os materiais para as primeiras aulas, tento afastar esses pensamentos intrusivos, mas eles persistem, minando sutilmente minha concentração. Dirijo-me à sala de aula, onde os murmúrios dos alunos estão a todo vapor.

Ao me verem, silenciam e seus olhares se voltam para mim. Meus olhos encontram os dela, que conversava animadamente com os amigos, mas assim como os colegas, também se cala ao retribuir meu olhar com a mesma intensidade.

Respiro profundamente, sua presença parece trazer calma, apenas com seu olhar. Nossos olhos permanecem fixos um no outro, enquanto recordo a tarde maravilhosa que compartilhamos ontem, durante aquela refeição. No entanto, quando estou prestes a continuar a matéria, a diretora bate na porta e diz:

— Com licença, professor.

Olho rapidamente para ela e respondo:

— Claro.

Ela faz um gesto chamando alguém, e um garoto ruivo, um pouco desgrenhado, vestindo calça jeans com correntes, camiseta regata e uma mochila preta jogada desordenadamente sobre um dos ombros, entra no meu campo de visão. Seu olhar encontra o meu, fixando-se profundamente.

Por algum motivo, meu coração acelera diante desse garoto, como se o reconhecesse de alguma forma. Uma sensação familiar me atinge, como se estivesse vivendo um déjà vu, mas sou trazido de volta à realidade quando a diretora diz:

— Professor Adrian e turma, este é o novo aluno e colega de vocês, Darius Miller, vindo diretamente do Texas para nossa querida SombraVale.

Enquanto a diretora apresenta Darius à turma, uma estranha sensação me envolve. Seus olhos, semelhantes aos meus, algo em seu modo de olhar... há mais aqui do que a simples chegada de um novo aluno.

A aura de familiaridade é inexplicável, como se o conhecesse de algum lugar ou momento distante. Meus instintos se agitam, como se algo muito maior estivesse em jogo. Percebo que não sou o único impactado pela chegada de Darius.

O silêncio se instala na sala, os alunos curiosos fixam seus olhares nele. Sua presença parece exalar uma aura de mistério e fascínio, deixando todos intrigados.