Enquanto dirigia, Lucas deslizava com certa urgência as diversas notificações de seu secretário, alguns sócios da empresa, parentes do México e ligações de Marcelo.
Apesar de sentir que havia algo errado, ele não prestou atenção. Discando o número de Marcelo enquanto dirigia, seu olhar no volante se desviando hora outra para ligar para o outro novamente, a resposta era uma chamada nunca atendida.
Quando chegou em casa, o que o esperava era um lugar completamente vazio. Ele desceu as escadas ligando para o outro novamente, a resposta era uma recusa silenciosa. Quando uma ligação foi exibida na tela, ele atendeu imediatamente.
— Marcelo, onde você está?
— Sr. Hernández? você está bem? - o homem do lado perguntou, havia um nervosismo inevitável em sua voz.
— Tomás? - ele franziu a testa, seus passos diminuindo lentamente antes de voltar a acelerar. — O que aconteceu?
— A sede está tentando entrar em contato com você há dois dias. Está acontecendo um tumulto! As ações estão caindo, alguns acionistas estão vendendo suas partes, alguns contratos que iriam ser assinados foram descartados pelas empresas de um dia para o outro!
A expressão de Lucas finalmente caiu.
— Marque um vôo para daqui há duas horas, compre duas passagens. Preciso pegar alguém primeiro.
— Sr. Hernández ah... Não há tempo! Volte ago-
Ele desligou, pegou o carro e foi em direção a casa de Adriana nos subúrbios. Seu nervosismo não o impediu de buscar rapidamente o número de Gregório, ligando para o homem que ele prometera nunca trocar palavras novamente.
Quando a ligação foi atendida, ele disse entre os dentes.
— Eu vou perguntar apenas uma vez, onde está Marcelo?
Uma voz levemente animada veio do outro lado, havia alguns sons de fundo, como se ele estivesse fazendo alguma outra coisa antes de atender.
— Marcelo... - a voz parecia estar pensando — Os donos deveriam saber o paradeiro dos próprios cachorros, não?
Vendo que Lucas iria desligar, ele o interrompeu com certa rapidez.
— Calma, calma! Eu vou falar, mas antes, quero que me ouça bem. Me ligue quando tudo acabar, você vai saber quando encontrar com ele. Estou dizendo isso apenas para que saiba que estarei aqui, esperando por voc-
— Filho da puta bastardo.
Ele desligou.
Quando chegou na casa, o interior estava cercado por uma atmosfera densa e escura. O andar inferior estava envolto em escuridão, e apenas as luzes fracas do corredor do segundo piso eram capazes de iluminar vagamente o caminho para cima.
Ele não sabia o motivo, mas sua urgência parecia ter ficado presa nos seus pulmões, entre suas respirações cortantes que agora não tinham espaço para dar vazão. Seus passos subiram as escadas lentamente, quando chegou ao corredor, as lâmpadas acima de sua cabeça tremeluziram.
A porta do quarto de Adriana estava aberta, e um leve sussuro audível.
A mulher estava deitada na cama, suas pernas inertes iluminadas pelo luar que atravessava as cortinas abertas. Havia um homem ao seu lado, removendo um travesseiro de seu rosto, antes de levar as mãos e arrumar as mechas de cabelo bagunçados da mulher.
Os olhos de Adriana estavam bem abertos, olhando diretamente para ele.
estava morta.
Ele deu dois passos para trás, sua expressão enrijecida. Os músculos de seu corpo não o obedeciam, e seu olhar não conseguia se desviar do rosto da mulher na cama. Ele só notou que seus sapatos haviam feito um leve rangido quando o homem ao lado da cama lentamente virou a cabeça para olha-lo.
Era Marcelo...
Ele não precisava de prova alguma, Marcelo estava ali, segurando um travesseiro, seu rosto impassível observando o cadáver de sua mãe recém falecida. Toda essa cadeia de eventos tinha apenas uma única explicação.
— Você a matou - havia um tremor imperceptível em sua voz.
Marcelo olhou para Lucas por dois segundos antes de desviar os olhos para o travesseiro. Ele o pegou e o ajeitou cuidadosamente por baixo da cabeça de Adriana, antes de olhar brevemente para o rosto da mulher e fechar seus olhos, que nunca mais se abririam.
— Quando eu cheguei, ela já não estava mais aqui.
Lucas zombou.
— O quão estúpido você acha que eu sou, a ponto de não ligar as peças que estão jogadas na minha frente?
Marcelo não respondeu, ele caminhou em direção a Lucas, que não desviou um passo.
— No fundo...
— O quê?
— No fundo, você realmente se importa com a vida ou morte dessa mulher?
Lucas podia sentir a respiração de Marcelo a um passo de seu rosto, os pelos de seu corpo de arrepiaram. Ele ergueu a cabeça para olhar diretamente para o rosto de Marcelo, como se estivesse conhecendo o homem pela primeira vez.
— Você a matou.
Marcelo franziu a testa, seu olhar pesado.
— Eu não a matei.
— Puta merda! como você quer que eu acredite nisso? - seus olhos vagavam pelos olhos de Marcelo, esperando que de alguma forma eles expressassem algum remorso, ele não viu nenhum.— Você acha que a polícia é tão inocente a ponto de acreditar numa história tão má contada!?
Até mesmo para um filho que encontrou o corpo de sua mãe sem vida em seu quarto, Marcelo estava pacífico demais. Tão pacífico que ele se perguntou se o homem a sua frente era o mesmo homem com um olhar preocupado enquanto conversava com o médico de Adriana outrora.
Mas o que ele viu foram os cantos dos lábios de Marcelo se erguerem lentamente.
— Você está preocupado comigo?
Lucas o encarou. Ele estava ficando louco? Era a única opção, tudo isso era uma alucinação selvagem.
Se o ponto ao menos fosse a morte de Adriana... Mas não era.
Ele olhou para o rosto de Marcelo como se o outro fosse um desconhecido. Por um segundo, ele procurou sua paixão insana por esse homem e não a encontrou em lugar nenhum, seus dedos estavam frios.
— Isso é apenas tirar o lixo - Marcelo prosseguiu.
Lucas desviou os olhos, ele pegou seu telefone e tentou fazer uma chamada para Tomás. Outra vez, sem resposta.
— Está ligando para a polícia? - Marcelo não estava nervoso ou impaciente.
— Estou tentando encontrar alguém para limpar sua bagunça. - ele respondeu, insatisfação crua em suas palavras.
Marcelo levantou as sobrancelhas, seu sorriso se aprofundando.
Um telefone vibrou, era o de Marcelo. Ele olhou levemente para a notificação e todo seu corpo parecia relaxar, como se a aura anterior não o pertencesse e ele voltasse a ser seu eu antigo.
Ele caminhou levemente para a cômoda pequena ao lado da cama, antes de tirar um longo envelope laranja, entregando-o a Lucas.
Ele observou todo o processo, um sentimento estranho surgindo em seu peito.
Quando ele leu as palavras escritas no documento, seus pés vacilaram por um instante. Ouvindo um "cuidado" e a intenção de Marcelo de ajuda-lo a se equilibrar, ele não conseguiu manter a faxada indiferente, empurrando-o para longe antes de voltar seus olhos para o papel.
Quanto mais ele lia, mais seus dedos cravavam profundamente no documento fino em suas mãos, fazendo com que o papel liso se tornasse cada vez mais imperfeito.
Quando ele terminou, suor frio cobria suas costas. A possibilidade de ser uma mentira perfeitamente articulada era real, no entanto, se fosse verdade, ele estava condenado.
Quanto mais alto você subir,
Mais alto será a queda.
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Atualizado até capítulo 31
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