Ansiedade

...Adam...

Acordei cedo, na real eu mal dormi, faz meses que não consigo dormir direito, todo dia é por uma questão diferente. Essa noite foi o retorno do idiota do Daniel, e aquele jeito estranho que ele me tratou na cozinha. Sei lá, por mais que eu quisesse que ele me deixasse em paz, aquilo foi esquisito.

Mas que merda! Eu tava de boa ontem, sair com a Ju foi legal demais. Foi a primeira vez em meses, aliás em anos, que eu me diverti sem pensar na Willard, nas minhas obrigações, ou nas merdas que eu vinha fazendo. Ali eu era só um adolescente curtindo com uma amiga. E então vem o Daniel e tira a minha paz.

Como só teria aula à tarde, resolvi passar a manhã na casa de um dos meus amigos. Então fui pra casa do Marlos. Passamos a manhã jogando e assistindo filmes.

À tarde fomos para a escola. Estava num canto batendo papo com o Marlos e Leroy, quando avistei a Ju e resolvi falar com ela.

— Aí Ju! — Me aproximei.

— Oiê Adam! — Ela sorriu e me deu um abraço.

Na hora eu sorri pra ela e ficamos conversando por um tempo, até que vi o Daniel, ele estava parado do outro lado do corredor e olhava diretamente para mim, na hora me senti estranho, eu até me senti "culpado" de estar ali com a Ju. Então me despedi dela e fui até ele.

— E aí, cara! — Falei com ele.

— O que foi? — Ele me olhou com uma cara de tédio. Que merda era essa? Cadê aquele imbecil que sorria largamente quando eu me aproximava?

— Temos que apresentar o trabalho na segunda e ainda não terminamos. — Respondi no tom de tédio que ele usou. — Fora que as avaliações começam na quarta.

— Tá, hoje eu tenho uma reunião com o Aaron e o Benj para passar o relatório da missão. Mas podemos estudar amanhã à noite e no fim de semana. O que me diz? — Enquanto ele falava eu só conseguia pensar, no que será que aconteceu com ele!

— Tá certo!

— Beleza então. — Ele se virou e saiu andando.

Não sorriu, não esboçou nenhuma reação pegajosa como ele sempre fazia. E ainda me deixou lá plantado. Eu quem fazia isso com ele.

Durante a aula me senti estranho. Meu coração acelerou, não conseguia respirar direito, sentia como se fosse morrer. Levantei rapidamente e pedi ao professor pra ir ao banheiro. Saí da sala visivelmente mal, quando me aproximei do banheiro senti uma mão no meu ombro e na hora tive certeza que era o Daniel, mas assim que virei era o Cássio.

— Cássio? — Falei surpreso. Apesar dele ser filho da Mercedes e do Hernando e ser um dos primos. Eu e Cássio não éramos próximos. E ele tinha um pouco de ciúmes da minha amizade com a Lavínia. Então era bem estranho ele estar ali me ajudando.

— Tá passando mal? — Ele me olhava com cara de preocupado.

— É, eu não tô legal!

— Vem, vou te levar pra enfermaria.

A enfermeira me colocou no soro e me deixou lá deitado. Segundo ela, eu estava desidratado e os outros sintomas eram de estresse ou ansiedade. Chamaram meus pais pra conversar, pois essa não era a primeira vez que eu tinha esses sintomas na escola.

Acabei voltando para casa com os meus pais. Ficamos calados durante todo o trajeto. Porém, assim que chegamos em casa eles se sentaram no sofá e me chamaram pra conversar.

— Filho, fala pra mim, o que está acontecendo com você! — Minha mãe me olhava aflita. — Você anda mal, irritado, e agora tem esses sintomas.

Eu queria gritar que estava sobrecarregado, que não me entendia mais, que tinha medo, muito medo de não ser o que eles esperavam de mim. Mas eu não tinha coragem pra fazer nada disso.

— Eu não tenho me hidratado, nem me alimentado bem. — Não era bem uma mentira, mas isso na real era mais um sintoma do que o problema em si. — Então é isso, tenho me preocupado muito com os estudos e com o futebol.

— Filho, eu acho louvável que esteja finalmente se preocupando com o que realmente importa. — Meu pai falava sério. — Mas não pode negligenciar a sua saúde.

— Sim, o senhor está certo.

— Vá descansar! Vou pedir pra levarem algo pra você comer. E amanhã você não vai pra escola. — Meu pai ordenou.

— Ok! — Me levantei e fui para o meu quarto.

Meus pais são ótimos, são muito presentes e se importam, mas em compensação eles exigem muito de mim. Fui rebelde por um tempo, mas isso só piorou as coisas. Agora preciso correr atrás do prejuízo, mas isso está me enlouquecendo.

Tomei um banho gelado, comi, e dormi o resto do dia.

No dia seguinte acordei bem cedo. Mas decidi ficar no quarto. Saí apenas no horário do almoço, depois voltei para o quarto. No final da tarde o Daniel apareceu.

Eu confesso que estava ansioso por isso. Ver aquela cara de imbecil do Daniel sorrindo sem motivo algum, me animava de certa forma. Fora que ele sempre se preocupa comigo.

Ele bateu na porta e corri para abrir. Mas ao contrário do que imaginei, ele não esboçou nem um sorriso ao me ver. Nem ao menos tinha uma cara de preocupação. Ele só entrou calado, sério e se sentou.

— Trouxe as anotações das aulas de ontem e hoje que você perdeu. E temos mais um trabalho de dupla, esse é mais simples e temos que entregar depois das avaliações. — Ele falava retirando as anotações da mochila. — Eu sei que você não queria mais fazer trabalho comigo, só que enfim... Temos aquela parceria né.

— Ok. — Me limitei a responder. Eu estava super irritado. Eu passei mal, achei que ia morrer, e ele nem ao menos perguntou como eu estava. Aliás, ele nem olhou pra mim.

— Você fez algo do trabalho de dupla? — Ele falou olhando para aqueles papéis malditos. Eu queria gritar pra ele parar com isso e olhar pra mim. Mas só respondi a pergunta dele.

— Fiz. — Peguei o notebook e coloquei na pasta com a apresentação. — Tá praticamente pronto. Só falta ajustar e definir o que cada um vai apresentar.

— Humm... Isso tá muito bom. Vamos terminar.

Estudamos até às 20hrs. Eu estava bem cansado e chateado. Achei que ver o esse idiota ia me animar, mas na real estar com ele assim, estranho, era decepcionante e só piorou a minha ansiedade.

Merda, definitivamente tinha algo de muito errado comigo. Talvez eu sinta mesmo alguma atração por esse imbecil.

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