Apenas profissionais

...Daniel...

Contei para a Dandara tudo que aconteceu, desde o dia do jogo, até hoje. Ela me olhava intrigada, às vezes esboçava um sorriso, outras abria a boca chocada, e em outras ela fazia uma expressão de dúvida.

— Caramba! Então é isso que vocês ficam fazendo trancados no quarto do Adam? — Ela falava admirada.

— Não, quer dizer, também. Mas nós realmente estamos estudando.

— Hum... Mas, me conta. — Ela se aproximou ainda mais de mim. — Vocês já definiram esse relacionamento. Tipo, vocês se gostam ou estão só curtindo e experimentando?

— Não tem nada definido Danda. Nada mesmo. — Passei as mãos no rosto.

— E você gosta do Adam?

Respirei fundo, pensei por alguns segundos e decidi ser sincero.

— Eu gosto. Não sei mensurar exatamente a dimensão desse gostar, mas sim, eu gosto dele. — Um peso saiu dos meus ombros assim que disse isso. — Na real, agora me dei conta de que não amo a Sophie.

— Caramba, ainda tem a Sophie, eu tinha me esquecido dela. — Danda me olhou ainda mais chocada. — Tá traindo a sua namorada, até outro dia você estava planejando casar com ela.

— Pois é, eu me enganei, não quero mais continuar com a Sophie.

— Então gosta mesmo do Adam! — Ela pegou na minha mão. — E ele? Gosta de você?

— Eu não sei. Às vezes eu penso que sim, e outras vezes penso que ele me odeia. — Falei triste. — Ele me evita, me trata mal, e eu fico atrás dele como um belo trouxa.

— Ele não te odeia. Ninguém faria algo assim com alguém que odeia. — Danda sorria.

— Eu sempre gostei de garotas, o Adam também, e aí do nada, passamos a gostar de homens? Eu não entendo. — Me levantei. — Na real, eu ainda gosto das garotas, e o Adam é o único cara que me interessa.

— Bom, você deve ser Bi. — Danda se levantou e andou até perto de mim. — Mas não tem que se preocupar com isso agora. Seu maior problema é que dentre tantos caras legais no mundo, você foi gostar logo do Adam. Que azar!

— Pois é. — Dei risada.

— Mas sabe que eu acho que vocês se gostam desde criança. — Ela falou como se lembrasse de algo.

— Como assim?

— Quando éramos crianças, você vivia grudado no Adam, ele sempre foi chatinho e tirado a grosseirão, mas também gostava de ficar perto de você. — Fui me lembrando disso enquanto ela falava. — Mas quando a gente tinha uns 10 anos, os garotos do bairro fizeram uma brincadeira sem graça e chamaram vocês de namoradinhos, a partir daí vocês passaram a implicar um com o outro.

— Verdade, e ainda teve o Aaron que insistia em comparar a gente. Então nos afastamos totalmente. — Falei triste. — Eu queria tanto que a gente se entendesse.

— Ai maninho. Da tempo ao tempo. — Danda me abraçou. — E lembra que as coisas são complicadas para o Adam. Eu vejo o quanto ele é cobrado, o Aaron pega bem pesado com ele. Tem tantas expectativas sobre esse garoto, acho que ser gay, não vai ser bem visto pelos Willards.

— O Aaron e a Madú não são preconceituosos.

— Não são, mas pode ser diferente com o filho deles, ainda mais quando impõem que ele tenha filhos para fazer a família se perpetuar. — Danda falou dando de ombros. — Enfim, esse deve ser o tipo de coisa que está passando na cabeça dele. Vamos voltar pra festa.

Passei o resto da noite pensando nas coisas que a Dandara me falou, e ela tinha razão. O Adam agia assim porque, tinha medo do que os outros iriam pensar dele. Mas ele pode gostar de mim, talvez eu só precise convencê-lo de que podemos guardar segredo, ou que podemos enfrentar tudo juntos. Eu faria isso.

Na manhã seguinte, me levantei bem cedo e decidi conversar com o Adam, antes de ir para Brésalen. Então bati na porta do quarto dele, e insisti até que ele abriu.

— Tá fazendo o que aqui? — Adam, estava terminando de se arrumar para a escola.

— Vim te ver, quero conversar antes de partir. — Entrei no quarto e ele fechou a porta.

— Fala logo então. — Ele respondeu ríspido e novamente me senti um trouxa por estar ali atrás dele, enquanto ele só me rejeitava. — Resolveu as coisas com a Dandara?

— Resolvi sim, ela não vai contar nada pra ninguém.

— Acho bom. — Ele parecia estar com raiva. — Tá legal, agora pode ir. — Ele andou até a porta. — Boa viagem e sucesso na missão.

— Espera! — Falei e ele se virou revirando os olhos. Essa postura do Adam me irritava demais. — Adam... Me dá um beijo de despedida. — Era primeira vez que eu pedia um beijo dele, pois geralmente acontecia ou era tomado a força.

Ele ficou parado me olhando de um jeito estranho, então me aproximei dele e resolvi tomar a iniciativa. Mas antes que eu conseguisse tocar nele, levei um baita empurrão.

— Você perdeu o juízo? — Adam gritava em sussurro. — Que merda de beijo de despedida. Não entende que tudo isso foi um erro. Foi sei lá... loucura!

— Loucura? — Olhei pra ele chocado.

— É loucura. Eu já disse que não sou gay. Nós não somos amigos, nem namorados, nem ficantes ou qualquer outra coisa. — Ele falava com muita estupidez. — Nossa parceria é profissional, é pela Willard, e só. Então para com essa viadagem.

— Para você com isso, Adam. Vai dizer que não sente nada por mim? — Falei chateado.

— Sinto raiva, desprezo e ódio. Só isso.

Perdi o controle e fui pra cima dele.

— Vai dizer que não se sente atraído por mim? — Prensei o meu corpo sobre o dele. — Vai dizer que eu não te deixo nem um pouquinho excitado? — Peguei no membro dele e comecei a acariciar, senti o Adam "fraquejar" nesse momento, enquanto seu membro começava a dar sinais. — Jura que não tá com nenhuma vontade de me beijar? — Aproximei os meus lábios dos dele. Mas ele me empurrou com toda força que tinha e acabei no chão.

— Que caralhos você pensa que está fazendo? — Adam respirava com dificuldade, ele parecia estar tomado pelo ódio. — Eu disse que a única coisa que sinto por você é ódio. Agora sai daqui, e se voltar com esse papo de beijo, atração ou sei lá o que, eu te parto a cara, seu viadinho.

Me levantei com muita raiva. E naquele momento tomei uma decisão.

— Muito bem. A partir de hoje, nossa relação é estritamente profissional. Não vou mais te incomodar.

Me virei e saí, fui o mais depressa possível para o meu carro e chorei enquanto dirigia para a casa do Benj.

Eu não iria me sujeitar a outra humilhação como aquela. Vou deixar de gostar do Adam a todo custo e nunca mais vou me aproximar dele. Acabou!

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