NW: O seguinte capítulo possui conteúdo sexual. O discernimento do leitor é aconselhável.
* * *
Lucas estava indiferente. Ele abotoou os botões da parte superior da sua camisa, ignorando os que haviam sido esfolados para fora anteriormente, e caminhou lentamente até a porta, ninguém o impediu.
A brisa noturna estava gelada, a rua antes movimentada agora estava um pouco mais vazia. Provavelmente todos os indivíduos que perambulavam estavam a jogar em algum buraco nos prédios compactados.
Quando ele olhou para o retrovisor, apenas uma sombra pequena e familiar era refletida, mas logo desapareceu.
Em casa, as suas pálpebras não conseguiam se fechar. A água quente deslizava sobre a sua pele, deixando-a de um vermelho vivo, quase a ponto das queimaduras; mas não sobressaia o sentimento que perdurava.
Ele pegou um roupão aleatório, e limpou com o punho o reflexo borrado no espelho. O homem refletido era ele, com grandes olhos negros, e uma marca indescritível pendurada no pescoço. Ele desviou os olhos.
Gregório nem sequer era classificado como um peixe pequeno. Se ele fosse colocá-lo no vocabulário popular, ele no máximo se configuraria como um pequeno girino flutuando no mais fundo pântano lamacento.
Quando ele voltou, percebeu que Marcelo estava sentado na sua cama. Seu semblante insondável.
Lucas fingiu não vê-lo, caminhou até o guarda-roupa e tateou os cabides.
— Você gostou do espetáculo? Imagino que sim, já que você mesmo havia programado.
Marcelo não sentiu raiva ou provocação nas palavras. Na verdade, o comportamento recente de Lucas era peculiar. Tanto que ele mesmo não conseguia entender o que passava na mente psicopata do outro.
— Eu não sabia que Gregório iria tão longe, isso não vai mais acontecer.
Ao contrário da agressividade esperada, Marcelo falou como um cachorro que havia perdido o dono. Lucas pausou a sua atividade de fingir mexer nos cabides e riu alto.
— Depois de tanto tempo, não há necessidade de falsa modéstia. - ele se virou, voltando seu olhar para o homem sentado na cama — "Você merece" é isso que você pensou, certo? Se não você, com certeza qualquer um daqueles delinquentes viciados pensaram.
Marcelo, por um instante, se tornou pensativo. Apesar da luminosidade fraca, as marcas de luta em seu rosto eram visíveis, parecendo bastante dolorosas. Mas o rosto do homem estava impassível.
— Você acha que não?
O sorriso falso no rosto de Lucas rachou. Ele ouviu a voz baixa de Marcelo soar no quarto de paredes frias, como uma faca cravando lentamente em seu coração.
— Há cinco anos, você gostava de brincar com uma câmera fotográfica que eu dei a você de presente de aniversário.
Marcelo se levantou.
— Então você gravou um vídeo.
Lucas virou-se, aparentemente procurando por uma peça inexistente no guarda-roupa.
— Eu estava bêbado, mas você ainda gravou um vídeo, enquanto fazíamos sexo.
Ele pausou por um segundo, antes de continuar.
— Você está com raiva. Mas o quão melhor que eu você é? Eu estava bêbado, você estava sóbrio. Você me chantageou, eu tentei me vingar. Não acha que é inocente demais esperar que eu me curve de diante de você, esperando lentamente pelo carrasco como um homem no corredor da morte?
Ele ouviu uma risada baixa, que logo inundou o quarto silencioso.
— Eu acho que temos um problema aqui, Marcelo. - dessa vez, ele o confrontou frente a frente — Eu nunca chantegiei você. Você acreditou nisso porquê quis acreditar, quanto aquele dia, você se acha tão inocente, quando fui eu que acabei machucado?
Marcelo franziu a testa.
— E quanto aos empregos?
Lucas fez uma pausa, erguendo levemente os lábios.
— Há coisas que são inevitáveis, você não pode me culpar pela sua incompetência.
Marcelo se aproximou, segurando seu braço com força. O aperto era tão forte que ele imaginava as marcas que haveriam pela manhã.
— E ela - ambos sabiam a quem ele estava se referindo — E quanto a suas palavras venenosas, suas ameaças... No que eu devo acreditar, Lucas? ... Você mesmo disse. Você poderia, por favor, não ser hipócrita comigo pelo menos uma vez na vida?
O sorriso de Lucas desapareceu.
— Eu sou hipócrita? - ele puxou o braço, que facilmente deslizou do punho do outro — Se não fosse por mim, ela não teria vivido até o dia de hoje. Se não fosse por mim, ela não conseguiria encontrar o melhor tratamento de Florença, não teria os melhores médicos, os melhores medicamentos, as melhores possibilidades de vida para uma pessoa em uma situação como ela. — Se não fosse por mim, ela estaria morta.
Quando ele viu, Marcelo já havia se aproximado. Um punhado de seu cabelo estava preso nas mãos grossas do outro, enquanto suas costas eram pressionadas dolorosamente contra o armário de madeira maciça.
Ele continuou.
— Se não fosse por mim, você não teria encontrado uma oportunidade tão boa. Não teria conseguido a bolsa de estudos, não teria se formado, não teria o prestígio que tem hoje no círculo.- ele riu— Só você não nota, sem mim, você não é nada.
A última frase foi dita suavemente no final, quase como um monólogo. Se Marcelo não estivesse tão próximo, ele não teria ouvido. Mas ao contrário dos sentimentos conflituosos de Lucas, o significado soou diferente em seus ouvidos.
Lucas sentiu o aperto em seu corpo aumentar, a perda de alguns fios provavelmente era inevitável.
Como se tivesse acordado de um sonho, Marcelo riu. Não era uma risada genuína, mas como uma risada de autodepreciação.
— Eu estou aqui. Estou na porra da sua frente, há anos vivendo como um servo a mercê das suas vontades. Então me diga, o quê mais você quer de mim? - ele segurou o maxilar de Lucas, fazendo o homem que tentava desviar o rosto olhar para ele - Você não quer que tempo que desperdiçou comigo seja envão, certo? Que todo o esforço que você fez fora inútil. Seu orgulho não o deixa sair derrotado.
Orgulho, Lucas zombou. Apenas ele sabia o quão louco por Marcelo ele esteve nos últimos anos, quantas noites sem dormir, quantos sacrifícios, quantos esforços e quanta dor ele havia passado, ao menos para tentar tirar o homem de sua cabeça. O homem que ele chamou de irmão mais velho por toda a vida, mas que agora sequer o tratava como humano.
— Me solte.
— Não vou.
— Eu não vou falar de novo.
— Apenas me impeça.
Uma força sem precedentes invadiu o corpo de Lucas, como se tivesse reunido toda a força acumulada durante a vida, o suficiente para empurrar Marcelo a meio metro de distância.
— Pelo que eu me lembre, você tinha nojo de mim - ele tocou o maxilar dolorido, sua voz claramente zombeteira.
Marcelo se aproximou novamente, Lucas franziu a testa.
— Afaste-se.
— Eu não vou.
— Saia daqui, é uma ordem!
— Uma ordem? - Marcelo sorriu - Eu sinto que você deve dizer isso com mais sinceridade.
Quando ele notou, lábios quentes já estavam pressionados contra o seu.
O choque foi tão imenso que seus olhos, que geralmente mostravam pouco ou qualquer interesse pelas coisas ao seu redor, se arregalaram como duas contas brilhantes. Tanto sua relação pessoal quanto sexual com Marcelo era escassa, a única vez que se tocaram, foi no evento dito nas duras palavras anteriores. Fora as discussões constantes, o único toque ocasional eram os dedos apontados nos rostos um do outro, ou as quase discussões físicas que os circundavam. Estar tão perto de Marcelo era como uma ilusão teimosamente persistente, ele quase pensou que sua visão atual era um sonho bêbado do álcool que ainda não havia sido filtrado pelo seu corpo.
— Abra sua boca.
Como se aquele que estivesse recusando agora pouco não fosse ele mesmo, seus lábios se abriram lentamente para dar passagem a língua quente que a invadia. O beijo não foi nada suave, era como se Marcelo estivesse depositando todos os seus sentimentos internos. Chupando e devorando os lábios de Lucas como um devoto viciado, intoxicado por alguma droga instigante.
Sua respiração logo se tornou urgente, um calor familiar surgiu na parte inferior do seu estômago. Tentando se desvencilhar dos lábios de Marcelo, ele respirou pelo nariz de maneira anormal. Como um homem em alto mar, em um estado de desespero inútil, tentando, em vão, não sufocar na água gentil que invadia os pulmões e tirava-lhe a vida.
Quando ele notou, Marcelo já estava segurando suas nádegas. Suas pernas circularam a cintura do homem, não removendo os lábios do outro sequer por um segundo.
Ele tinha medo que, se abrisse os olhos, se soltasse o homem que estava intimamente ligado a ele nesse momento, acordaria novamente na casa vazia.
Quando suas costas repousaram na cama, um pensamento o atingiu. A sensação de perda congelou seu peito, como se tivesse também parado as batidas do seu coração, pretrificando-o por um segundo.
— Voc-você está bêbado? - ao contrário da voz zombeteira que discutia e zombava, seu tom de voz soava anasalado, baixo e temeroso. Como se o Lucas anterior, e o Lucas que Marcelo pressionava abaixo dele nesse momento, fosse outra pessoa.
— Nunca estive tão sóbrio.
Quando viu os preservativos na gaveta ao lado da cama, Marcelo levantou as sobrancelhas. Ele pegou a longa tira compactada e a deixou cair lentamente no peito de Lucas.
— Você diz gostar das pessoas, mas brinca por aí tão casualmente. - apesar das palavras, o desejo em seus olhos havia apenas se aprofundado.
— isso... - Lucas franziu os lábios, finalmente decidido, ele continuou — Não era para outra pessoa.
Tendo entendido as entrelinhas, Marcelo sorriu. Mesmo antes, ele sabia. A obcessao de Lucas por ele chegava a um nível absurdo, que nem mesmo Lucas ousava tocar em outra pessoa. Ao contrário dele mesmo, que se divertia descaradamente, a fim de levantar a raiva do outro
Depois de verificar a gaveta, ele notou que faltava um elemento importante.
— O hidratante...
— O quê? - Marcelo fingiu que não havia escutado — fale mais alto, eu não consegui ouvir.
Lucas fechou os olhos, uma certa parte indescritível de seu corpo estava prestes a explodir. Ele repetiu, derrotado. — Eu disse, use o hidratante.
Marcelo finalmente ficou satisfeito. Ele pressionou Lucas de volta contra a cama, invadindo sua boca entreaberta, dando-lhe um beijo profundo.
— Não se arrependa disso.
Continua...
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Atualizado até capítulo 31
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