Aula particular

...Adam...

Demorei a dormir essa noite, fiquei pensando na missão do imbecil do Daniel, ok, de imbecil ele não tinha nada. Com certeza essa missão seria perfeita e bem sangrenta, como ele gostava.

Daniel se fazia de menino de ouro em meio a sociedade, mas na real, ele era um maluco sanguinário. E nos treinos ele sempre era muito bom, às vezes até se saía melhor do que eu.

Enfim... Eu não estava preocupado com ele, não mesmo. A questão é que, eu me sentia ansioso com o meu momento, eu quero muito poder iniciar o meu legado como o futuro da Willard, todos esperam muito de mim, e isso é excitante e sufocante ao mesmo tempo. E eu não posso mais vacilar. Amanhã começa o segundo semestre na escola e preciso me dedicar ao máximo, vou deixar de ser um idiota e virar um cara focado.

Na manhã seguinte, estava na mesa tomando café da manhã com a família, quando Daniel e Dandara apareceram.

— Olha aí, o nosso mais novo linha de frente. — Meu pai se levantou orgulhoso e abraçou o Daniel. — Seu pai me contou tudo o que fez. E confesso que faria da mesma forma. Temos o mesmo estilo.

Não consegui evitar e revirei os olhos. Meu pai era o tipo que gostava de torturas, humilhação e muito sangue. Na real ele teria deixado o computador amarrado e sofrendo por dias até finalizar de vez. Eu odeio esse tipo de coisa, para mim, um serviço rápido e limpo é mais que suficiente.

— Obrigado tio, o senhor e o Benj são minhas inspirações. — Daniel falava emocionado. Fala sério!

— Parabéns pelo trabalho, deixou todos orgulhosos. — Me levantei e bati no ombro dele. — Nos vemos na escola.

Saí e fui direto para o meu carro. Sim, eu parabenizei ele. Eu sou um Willard, serei o chefe no futuro, e tenho que parabenizar quando alguém faz um bom trabalho, mesmo se esse alguém for o merdinha do Daniel.

Cheguei na escola, meu império, aqui todos querem ser meus amigos, ou ser como eu. Popular, bonito, pegador, atleta. Eu gosto dessa atenção, mas agora eu preciso mudar, tenho que estudar de verdade.

— E aí Adam!

— Oiê gatinho!

— Fala capitão!

Todo mundo me cumprimenta, e eu faço questão de ignorar todos eles, só falo com quem eu quero. E eles me acham o máximo por isso.

Fui direto para a sala. Pouco tempo depois meus amigos, Marlos e Leroy entraram.

— Qual foi? Ficamos te esperando lá no pátio! — Marlos sentou ao meu lado e Leroy na cadeira de trás.

— Cheguei faz pouco tempo e não queria me atrasar. — Respondi.

— Desde quando você se importa em chegar atrasado? — Leroy falou rindo.

— Desde que minhas notas estão uma merda e se continuar assim, não vou entrar em Camp State. — Resmunguei. — A partir de hoje vocês verão um novo Adam. Se preparem!

Eles se olharam confusos, e o professor entrou trazendo o Daniel e a Dandara consigo.

— Aí, esses não são os filhos daquele amigo lá da tua mãe, o que é Drag Queen? — Eles falaram rindo. Sim, meus amigos eram muito imbecis.

— Já disse que só eu falo mal da minha família! — Olhei com raiva para eles. — E sim, eles vão estudar aqui agora.

— Bom dia turma. — Nos levantamos para receber o professor. — Esses são Dandara e Daniel Galvan. Vão terminar o semestre em nossa escola. Sejam bem vindos.

Eles agradeceram e todos se sentaram.

Lavínia e Cássio chegaram logo em seguida, atrasados como sempre. Esses dois não tem jeito.

No final da aula, o professor explicou o trabalho do semestre e disse que seria em duplas. Olhei para os idiotas dos meus amigos e desisti, se fizesse dupla com algum deles minha nota seria um lixo, então olhei ao redor e pensei na Juliana, ela era uma das melhores alunas e era a fim de mim, ia fazer o trabalho com ela.

Vocês têm um minuto para formarem duplas. — O professor anunciou e me levantei orgulhoso para falar coma Juliana.

Mas antes que me aproximasse dela o idiota do Daniel me puxou.

— Vamos fazer juntos. — Ele me olhou sorridente. Porque diabos ele estava sorrindo?

— Não! Vou fazer dupla com a Juliana. — Sacudi meu braço para que ele me soltasse.

— Qual é cara! Combinamos de fazer a nossa parceria dar certo. E já vou te dar aulas mesmo. — Ele falou ainda me segurando.

— Vai a merda! Nossa parceria se resume às aulas, não somos amigos. — Me soltei dele e andei até a Juliana. — E aí Ju, quer fazer dupla comigo? — Ela me olhou sorridente, mas antes que pudesse responder a Dandara nos afastou.

— Não, ela já está comigo. — Dandara olhou para a Juliana de maneira séria. — Nem pense em me trocar por ele.

— Eu não ia. — Juliana me olhou sem graça. — Desculpa Adam.

— Beleza. — Respondi sem graça. Olhei ao redor, todos já pareciam ter suas duplas e o idiota do Daniel continuava me olhando. Inferno! — Tá vou fazer esse merda de trabalho com você. — Falei ríspido e me sentei.

As demais aulas correram normalmente e hoje não tivemos aulas no período da tarde. Após o almoço, Daniel bateu na porta do meu quarto, abri e ele entrou com vários livros e apostilas.

— Onde posso deixar tudo isso? — Ele falou parado na entrada do quarto.

Daniel se sentia constrangido toda vez que entrava no meu quarto, quando éramos crianças, ele gostava de ficar no meu quarto, dizia que era muito legal, e era mesmo. Mas eu implicava com ele, dizia pra não tocar em nada. E ele então sempre fica com receio quando entra aqui.

— Separei aquele espaço ali pra estudo. — Apontei para uma mesa no canto do quarto.

Ele andou até lá e depositou tudo em cima da mesa, depois passou a organizar.

— Separei o material por disciplina. E esses aqui são para o nosso trabalho em dupla.

— Tá, o que vamos estudar hoje? — Falei sem paciência.

— Matemática! — Ele pegou os demais livros e colocou na estante ao lado da mesa. Me sentei, e ele fez o mesmo, abri o caderno e um dos livros que ele trouxe. Eu era péssimo em matemática, sempre fui de humanas. Mas preciso ter noções de cálculo para o curso de administração. — Vamos começar, vou te ajudar com esse conteúdo. — Ele falava sorrindo. O idiota gostava mesmo de estudar.

Daniel ensinava bem, ele era realmente um nerd. Eu consegui entender o que ele explicava. Estava indo tudo bem até que começamos a resolver as questões do módulo de matemática.

Eu até estava conseguindo resolver algumas questões, com o que entendi da aula do Daniel. Mas me desconcentrei olhando para ele. O Daniel tinha mania de fazer um biquinho quando pensava, era engraçado e... fofo, merda o que eu estava pensando? O pior é que não conseguia parar de olhar. Ele tinha os lábios pequenos e rosados, e aquele maldito biquinho.

Mas que merda!

Comecei a ficar nervoso, eu não conseguia mais calcular nada, meu coração acelerou, minhas mãos estavam suadas e tudo que eu pensava era nos lábios desse idiota.

Me levantei bruscamente.

— O que foi? — Ele me olhou confuso.

— Pode sair, a gente termina depois. Não me sinto bem. — Falei olhando para a parede. Eu pensava que se olhasse para a boca dele outra vez, eu ia fazer uma besteira gigantesca.

— Se sente mal? Quer que eu chame alguém?

— Cara, só sai daqui! — Falei com ignorância.

— Que seja! — Ele se levantou e saiu.

Mas que merda foi essa?

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