Responsabilidade emocional

...Adam...

A situação com o Daniel estava ficando meio fora de controle, como se não bastasse tudo que aconteceu no meu quarto, ele achou de me beijar na casa do Oto, numa festa com vários membros da Willard, inclusive os meus pais.

Era óbvio que uma miséria iria acontecer ali. Eu deveria ter empurrado ele para longe, mas eu não estava bem, me sentia mal fazia muito tempo, e ele começou a me elogiar, e os elogios dele, me deixavam estranho. E então a Dandara chegou.

E agora ele teve a audácia de me colocar contra a parede, veio me pedir beijo e ainda mexeu no meu pau, dizendo que eu estava atraído por ele. Ele perdeu totalmente a noção. Imagina se eu iria me atrair por um idiota como ele, nunca mesmo.

Estava em meu quarto discutindo comigo mesmo, quando a minha mãe bateu na porta.

— Oi mãe. — Falei sem graça.

— O que foi? Ainda se sente mal? — Ela me olhou preocupada.

— Mais ou menos. — Eu me sentia estranho, não conseguia respirar direito.

— Quer que eu ligue pra escola e avise que você não vai? Precisa descansar.

— Não, mãe. Eu vou ficar bem. — Peguei minha mochila e me preparei para sair do quarto.

— Hum, se está bem, eu preciso da sua ajuda! — Minha mãe me olhou seriamente. — Uma garota foi abusada por um merdinha, mas não temos nenhuma prova, ele usou preservativo, luvas, enfim não deixou rastro. Mas descobri que ele é envolvido em aliciamento de menores, drogas, e mais um monte de porcaria. Só preciso achar documentos, fotos, qualquer coisa que coloque esse desgraçado na cadeia.

Eu já imaginava o que ela queria. Não era a primeira vez que a minha mãe vinha me pedir ajuda.

— Tá legal. Quer que eu siga ele?

— Quero que encontre essas provas do jeito que achar melhor! — Ela sorriu pra mim. — Vai me ajudar?

— Vou sim. Me passa os dados do imbecil e consigo tudo.

Saí para a escola.

A manhã foi tensa. Não consegui me concentrar, parecia que os professores falavam em outro idioma. Minha cabeça doía, eu ainda estava com dificuldade de respirar e meu coração estava mais acelerado que o normal.

Quando as aulas acabaram corri para o estacionamento, tudo que eu queria naquele momento era a minha cama. Mas quando estava saindo vi a Dandara passar.

Apesar do idiota do Daniel ter dito que ela não iria contar nada do que viu, achei melhor falar com ela e ter a certeza disso.

— Dandara! — Corri até ela. — Tá indo pra casa? Veio de carro? — Eu estava ofegante.

— Tô sim, o motorista me trouxe, você sabe que eu odeio dirigir. — Ela me olhou intrigada. — Você tá bem?

— Tô sim. — Respirei fundo. — Posso te dar uma carona, quero trocar uma ideia contigo.

— Ok!

Entramos no meu carro, ficamos em silêncio até a metade do trajeto, quando eu finalmente criei coragem pra falar.

— Danda, eu sei que deve ter sido, estranho, ver... Você sabe... — Falei super sem graça. — Mas eu posso explicar que....

— Adam, você não tem que me dar satisfação de nada. — Ela me interrompeu. — Eu sou filha de um casal gay, eu sei bem como essa sociedade é preconceituosa e monstruosa. Imagino o quanto vocês dois devem estar assustados com tudo isso. E na boa, as únicas pessoas que podem e devem definir se vão ou não contar o que está havendo são vocês dois, e até pra isso precisam estar em acordo. Então relaxa, eu não vou falar nada pra ninguém.

Olhei admirado para a Dandara, ela realmente era uma mulher incrível.

— Obrigado!

— Mas se me permite. Tenta descobrir de uma vez o que você sente pelo Dan. — Ela agora me olhava séria. — Existe uma coisa chamada responsabilidade emocional, e me parece que você não tem isso. Não dá pra beijar e depois rejeitar as pessoas como se elas não tivessem sentimentos. Então se decide logo, antes que o Daniel saia magoado dessa história toda.

— Eu tenho responsabilidade emocional...

— Sério Adam? Sério mesmo? — Dandara me interrompeu chateada. — A Juli passou uma semana chorando pelo modo como você a dispensou, fora que a situação já foi ridícula desde o início né. Você fez a menina se esconder no seu quarto, transou com ela e depois simplesmente a mandou ir embora. Fora as outras garotas com as quais você fez a mesma coisa. E agora tá fazendo isso com o Dan. Mas pensa cara, pessoas não são máquinas, ela tem sentimentos. Sofrem, se magoam. — Ela passou as mãos nos cabelos e me olhou por alguns segundos. — Se não se decidir logo e parar de brincar com o sentimento alheio, você vai acabar sozinho e triste.

Chegamos em casa e ela desceu do carro sem nem esperar que eu pudesse falar algo. Mas ela tinha razão, eu era um babaca.

Depois do almoço fui para o quarto, tentar estudar, mas estava mega angustiado com tudo isso, as coisas que a Dandara me disse ficaram martelando na minha cabeça.

Se tinha uma coisa que eu odiava fazer, era pedir desculpas, mas a Juli merecia esse pedido, acho que de todas as garotas, ela foi a que eu mais magoei. E o Daniel... Que merda! Mas eu não vou pedir nenhuma desculpa pra ele. Pelo menos não ainda.

À noite, resolvi sair, precisava aliviar a mente. Então fui atrás do cara que a minha mãe pediu.

Ele tinha uma casa de eventos, um lugar perfeito para tráfico de drogas e aliciamento de menores. Como sou jovem e baladeiro, era fácil me infiltrar.

Entrei na festa, me misturei com a galera, bebi um pouco e consegui ver drogas circulando, fui então tentar ver de onde essas drogas estavam vindo, e bingo, o cara estava lá organizando tudo. Isso ia ser bem fácil.

No dia seguinte, vesti minha roupa tática e invadi a casa de eventos. Eles não se preocupavam tanto com a segurança. Consegui pegar alguns documentos, fotografei as drogas e andando mais, consegui ver as crianças que se prostituíam ali.

— Tá aí mãe. Documentos, fotos e vídeos da tal casa de festa. Acho que já dá pra condenar o cara. — Entreguei tudo pra minha mãe, antes de ir para a escola.

— Minha nossa, como já conseguiu? Te pedi isso ontem! — Minha mãe sorria impressionada. — Você é mesmo incrível meu filho. — Ela me abraçou e fiquei sem graça.

Incrível! Eu sou incrível?

Não, eu sou um idiota! Mas ao menos, eu presto pra esse trabalho, é nisso que preciso me dedicar.

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