Bêbado

...Daniel...

Eu juro que estou tentando lidar com o idiota do Adam da melhor maneira possível. Ele é um Willard e tenho que ser leal e respeitar ele, mas é tão difícil fazer isso quando ele se comporta como um total merdinha.

Cara, eu não sei porque ele me odeia tanto. Sim, o fato do pai dele ficar me comparando com ele é chato, eu também não gosto disso. Somos muito diferentes, e o Adam não é uma decepção, muito pelo contrário ele tem muitas qualidades, é excelente atirador, muito melhor que o próprio Aaron até. E ele sabe liderar, só precisa se dedicar mais. Porém não fui eu quem provocou nada disso.

Eu me comprometi a ajudar ele, propus uma parceria, e tenho me esforçado pra dar certo. Mas ele fica me evitando, droga.

O dia na escola foi bem tranquilo, tivemos aula até o período da tarde e a noite fomos para o campeonato. Eram as oitavas de finais e o Adam é o capitão do time. Então fomos dar o nosso apoio, até o Aaron e a Madú estavam lá, eles sempre iam aos jogos, eram os pais mais presentes da escola.

O Adam liderou a equipe perfeitamente, ele até fez gol, e enfim, venceram. Jogar futebol é outra das várias qualidades dele, eu mal consigo chutar uma bola.

Depois do jogo a galera do colégio foi comemorar, não teremos aula pela manhã, então decidimos curtir a noite. E foi bem divertido até o Adam aparecer totalmente bêbado.

Ele estava curtindo e beijando todas as garotas possíveis, bem típico dele, esse lado mulherengo do Adam sempre me incomodou, apesar de não ser da minha conta. Mas de repente ele sumiu e a Lavínia veio me chamar.

— Dan, o Adam tá mal! — Ela me olhou preocupada.

— Mal como? — Perguntei.

— Tá bêbado lá fora e procurando briga. Me ajuda a levar ele pra casa? — Ela fez uma carinha de cachorro sem dono.

— Fala sério Laví, ainda tá cedo, não quero ir embora, faz tempo que não saio assim. — Resmunguei. — Não vou estragar a minha noite por causa do idiota do Adam.

— Tá falando de um Willard esqueceu? — Ela levantou a sobrancelha afrontosa. — E aí vamos largar ele na sarjeta?

— Droga! — Revirei os olhos. — E porque tem que ser eu? Cadê o Cássio e a Dandara?

— A Dandara não veio pra festa, você não presta atenção na sua irmã? — Agora foi ela quem revirou os olhos. — O Cássio veio no meu carro, e alguém vai ter que levar o carro do Adam, enfim, todo mundo vai ter que ir embora agora.

— Merda! Vamos lá. — Saí andando chateado.

O Adam estava lá fora brigando com um cara aleatório, o Cássio estava segurando ele e o cara ao mesmo tempo.

— Aí, foi mal cara, ele tá bêbado, vamos levar ele embora, desculpe a confusão. — Cheguei afastando o cara com quem o imbecil estava brigando. O sujeito resmungou alguma coisa, que não dei importância, e voltou para dentro.

— Dani, o que tá fazendo? — Adam me olhou confuso.

— Dani? — Eu, Cássio e Laví falamos ao mesmo tempo.

— Desde quando o Adam te chama de Dani? — Laví me olhou confusa.

— Sei lá! — Respondi sem jeito. — Aí cara, vamos embora.

— Não vou embora, você não manda em mim, não somos amigos, já disse. — Adam falou gritando.

— É, ele voltou ao normal! — Laví falou arrastando o Adam até onde estava o meu carro enquanto ele reclamava.

— Eu vou no meu carro e vou dirigir, não preciso de ajuda. — Adam continuava reclamando.

— Cara, você tá bêbado, se dirigir você vai se matar. — Respirei fundo e falei com toda a paciência possível. — Por favor, entra no carro e me deixa te levar para casa.

Ele não respondeu, simplesmente abriu o carro e se sentou no banco de trás. Quando eu ia entrar, Laví me puxou.

— Escuta, se a Madú ou o Aaron virem ele assim, vai dar merda. Inclusive pra gente. — Ela falava com atenção. — Eu vou na frente e vou ligar pra Dandara, pra saber se eles já foram dormir, aí ela fica de vigia e eu te ajudo a colocar ele no quarto. Então fica dando voltas com ele até eu te ligar.

— Por que ele bebeu tanto? — Falei olhando pra ele.

— Muita pressão, lidar com o Aaron não é fácil, e o Adam tem que ser perfeito, ser um Willard. — Laví falava triste. — É muita coisa na cabeça de um adolescente.

Olhei pra ele e me entristeci, era verdade, o Adam sofria mesmo com muita pressão. E precisava de apoio.

Entrei no carro e fui dirigindo sem rumo, aguardando a ligação da Laví, mas no meio do caminho o Adam pediu pra descer, achei que ele ia vomitar e parei o carro.

Ele desceu e começou a andar em círculo.

— O que tá fazendo? — Perguntei intrigado.

— Porque você é assim? Por que causa isso em mim?

— Do que tá falando? — Eu não estava entendendo nada.

Ele então me olhou, estava estranho, seu olhar parecia querer me dizer algo. Ele exitou por alguns segundos e depois andou firme até a minha direção, por um segundo achei que ele fosse me bater, mas então ele me segurou pela cabeça e ... Me beijou!

Eu fiquei sem reação, até que senti a língua dele querendo entrar na minha boca e empurrei ele pra longe.

— Mas que porra é essa? — Eu estava chocado, perplexo. Ele andou novamente até perto de mim e tentou me beijar outra vez, mas dessa vez eu o empurrei antes que conseguisse. — Cara, o que você tá fazendo?

— Deixa de ser idiota, sabe muito bem o que eu estou fazendo! — Ele tentou me beijar outra vez e novamente o empurrei. — Mas que merda, logo agora que tomei coragem, você vai me empatar?

— Tomou coragem?

— Faz tempo que quero fazer isso. — Ele tentou outra vez e o empurrei. — Que seja! — Ele falou bravo e voltou pro carro.

Fiquei alguns segundos do lado de fora tentando entender que merda foi essa. Então entrei e dirigi até a porta de casa. A Laví estava parada na porta com o telefone na mão.

— Porque já está aqui, eu disse pra vir quando eu ligasse! — Ela reclamou assim que estacionei.

— Experimenta passar tanto tempo num carro com esse idiota bêbado. — Resmunguei com raiva.

Entramos com cuidado e colocamos o idiota na cama. Assim que ele se deitou, apagou.

Fui para o meu quarto, tomei um banho demorado e fiquei pensando no que aconteceu. Que merda foi aquela? O Adam me beijou, tipo e tentou mais de uma vez. Disse que queria fazer isso a muito tempo. Como assim? O Adam é gay? E gosta de mim? Ou ele tava transformado pela bebida?

Rolei na cama a noite inteira e não consegui dormir, eu tinha que tirar essa história a limpo. E o pior nem era isso, eu... Sei lá... Foi estranho, eu fiquei sentindo a boca dele na minha a madrugada inteira, quando fechava os olhos eu lembrava de toda aquela cena e agora não paro de pensar no que teria acontecido se eu tivesse deixado ele me beijar.

Merda!

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