Sangue

Lucas franziu a testa, desconfiado. Realmente seria tão fácil? Ele duvidou. Mas mesmo assim segurou a bebida entregue em suas mãos. Se fosse qualquer outra pessoa, ele recusaria com firmeza, mas ele não acreditava que Marcelo, estando dentro de seu cerco fechado, mantivesse alguma intenção de prejudicá-lo de forma tão aberta.

O sabor pungente preencheu rapidamente seu paladar. A música suave permanecia impassível, hora outra mudando para um tom mais firme ou suave. Quando ele notou, já havia esvaziado uma garrafa.

Ele pensou ter ouvido uma voz. Era breve, porém decidida.

— Chega, é hora de ir.

Gregório fez ouvidos moucos. Havia uma mulher que se esfregava intimamente contra seu peito. Apesar disso, seus olhos castanhos hora outra se voltavam para Lucas. Ele recostou a cabeça contra o sofá em uma postura lânguida, expirando uma baforada de fumaça, um cigarro pendurado entre seus dedos.

— Deixe-o beber, a noite é uma criança. Não é todos os dias que o grande Hernández tem uma oportunidade de se divertir.

Lucas o ignorou. A tensão entre as sobrancelhas de Marcelo era óbvia. Apesar do desconforto inicial, uma leve chama de curiosidade brotou em seu coração. Se o queriam aqui, ele iria até o final.

— Claro, ainda não terminei.

Marcelo olhou para o homem sentado do outro lado da mesa de centro. Lucas, que geralmente mantinha uma aparência madura, usava ternos e roupas sociais com frequência. Desde sua ascensão, até mesmo o cabelo arrumado para trás com gel, deixando sua testa lisa à mostra, o faria parecer um tanto mais adulto. Entretanto, agora, ele carregava uma aura juvenil. Seu cabelo ondulado estava levemente espalhado pela sua testa, um casaco fino de cor pastel e uma bermuda casual estavam distribuídos por seu corpo esguio.

Notando sua atenção, o homem levantou os lábios e lhe deu um sorriso suave. Seus olhos se curvaram em um formato de meia lua. Os longos cílios causando sombras nos olhos negros, que brilhavam com uma luz cristalina. Os lábios estavam cobertos por uma camada aquosa, abrindo e fechando como se fizesse um convite.

Marcelo desviou os olhos.

Lucas notou o olhar do outro, na verdade, ele fez de propósito. Mas ele sabia bem que Marcelo não mantinha o menor interesse. Vendo Marcelo virar o rosto, ele sabia o que o outro estava pensando. Sua tolerância para bebida não era boa, mas Marcelo era ingênuo, ele ainda estava levando em consideração seu eu do passado.

Quando tinha acabado de completar dezoito anos, eles foram juntos para o dique. A ponte velha de madeira era quase como um ponto de referência para ambos, como se fosse um lugar separado do resto do mundo. Naquela noite, ele levou um balde e duas varas de pescar. Quando avistou Marcelo, ele balançou o braço bem alto, balançando-o como se Marcelo realmente não pudesse vê-lo a poucos metros de distância. Quando o outro se aproximou, ele notou a caixa de cerveja sendo levada pelo homem, um sorriso divertido surgiu em seu rosto.

Naquela noite, bastou apenas meia garrafa para que ele começasse a ver duplicado. Havia um sentimento quente e reconfortante que envolvia cara poro de seu corpo, antes que visse, ele havia dormido, bêbado, no ombro de Marcelo.

Talvez por seu olhar levemente distraído, sua aparência lhe dava uma sensação de intoxicação. Levando os de fora a acreditar que estava bêbado.

Em menos de um minuto, as mulheres haviam se retirado da sala. Fingindo não notar, Lucas observou impassível um dos homens, que sequer havia virado os olhos para ele antes, se levantar e segurar uma câmera tirada de algum lugar. Para fazer sua atuação parecer mais natural, ele relaxou o corpo e franziu levemente os olhos, como se estivesse sonolento.

Marcelo estava indiferente, bebendo enquanto fitava algum canto do sofá, pensativo, como se estivesse fugindo de algo.

Finalmente, Gregório deu um passo. Ele se levantou e se aproximou lentamente de Lucas, colocando um joelho entre suas coxas e os braços em cada lado de seus ombros. Lucas continuou com os olhos franzidos, observando o homem se aproximar lentamente do seu rosto. Olhando por cima do ombro do bastardo, ele viu Marcelo. Inesperadamente, seus olhares se encontraram.

Marcelo estava sentado no sofá rigidamente. As veias na mão que seguravam a garrafa estavam prestes a saltar, suas têmporas enrugadas, mas ninguém sabia o que ele estava pensando.

Lucas se deu conta.

Pela primeira vez, ele sentiu realmente o nível de sua estupidez. Havia uma dor crescente em seu peito, como se uma pedra caísse no seu coração. Cada mísera tentativa de colar as antigas peças quebradas foram envão. Elas se romperam em pedaços tão pequenos que era impossível, mesmo que ainda procurasse e procurasse, incansavelmente e arduamente por cada uma, colocá-las em suas respectivas posições novamente. Cada pequeno caco pontiagudo espalharam-se dentro de seu peito como adagas afiadas, cortando seus pulmões e o impedindo de respirar com firmeza.

A clareza voltou rapidamente para sua expressão. Havia uma luz ofuscante em seus olhos, ele ergueu o braço antes de notar que era a luz de ativação da câmera. Ignorando-a, ele tentou se levantar e se dirigir em direção a Marcelo. Ele não iria dizer nada, ele não iria espanca-lo, ele não iria humilhá-lo. Ele apenas queria encará-lo nos olhos e confirmar sua suposição.

Apenas um segundo...

Um segundo...

Antes que desse um passo, ele sentiu seu corpo sendo empurrado de volta contra o sofá. Olhando para o homem que o segurava, ele notou que Gregório não era o tolo que ele pensou que era. Havia uma luz estranha nos olhos do homem, olhar que homens conheciam muito bem. Por um momento, ele queria rir, mas seu corpo estava frio.

A voz de Gregório era como a de um caçador encurralando sua presa. Havia um toque brincalhão de um vagabundo, mas Lucas sabia que seus olhos não carregavam nem um pingo de medo, respeito ou hesitação.

-" Não saia ainda, temos tempo para brincar".

-"solte"

Sentindo os lábios do homem tocarem seu pescoço, ele pronunciou, sem um pingo de nervosismo.

-"Seu pai é o dono da filial CCI."

Lucas sentiu o corpo do homem enrrigecer por um segundo, antes de levantar o rosto com a sobrancelha erguida. Ele deu um sorriso mostrando uma covinha rasa.

-"é mesmo?"

Lucas acenou a cabeça lentamente, não havia a menor tensão em seus olhos baixos.

- " Ele parece uma pessoa muito responsável. Eu me pergunto como o Sr. Jefferson iria elogiar seu primogênito em nossa próxima reunião".

O sorriso de Gregório desapareceu.

Sentindo o corpo do outro se afastar lentamente, seu olhar finalmente ficou sério. Ele procurou Marcelo com os olhos, mas a sombra do homem já havia desaparecido.

Seu coração ficou frio.

Antes que notasse, ele havia novamente sido empurrado para baixo. Talvez ele tivesse subestimado sua capacidade para o álcool essa noite, ou talvez o entorpecimento que amolecia os músculos do seu corpo o estivessem sabotando. Se não, qual o motivo de em tantos dias, seu corpo falhar com ele logo nesse momento.

Ele olhou para o homem que ainda segurava a câmera com um olhar indiferente. Virando-se, ele se viu completamente suprimido pelo corpo de Gregório, que o fitava como um pequeno animal que valia a pena brincar.

-" Eu nunca experimentei um mexicano antes" ele bateu dois dedos no rosto de Lucas, que encarou com rápida surpresa um ponto no canto da sala, antes de sua expressão voltar ao normal.

-" Na verdade, seja bom. Eu queria apenas ensinar uma lição para você, mas não esperava que você fosse tão interessante".

Ouvindo as palavras que soavam como vindas de um velho pervertido, Lucas levantou as sobrancelhas interiormente. Ele finalmente relaxou o corpo e mostrou um olhar de falsa tensão. Vendo a expressão satisfeita do outro, ele sentiu os lábios frios caindo novamente em seu pescoço. Uma mão grossa deslizou por suas costas até chegar na parte inferior de sua cintura.

Lucas olhou para a luz do teto branco puro. A melodia perfurou seus ouvidos como uma sinfonia do inferno, abrindo os portais da grande atlântica, e dando espaço para a cavalaria tempestuosa adentrar a cidade prometida.

Quando ele notou, Gregório estava de joelhos no chão. Havia um grande corte em sua cabeça, ele levou uma mão a testa, enquanto se equilibrava na mesa de centro. Sangue quente e espesso deslizava lenta e suavemente entre seus dedos.

Marcelo estava de pé, suas roupas perfeitamente engomadas. Ele sabia bem utilizar o dinheiro que lhe era dado, até mesmo sua constituição forte parecia inacessível diante de seu porte ridículo. Havia uma garrafa quebrada em sua mão.

-"Que porra!? Você não tinha concordado, Por quê agora está querendo bancar o herói?"

Marcelo não teve tempo para responder, Gregório o empurrou para o chão e um punho pesado repousou em seu rosto.

Observando o confronto e a resposta calorosa de Marcelo a afronta do outro. Lucas estava indiferente. Ele abotoou os botões da parte superior de sua camisa, ignorando os que haviam sido esfolados para fora anteriormente, e caminhou lentamente até a porta, ninguém o impediu.

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