Esperança

...Daniel...

Venho fazendo um esforço absurdo para cumprir a minha promessa de ser apenas profissional com o Adam, aquele idiota.

Quando o encontrei na cozinha, na madrugada do dia em que voltei da missão, me esforcei pra não olhar pra ele, eu sabia que se olhasse pra aquele rosto ridiculamente perfeito que ele tem, eu iria fraquejar.

Na escola, eu soube que ele teve um encontro com a Ju, e pelo jeito que eles conversavam ali no corredor, sorridentes e cheios de intimidades, esse encontro deve ter terminado na cama de algum deles. Mas eu sou muito imbecil mesmo, de achar que o Adam poderia gostar de mim. Quando ele veio falar comigo, aproveitei pra tratá-lo tão mal quanto ele fazia comigo.

Mais tarde na aula vi quando ele passou mal, me preocupei, queria ir atrás dele, mas ele ia me destratar, gritar comigo e no final eu não ia conseguir ajudar em nada. Como a Laví não estava no colégio, pedi ao Cássio que fosse lá ver como ele estava.

Quando cheguei em casa fui correndo ver a Madú e saber notícias do Adam. No dia seguinte, fui ansioso para estudar no quarto dele, mas mantive a postura de não olhar pra ele, nem perguntar como ele estava.

Hoje é sábado, após o café fui ver a Dandara no quarto dela.

— Vai, me conta dessa cara de cachorro abandonado. — Dandara falava enquanto digitava algo no computador.

— Terminei com a Sophie. — Ok, esse não era o motivo da minha tristeza, mas eu ainda não havia contado isso pra Danda.

— Sério? Então tá mesmo querendo ficar com o Adam? — Ela largou o computador e veio até mim.

— Querer, eu até queria. Mas não vou! — Me deitei na cama dela. — Tô cansado de correr atrás dele e ser humilhado.

— Então, porque terminou com a Sophie?

— Porque era o certo. Eu não posso namorar alguém por quem não sinto nada além de amizade. Não é justo comigo, nem com ela. — Fui sincero. Eu terminei com a Sophie, mais por perceber que não amava ela, do que por gostar do Adam.

— É, você tá certo. — Ela se sentou ao meu lado. — Então tá triste por causa do Adam.

— Tô, muito. Ele é um idiota. Mas eu gosto muito dele, e isso é um saco. — Afundei a cabeça no travesseiro. — E agora ele tá namorando a Ju.

— Como é?

— É, a escola só fala no namoro deles. Saem juntos, ficam rindo nos corredores. — Falei com desprezo.

— Não estão namorando. — Danda falou e me sentei. — Eu falei com o Adam o quanto ele foi idiota com a Ju. Então ele pediu desculpas e a chamou pra sair. No final do encontro ele ofereceu sua amizade e ela aceitou. Disse que são bons amigos. Ele deixou claro que não quer um relacionamento com ela, ou com qualquer outra garota no momento.

— Ahhh! — Uma esperança tentou nascer no meu peito, mas afoguei ela logo em seguida. — Mas isso não quer dizer que ele queria um relacionamento comigo. Melhor mesmo é continuar mantendo a distância do Adam. Uma hora eu esqueço ele.

Descemos pra almoçar.

— Madú, vai para Brésalen no próximo fim de semana? — Dandara perguntou. Era o aniversário da Sofia, mãe do Beto.

— Vou sim, quer ir comigo?

— Com certeza! — Danda respondeu empolgada. — Vou comprar algo bem legal para a minha sogrinha.

— Acho bom, porque a Sofia é bem exigente. — Madú sorriu e então olhou para mim. — Quer vir junto Dan? Aproveita pra ver a sua namorada.

— Não, obrigado, eu vou ficar! — Respondi sem graça.

— Ele terminou com a Sophie. — Dandara falou travessa e olhando para o Adam.

Percebi que ele parou de comer e olhou pra mim.

— Sério Dan? O que houve? Vocês pareciam tão bem, da última vez que ela esteve aqui. — Madú falou como uma mãe preocupada.

— Eu só... — Respirei fundo e pensei no que responder. — Bom, eu descobri que não estava apaixonado por ela. E não queria mentir sobre isso.

— Ahh, bom, a sinceridade é importante. — Madú sorriu. — Então está apaixonado por outra?

— Han? — Me engasguei na hora. — É... Eu...

— Calma! — Madú sorria da minha aflição. — Não precisa se complicar, amores adolescentes são assim mesmo. Uma hora você pensa que ama alguém e de repente percebe que seu coração era de outra. O importante é que você foi verdadeiro com a Sophie.

Adam me olhou desconfiado durante toda a conversa, e a Dandara super se divertia com isso.

Depois do almoço fui estudar com o Adam no quarto dele.

— Porque terminou com a Sophie? — Adam me perguntou assim que entrei no quarto.

— Já respondi na mesa enquanto almoçamos. — Falei impaciente. — E por que isso te interessa?

— Terminou por... Minha causa? — Ele falou e na hora senti o meu coração acelerar. — É de mim que você gosta?

— Do que importa isso agora? — Falei com raiva. — Você mesmo disse que não se sente nem um pouco atraído por mim, disse que me odeia. Então por que esse interesse repentino? Por acaso descobriu que gosta de mim?

— Eu... — Ele vacilou e novamente uma mísera ponta de esperança tentou aparecer.

— Você, o que? — Olhei pra ele com atenção.

— Eu só quero saber se contou a ela sobre o que houve entre nós. — Ele respondeu, e a maldita esperança morreu outra vez.

— Não, só disse que não estava apaixonado por ela. — Falei me sentando.

— E está apaixonado por mim? — Ele perguntou e outra vez a esperança ressurgiu.

Merda! Eu sou um imbecil mesmo!

— E se eu estiver, o que muda na sua vida? — Eu queria ouvir ele dizer que sentia o mesmo. Apesar de saber que isso nunca aconteceria.

— Não muda nada. Eu só quero saber se você vai ficar meloso e me pedir pra te beijar outra vez. — É, ele respondeu como eu sabia que responderia.

— Não, Adam. Não tenho a melhor intenção de te beijar outra vez. Já disse que nossa parceria é estritamente profissional, nem amigos, nem algo mais. — Falei ríspido. — Agora chega dessa conversa idiota e vamos estudar.

Ele se sentou e ali a minha esperança morreu de vez.

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