"O Segredo do Professor"

Ana

Ele estava parado diante de mim, enquanto eu, com os braços cruzados, o encarava, esperando sua explicação.

— Pronto, pode começar a esclarecer o que queria, professor.

Ele parecia tenso, porém tentava manter a calma ao falar:

— Ana, eu entendo que minha transformação em um lobo possa ter sido assustadora para você. Mas eu não sou o lobo mal das histórias.

Com um sorriso de descrença, mantive minha postura firme, querendo compreender algo irreal diante de mim.

— Céus! Você é um lobisomem... Um lobisomem! Isso é surreal, entende? Cresci acreditando que era lenda, história, fantasia. E de repente, meu professor se torna um. É, no mínimo, perturbador, não acha?

Sua expressão diante do meu desabafo era de compreensão, e enquanto ele passava a mão pelo cabelo, parecia sincero ao dizer:

— Eu entendo, Ana. Descobrir certas verdades pode ser chocante, mas saiba que mesmo sendo um lobo, não sei como isso começou, como minha espécie se originou. Só me recordo de ser um filhote durante um grande confronto, alguém correndo comigo por uma floresta densa. Depois disso, nunca mais estive na presença de outros iguais a mim.

A tensão entre nós diminuiu um pouco com suas palavras. Nesse momento, pude sentir sua dor, a dor da separação e da solidão. Respirei fundo ao perguntar:

— Você nunca mais encontrou outros como você? Isso quer dizer que talvez seja o único?

Ele suspirou, colocou as mãos nos bolsos da calça jeans e disse, com um tom nostálgico e melancólico:

— Realmente não sei, Ana. Vaguei sozinho por muito tempo, me escondendo. Há tempos não sei o que é conviver com mais pessoas, lobos ou não. A solidão é minha única companheira.

Após essas palavras, nossos olhares se mantiveram fixos, eu engoli em seco, meus olhos lacrimejaram enquanto sentia compaixão por ele. Ele suspirou profundamente, parecendo pronto para partir, e disse:

— Não posso te obrigar a manter meu segredo, Ana. Se quiser contar aos seus amigos, mesmo que não seja benéfico para mim, a escolha é sua. Mas saiba que não te farei mal, apenas partirei como sempre fiz.

Nesse momento, esfreguei o nariz, tentando conter as lágrimas que teimavam em escorrer livremente pelo meu rosto. Seu olhar desviou por um instante, pude ver tristeza neles quando retornou para mim, e então disse:

— Não quero que isso se torne um peso para você. Vou partir, se quiser contar, fique à vontade. Adeus, Ana, cuide-se.

Quando ele se preparava para virar e partir, não pude me conter. Caminhei rapidamente até ele e o abracei forte, com a voz embargada pelo choro, disse:

— Não tenho mais medo de você. Senti sua dor, a solidão de não ter ninguém, de ser incompreendido. Peço que fique, você é um bom professor, humano ou não. Todos ganhamos com você. Seu segredo estará seguro comigo a partir de hoje, tem minha lealdade e confiança professor.

Após minhas palavras, sinto seus braços envolvendo delicadamente minhas costas, enquanto ele sussurra no meu ouvido:

— Obrigado, Ana. Eu reconheço, agradeço e retribuo seu gesto. Você, sem dúvidas, é alguém especial.

Assim que nos separamos do abraço, enxugo minhas lágrimas enquanto nos encaramos por um momento, mas então ele logo diz:

— Preciso ir, te vejo na escola amanhã. Tchau, Ana.

Assenti, e assim ele se foi. Ao fechar a porta, escorrego por ela, caindo sentada no chão. Suspiro profundamente, encostando minha cabeça na porta, e digo a mim mesma: 'Seu coração não batia assim há muito tempo, Ana.'

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