Tiramisù

O homem acenou o braço com força, dando-lhe um sorriso largo. Ele já havia notado que Gregório mantinha um estranho hábito de criar uma intimidade forçada com as pessoas.

não estou interessado.

Ele se virou, caminhando em direção a mesa reservada. O local não estava cheio ou silencioso, apenas o suficiente para que ele pudesse ter uma refeição tranquila. Mas quando olhou para a mesa do lado, um curativo familiar entrou em seus olhos.

Antes que percebesse, o outro homem estava sentado na mesma mesa que ele. Um sorriso divertido perpassava a íris, iluminada pelas lâmpadas do salão.

Vendo a expressão indiferente de Lucas, ele fingiu estar perplexo, antes de arregalar os olhos e tocar a faixa em sua cabeça.

— Não me diga que desde a última vez que nos vimos, fiquei tão bonito que você não é mais capaz de me reconhecer - ele fez uma expressão exagerada. Finalmente dando um sorriso satisfeito ao ver Lucas voltar sua expressão para ele.

Ele nunca tinha visto uma pessoa tão sem vergonha.

Na verdade, por Gregório ser filho de uma figura que ele não queria quebrar conexões, ele manteve uma atitude solene. Quando se chega a um determinado patamar, é possível observar de forma nítida cada pequeno detalhe, e mesmo uma ação insignificante poderia resultar em efeitos drásticos. Ele carrega consigo um respeito irrevogável no México, entretanto, quando se caminha pelo território de outra pessoa, nenhum erro é permitido.

Na terra, a serpente possui uma vantagem irrefutável. Mas no ar, ela não se torna nada menos que uma presa insignificante para outro predador.

Ele se lembrou vagamente da voz de pilar. A mulher pequena e magra acariciava um lírio branco com olhos compassivos, a serenidade em sua voz baixa fazia parecer que estava apenas falando sobre o tempo.

Mas Lucas, desde tenra idade, tinha um olhar perspicaz. Pilar, apesar dos longos anos de perda, direcionou a ele durante o último ano de sua vida alguns insides sobre o mundo a qual ele estava inevitavelmente destinado a ser inserido.

Normalmente, esses insides eram obtidos pela longa experiência no círculo social. Mas Pilar sabia que Lucas havia perdido muita coisa, e havia se atrasado em algum momento. Mas enquanto o filho mantesse isso em mente, ele poderia ter um apoio para que o permitisse não vacilar.

Lucas sorriu, como se o evento anterior na boate fosse apenas um devaneio selvagem.

— Sim, você mudou. Com certeza, se tornou ainda mais feio.

Ouvindo sua resposta, Gregório não parecia estar nem um pouco ofendido. Na verdade, ele fez uma expressão de falsa dor, enquanto resmungava.

— Irmãozinho, você é muito duro. Se algum dos meus admiradores escutassem tal coisa, sua casa poderia acordar coberta de tomates!

Até mesmo os vermes no chão encontram um companheiro para admirá-los. Você não é diferente, bastardo.

Quando a comida chegou, Lucas observou brevemente o prato que ele nunca vira Gregório pedir, ser servido para o homem. Forçando um sorriso, ele terminou a refeição.

Quando ele estava prestes a se levantar, ouviu o outro dizer.

— Fique mais um pouco, vou pedir a sobremesa. O chefe é um italiano nato, seria um desperdício sair daqui sem experimentar uma das modas da casa - Gregório persuadiu, sua voz cheia de sorrisos.

— Sinto muito, Sr. Valmer. Na verdade, estou um pouco atrasado - ele disse com falsa cortesia, levantando-se sem se importar.

Quem quer comer com você? bastardo, se perca!

Se o último evento tivesse acontecido no México, a alma de Gregório nunca saberia como morreu.

Gregório relaxou levemente a expressão, que anteriormente o fazia parecer solto e divertido.

— Claro, acredito que a agenda do Sr. Hernández não seja pacífica - ele sorriu — Mas não imagino o que exista de tão interessante em um hotel barato naquele lado do subúrbio. Na verdade, até mesmo para uma reunião online, aquelas paredes surradas o levariam a perder prestígio.

Lucas pausou por um momento, voltando para sua posição sentada original.

Não era realmente um trabalho difícil encontrar a localização de alguém. Principalmente quando ele não havia feito o menor esforço para esconder tal ponto.

Além disso, Gregório não era um indivíduo a ser subestimado. Apesar de ser um vagabundo, ele ainda era um vagabundo com conexões.

— Se você tem algo a dizer, eu sugiro que vá direto ao ponto - não havia o menor respeito em suas palavras, apesar de sua expressão continuar a mesma. Um sorriso profissional relaxado.

— Eu não disse antes, mas notei que o Sr. Hernández possui um leve hábito de urgência - ele ajeitou a gravata — Mas não se preocupe, a avaliação e fama do nosso pedido é suficiente para que a espera valha a pena.

Lucas não sabia se o bastardo estava falando da sobremesa, ou de mais alguma outra coisa.

Comer comer comer... Você passou fome quando criança, nunca comeu em sua vida? para quê tanto suspense?

Ele estava impaciente. O fato é que, se ele quisesse, poderia atravessar a porta e ir embora nesse exato momento. Entretanto, Gregório era um desgraçado que sabia como enrolar as pessoas.

Lucas nunca foi favorável ao conceito de estar a par sobre apenas metade de alguma coisa.

Seja sua propriedade que havia se tornado um grande império por trás de seu nome, ou o desejo de monopolização, embora mal sucedido, de Marcelo. Ou até mesmo as palavras insignificantes que saiam da boca de Gregório nesse momento.

Vendo o leve olhar de Lucas sobre a faixa em sua cabeça, Gregório retrucou.

— Irmãozinho, você está preocupado? Não se culpe, o corte não foi profundo e apenas uma cicatriz sobrará no final - ele disse, como se Lucas não tivesse nada a ver com o buraco em sua cabeça.

— É mesmo? Isso é ótimo, Sr. Valmer.

veja seu médico novamente, porque sinto que a pancada afetou esse seu cérebro maldito.

— Não seja tão burocrático - ele respondeu - meu pai não está aqui.

— Eu simplesmente não gosto do seu nome.

Gregório engasgou. Ele já havia conhecido muitas pessoas, mas nenhuma delas havia o tratado de maneira tão condescendente quanto o homem de cabelos negros a sua frente.

Ele se tornou ainda mais interessado.

Quando a sobremesa chegou, Lucas finalmente acreditou que o bastardo estava certo. Quando criança, ele nunca teve dinheiro ou a benevolência de Gregório ou Adriana para comer doces em datas comuns ou comemorativas. Quando cresceu, ele inevitavelmente deixou de lado alguns pequenos desejos de sua infância.

Como sobremesas.

O Tiramisú não era uma receita incomum. Entretanto, para Lucas, que nunca vira a vida desse lado do muro, era como uma leve palma que o puxava para uma nuvem quente e doce.

Ele deu um décimo para o saldo negativo de Gregório em sua cabeça. Entretanto, ele não era uma criança que seria persuadida por uma simples sobremesa.

Quando terminaram, Gregório, apesar de sua recusa árdua, ainda insistiu em levá-lo até o estacionamento. Em algum momento, ele digitou alguma coisa no telefone, antes de enfia-lo no bolso novamento.

Quando Lucas estava prestes a entrar no carro, ele segurou levemente a porta. Sua força nem fraca nem pesada.

— Eu espero que você não leve a sério nosso penúltimo encontro - seu olhar estava um pouco mais sério - se possível, eu gostaria de vê-lo mais vezes.

Esse bastardo provavelmente não tinha motivo algum para mantê-lo ali por tanto tempo.

Ou talvez tivesse.

A leve aura que emanava do corpo de Gregório era familiar. Como um pavão emplumando o rabo para exibir suas penas coloridas.

— Pensei que você e Marcelo fossem amigos - ele respondeu, sua expressão calma.

— Marcelo é uma pessoa imprevisível - Gregório levantou as sobrancelhas — É como um piano que de repente decidiu ser um violão. Ele vem e vai quando quer, sua fama no círculo de advocacia não é pouca, além de que... - ele sorriu para Lucas - Não é um segredo que existe uma pessoa poderosa mantendo-o por trás.

— Eu não vou culpa-lo pela inconstância de Marcelo - Gregório continuou.

- Entretanto, minha família é um pouco... Sensível demais, eu temo que uma pequena retalhação seja um ponto inevitável.

Lucas franziu as sobrancelhas internamente, sua expressão externa impassível.

— Eu não sabia que o Sr. Valmer corria com tanta pressa para contar aos pais sobre uma briga entre amigos - ele sorriu - Jovem mestre, sou uma pessoa bem perspicaz. Nesse momento, sinto que essa é a última vez que nos veremos em nossas vidas.

— Meu pai não se preocuparia com um assunto tão pequeno - Gregório descansou os dois braços sobre a porta do carro, fitando Lucas a apenas um passo de distância — Além do mais, minha família tem assuntos com você. Eles não o prejudicariam... — Mas eu não diria ou mesmo sobre Marcelo... Ou sua mãe adoentada.

O olhar de Lucas se aguçou.

— O que você disse?

— O que você faria se Marcelo... - o homem descansou a cabeça entre os braços, sua voz baixa — não tivesse mais nenhum vínculo para manter-se a sua mercê?

A pupila de Lucas dilatou.

Ele finalmente entrou no carro e puxou a porta com força, deixando para trás um homem que observava o carro distanciando-se até se tornar cada vez menor. Havia uma expressão despreocupada em seu rosto.

Marcelo é um porém, entretanto, sem esse grilhão...

Ele estava disposto a perseguir o outro homem, mesmo que algumas ações drásticas tivessem que ser tomadas.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!