Adrian
Assim que o sinal da última aula soou, indicando o fim do expediente, os alunos saíram eufóricos da sala, aliviados por encerrarem as obrigações do dia. Enquanto guardava o material utilizado na aula, observei-os se dispersarem pelos corredores, alguns conversando animadamente, outros ansiosos para voltar para casa.
Ao dar uma última olhada na sala vazia, a sensação de dever cumprido se misturava com a inquietude dentro de mim antes de me dirigir à diretoria. Caminhei pelos corredores, pensando no conteúdo ensinado e na atmosfera peculiar que pairava desde minha chegada. Ao chegar à diretoria, cumprimentei a secretária e aguardei pacientemente as burocracias finais do dia.
O encontro com Ana ainda ecoava em minha mente. Havia algo nela que despertava um interesse incomum, algo que parecia ressoar com a parte oculta de mim. A breve troca de olhares deixou uma sensação inquietante, como se houvesse mais por trás daquela conexão do que eu poderia compreender.
Recebi alguns documentos para revisão, agradeci à secretária e me preparei para sair. Ao passar pelo portão, avistei Ana se despedindo de seus amigos. Tentei evitar olhar para ela novamente, mas seu doce aroma desencadeava em mim instintos primitivos, mexendo com meus feromônios.
Caminhei rapidamente para o meu carro e, ao tentar abrir a porta apressadamente, acabei derrubando vários papéis no chão. Infelizmente, Ana se aproximou nesse exato momento. Ela, um pouco sem jeito, se abaixou para me ajudar a recolher os papéis.
— Eu te ajudo, professor — disse ela em tom meigo e doce.
Quase tendo um colapso pelo seu aroma, que aguçava meus instintos, respondi ríspido:
— Não preciso da sua ajuda, vá para casa!
Ela me olhou com os olhos arregalados, soltou as pastas com meus papéis e saiu apressadamente. Enquanto observava Ana se afastar rapidamente, minhas palavras ríspidas ressoavam em meus ouvidos. Por que agi dessa forma? A verdade é que há algo em mim que não consigo controlar totalmente.
Tudo o que eu queria era ter sido mais gentil, mais humano. Mas a pressão de esconder minha verdadeira identidade me fez reagir impulsivamente, deixando-me com uma sensação de pesar e inquietação. Essa conexão com Ana, algo inexplicável e forte, mexeu com minha existência de uma maneira que mal consigo compreender.
O sutil perfume que envolvia Ana ainda paira no ar, trazendo à memória o momento em que ela se afastou, magoada. Uma sensação de vazio cresceu dentro de mim, contrastando com a agitação que senti na presença dela.
Não era minha intenção ser rude..., pensei, lamentando minha falta de habilidade para lidar com minhas próprias emoções. As palavras duras que proferi agora pareciam ser uma fuga de um desejo oculto de compartilhar um momento amistoso com Ana.
Perdido em um emaranhado de pensamentos confusos, fechei os olhos por um instante, tentando acalmar o turbilhão interno. Eu me culpava pela impulsividade, enquanto lutava para compreender sentimentos que escapavam da minha compreensão.
Com um suspiro profundo, guardei os papéis, entrei no meu carro e dei partida. Ao chegar em casa, a luz do sol invadiu o ambiente, criando um contraste interessante com a serenidade da minha casa, que era rústica, porém moderna, toda trabalhada em madeira.
Tirei os sapatos, joguei as chaves na mesinha da entrada e depositei os papéis no sofá. Respirei fundo, afastando as cortinas para revelar a vastidão da floresta ao redor.
Morar no coração da floresta foi uma escolha estratégica. Como um dos últimos de minha linhagem rara, precisava me esconder, já que ser um lobisomem neste mundo moderno era uma tarefa árdua.
Anos se passaram, a solidão era minha constante companheira. A dúvida sobre a existência de outros lobisomens infiltrava-se em meus pensamentos. Estariam eles bem escondidos ou eu era realmente o último remanescente?
Busquei alívio na adega, servindo-me de um uísque forte. Porém, mesmo a bebida não conseguiu dissipar a imagem da garota que continuava a assombrar meus pensamentos.
Num esforço para afastar esses pensamentos, esvaziei o copo de uma só vez, sentindo o líquido queimar minha garganta. Dirigi-me à varanda, despi minha camisa e, com um sorriso torto, corri em direção ao final dela. Sem hesitar, saltei da borda, deixando-me cair e transformando-me instantaneamente em um imenso lobo de pelagem amarronzada.
A mudança sempre representa liberdade e uma inundação de sentidos. A pele humana deu lugar a uma pelagem densa e macia. A visão, anteriormente restrita, se expandiu, intensificando cores e nítidas sombras.
Os cheiros invadem meus sentidos, cada folha, cada grama tem sua história e perfume únicos. O ar da tarde traz consigo uma sinfonia de aromas, um festival de cheiros da floresta.
Meu mundo agora é guiado pelos sons. Cada passo ecoa e reverbera no solo macio da floresta. Ouço os pequenos animais se movendo, os galhos balançando e até mesmo o sussurro do vento.
No entanto, algo interrompe essa sinfonia. Cliques metálicos, rápidos e precisos como os de uma câmera fotográfica. Meus ouvidos se voltam para o som, intrigados com algo tão estranho na serenidade da floresta.
Curioso e alerta, avanço na direção dos cliques, meus sentidos focados em descobrir a origem desse som e para minha surpresa, avistei Ana Monteiro, minha aluna que se infiltrou em minha mente nesse curto período de tempo. Parei abruptamente atrás de um arbusto, observando-a discretamente pela fresta das folhagens.
Lá estava ela, com seus cabelos curtos e vermelhos, vestindo calça jeans, uma camiseta preta e uma camisa xadrez amarrada na cintura. Uma câmera pendia de seu pescoço, a origem dos sons que ouvira.
Enquanto ela se agachava para amarrar os tênis, movi-me inadvertidamente, e por um momento, pareceu que ela me notou ali. Foi um instante de conexão inexplicável.
No entanto, seus amigos chegaram de repente: um garoto de cabelos ondulados e uma garota com cabelos negros presos num rabo de cavalo. Eles a chamaram para sair, interrompendo o breve momento.
Observei-os atentamente, sendo capaz de ouvir o pulsar dos seus corações . O aroma dela novamente se infiltrou no ar, e soube instantaneamente que precisava me afastar. Enquanto eles se afastavam, corri de volta para casa, uma enxurrada de sentimentos confusos me atingindo.
Cada parte de mim reagiu à presença dela. Mas o que está acontecendo? Essa estranha conexão me atormenta, algo inexplicável e inexplicavelmente forte.
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Atualizado até capítulo 104
Comments
Rebeca Batista
Você escreve muito bem, e eu tô amando a história. Você da muitos detalhes que fazem toda a diferença na imersão, me sinto assistindo um filme dentro da minha cabeça.
Fazia tempo que eu não me sentia assim, quando virei mãe não tive muito tempo pra ler, mas agora meu filho já tá grandinho e tô me habituando aos poucos com as rotinas e novas prioridades, mas tô tirando momentos pra voltar a lê, obrigada por escrever essa história!
2024-05-15
6
Claudia Claudia
nossa essa história é fascinante não tem alcatéia só um lobo solitário e talvez sua companheira tô curiosa para ler o desenrolar da história
2025-01-29
1
Lourdes Divina Do Nascimento
Parabéns sua obra literária me faz entrar na história sentindo como o personagem a narração é ótima .
2024-06-17
2