Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras

 Allexander volta para cima, segurando o garfo que ele anteriormente havia deixado cair “sem querer”, mesmo que ele ainda estivesse sentindo o sangue passando pelo metal frio do objeto. Mas, ele limpa em sua calça escura, esperando que ninguém perceba os traços de sangue, ou até mesmo observe os traços mais escuros que serpenteiam uma parte da roupa, mas é melhor ele subir logo, se não as pessoas começaram a desconfiar com o que ele estivesse fazendo ali embaixo.

— Pronto, encontrei, ela acabou caindo mais longe do que eu esperava. — Fala Allexander, virando sua cabeça percebe que o empregado que ele e Caius tinham visto anteriormente na parte de cima, estava agora do seu lado, com uma toalha branca colocada em um de seus braços e nas outra mão um garfo para compensar aquele que tinha caído. — Obrigado, aqui está o outro.

 A coruja troca os dois talheres rapidamente, sem deixar ninguém prestar demasiada atenção em um garfo insignificante. O empregado, possível mordomo, ou o único que faz alguma coisa nessa casa, dá uma reverência rápida e se retira sem ninguém escutar nada.

— Mas, caro Allexander, eu havia esquecido de perguntar antes. — Fala William, com um pouco de recheio de bolo no canto de sua boca. — Como ele está? Faz tantos anos que não o vejo.

— Meu pai? — William acena. — A, ele está ótimo como sempre esteve. — “E estará.” Pensa Allexander, apenas deixando sua mente marcar esse fato tão intrincado em sua vida.

— Que ótimo, eu adoraria conversar com ele, espero que fale coisas boas de mim, em.

 Allexander apenas acena com a cabeça, relembrando o momento que se viram até esse, a mudança foi tão rápida que ele ainda está processando isso. Mesmo que os adultos, principalmente nobres, fazem essas coisas ainda ele não está acostumando-se a ver esse tipo de alegria vinda da pessoa que o deseja a sete palmos do chão. Ele começa a se perguntar o que aconteceria se ele apenas mostrasse o anel roubado agora, eles ficariam surpresos? Nervosos? Alegres? Ou ressentidos? Muitas coisas poderiam acontecer, e mesmo que ele esteja apenas se distraindo um pouco em meio a toda essa situação que mudou tão rápido quanto um vento desgovernado, resolve não fazer nada com o anel, o sentimento que eles demonstraram provavelmente será alguma coisa qualquer que nem sequer valeria a pena.

— Nem me convidaram? — Uma nova voz surge.

— Não que eu esteja muito impressionado com isso, já é uma ocorrência comum, não é?

 Esse alguém é Jeffrey, que resolveu não ficar mais melancólico na janela, mas fazer seu problema se tornar o de todos por simplesmente resolver se sentar do lado de Allexander, que agora tem um pardal o querendo morto em sua frente, e outro querendo algo que nem mesmo ele consegue pensar sobre, talvez um ombro para chorar? Seria algo que ele adoraria fazer se tirassem o assassinato de suas costas.

— Jeffrey tenha mais educação. — Comando Leonora.

— Tá mãe, mas eu não posso deixar de me perguntar como seria lá na sua casa. — Comenta Jeffrey, pegando com as mãos vários biscoitos e bolachas e jogando no prato bem na sua frente sem nenhum tipo de cuidado com os farelos que caem para todos os lados. — Eu adoraria visitar um dia, ou uns dias. O que acha? Poderei até mesmo ficar com Caius, tenho certeza de que você não se importaria.

 Allexander se vira para o corvo, percebendo que nem o outro estava entendo as sequencias de acontecimentos que a cada momento se tornava algo que os surpreendia, mas não uma surpresa boa, voltando para o pardal que resolveu se sentar do seu lado que ainda estava esperando a confirmação de seu autoconvite seja aceita da forma que esperava.

— Jeffrey não fale esse tipo de coisas. — Fala Leonora. — Onde está sua educação? Se continuar assim você irá subir para o seu quarto, não incomode nosso convidado.

— Mas, eu não o estava incomodando, nós estamos apenas conversando normalmente. — Jeffrey se vira para ele esperando sua resposta.

— Caso deseje se sentir convidado, apenas converse com meus pais, eu não tenho nada para falar. — Responde Allexander, se perguntando quando o jantar começara ou esses pássaros apenas ficam comendo besteiras o dia todo. — Mas, caso deseje vir, apenas mande uma carta.

— E ótimo saber disso. — Responde o pardal, como se aquela frase o fizesse desejar ainda mais ir para lá. — Pode esperar pela minha carta, com certeza irei visitar vocês.

 Jeffrey sorri, o marrom em seus olhos escurecendo, mas o pega Allexander verdadeiramente de surpresa quanto ele passa um de seus dedos pelas marcas claras que traçam seu rosto como linhas.

— Jeffrey como você pode começar a agir assim do nada? — Leonora levanta seu braço e aponta para a porta. — Vá para o seu quarto, e saia apenas quando eu deixar, não sei por que você está agindo assim, mas e extremamente desrespeitoso.

Jeffrey se levanta, voltando pelo caminho que ele a pouco tempo havia entrado, olhando para os dois garotos com um sorriso gravado e olhos escuros mais do que já são.

— Mil perdoes, Allexander. — Fala Leonora, tirando a atenção que eles tinham no outro pardal. — Não entendo por que ele esteja agindo assim, mas deve ser apenas a puberdade.

— Está tudo bem, apenas controle ele da próxima vez. — Responde a coruja, deixando um ar de brincadeira, que ele espera que tenha funcionado enquanto escuta a pardal soltar leves risadas.

----------------

 As gotas que batem nas janelas começam a diminuir, mostrando que a chuva finalmente resolveu chegar ao seu fim, deixando para trás as poças de lama e o cheiro residual de terra molhada, os insetos voltaram a sair de suas tocas com os grilos começando a tocar sua melodia que nesse momento se parece mais com violinos desafinados.

— A chuva parou. — Fala Allexander, enquanto esconde a satisfação por ter falado aquilo. — Parece que já está na hora de irmos, não queremos mais incomodar vocês.

— Mas vocês não estão nos incomodando. — Diz Leonora. — E também está muito tarde, e melhor vocês saírem amanhã de manhã, será mais seguro.

— Nem está tão tarde assim. Ficara tudo bem, e nem e tão longe assim. — Allexander se levanta, tirando farelos invisíveis de sua roupa. — A volta com certeza será tranquila.

— Mas-

— Não precisa se preocupar Leonora. — Dessa vez e William que fala, colocando sua mão encima a da esposa. — As estradas são seguras, e eles também estão com guardas, nada de ruim irá acontecer.

William se vira para a coruja, e Allexander sente um calafrio descer por sua espinha e seu bolsa queimar com o anel guardado ali dentro, mas ele apenas acena com a cabeça, concordando com a segurança que será seu caminho, ou espera que seja.

— Como disse, vai ficar tudo bem. — Fala Allexander, colocando a mão no ombro de Caius e puxando ele aos poucos, querendo apenas que ele saísse logo daquela cadeira. — Vamos, enquanto mais tempo ficarmos aqui, mas tarde vai ficar, nessa hora e que realmente vai ficar perigoso.

 Leonora não discuti mais, apenas pega novamente aquele sino e chama o mordomo, o comandando para chamar a carruagem de volta. Não e muito demorado, apenas alguns minutos e nada mais que isso, mesmo que ainda tenha a hora de viagem de um local para o outro, ficando todas aquelas três horas, mas dessa vez Allexander não reclamara, e melhor ficar horas com o corvo, do que mais alguns segundos nessa casa e com essa família.

O cocheiro chega com os belos cavalos, junto dos guardas, esperando os dois entrarem na carruagem após se despedirem dos convidados.

— Espero que venham de novo a qualquer hora.

— Fala Leonora. — Tenham uma boa viagem de volta.

— Obrigado. — Responde Allexander. — Com certeza voltaremos, não tenha dúvidas nisso.

 Com as despedidas formais feitas eles vão para a carruagem que os espera, finalmente saindo daquele lugar esquecido por algum ser cósmico, eles se sentam no estafado ali dentro, deixando seus corpos relaxarem no local que anteriormente nem sequer passando por suas mentes. Quando a carruagem começou a andar Allexander se vira para o corvo quieto.

— Nunca mais voltarei aqui. — Fala a coruja, olhando pela janela enquanto a mansão sumia pela janela quase como uma ilusão de ótica, que se eles não estivessem passados um dia inteiro por lá seria como aquelas memorias passageiras, nunca sabendo onde havia conseguidos elas, mas estavam ali, no canto da sua mente, nunca sendo esquecidas. — Nem sequer se me pagassem.

— Pelo menos saímos. — Comenta Caius, tentando ver o lado positivo da situação que ele também concorda em não querer voltar, mas para ele a questão de voltar ou não é uma incógnita.

— Mas, pelo menos ainda tenho isso. — Allexander tira do bolso o anel, intacto, mesmo depois dos anos guardado embaixo de uma cama que já teve dias melhores.

— Você não devolveu? — Pergunta o corvo, olhando incrédulo para a joia entre os dedos da coruja. — Achei que faria isso.

— Depois do que aconteceu naquela sala? Acho melhor ficar comigo mesmo, eles querem me matar, então eu vou ficar com aquilo que permite eles a sua própria riqueza. Acho uma troca justa.

— Allexander guarda o anel de volta no seu bolsa.

— O que aconteceu com sua mão? — Fala Caius, se levantando e pegando a mão de Allexander, vendo o sangue seco junto das marcas de unhas que são como luas crescente pintadas de vermelho.

— Nada demais. — Responde a coruja, puxando a mão machucada de volta para si, mas e pego de surpresa quando o corvo resolveu segurar seu membro com força. — Foi apenas um acidente, quando eu vi já estava assim.

 Caius tira do bolso um pano branco, bordado com algumas flores douradas e raízes com diferentes tons de verde, fazendo a coruja se perguntar a quanto tempo o objeto estava guardado ali, nem ele mesmo fazia esse tipo de coisas.

— Onde você conseguiu esse pano? — Pergunta Allexander, enquanto Caius usa um dos lados do pano para limpar o ferimento.

— Por aí. — Responde. — Mas, você não pode simplesmente se machucar desse jeito, com certeza esse ferimento foi desconfortável para você.

— Melhor do que gritar na frente de todos eles. Não teria como explicar razoavelmente sobre o fato que um deles está cometendo assassinato e tentativa dele. — Allexander começa a mexer os braços, ganhando uma reprimida do corvo para ficar quieto.

— Mesmo que essa seja o motivo, não faça isso de novo. — Caius começa a usar o lado não sujo do pano branco, que agora se tornou rosado, para amarrar a mão caso mais sangue resolva sair do ferimento. — Não e sobre alguém perceber o machucado, mas é porque sentir essa dor apenas fara mal para si mesmo.

— Está preocupado comigo? — Pergunta Allexander, com um sorriso maroto. — Nos conhecemos a tão pouco tempo e você já está assim, todo preocupado.

— Não é preocupação, e apenas cuidado.

— E a mesma coisa. — Rebate a coruja, começando a rir, sem querer segurar um pingo de cada piado que sai da garganta. — Vamos admita, ficou preocupado.

— Como eu disse, cuidadoso, não preocupado. — Caius se levanta, voltando para o local que estava anteriormente, sentado de frente para a coruja que ainda ria de suas palavras. — E também, por que está rindo tanto? Isso nem sequer foi engraçado.

— Você que pensa, foi bem engraçado, para mim obvio. — Gorjeia a coruja, colocando a mão no próprio peito com uma pose orgulhosa. — Nem sequer está percebendo a contradição no que falou.

— Vamos esquecer isso. — Interrompe Caius, cruzando os braços, imitando a pose enfurnada da coruja. — Vejo que seu humor voltou desde que saímos de lá.

— E vejo que sua língua voltou a crescer desde que saímos de lá. — Rebate Allexander, imitando a pose do corvo. — Você deveria ter dito alguma coisa, em vez de ficar calado todo aquele tempo.

 Caius se cala, novamente, talvez pensando no que a coruja havia falado para ele, ou esperando quanto tempo demoraria até uma nova conversa seja jogada no meio deles.

— Foi melhor eu ter ficado calado, chamar a atenção demais nos desviaria no que queríamos fazer antes, mesmo que não cumprimos realmente o que iriamos fazer.

— A estátua não vale tanto a pena assim se pensarmos com o que descobrimos enquanto estávamos lá. E, não acho que você falando ou não mudaria alguma coisa. — Allexander se vira para a janela, reparando que ainda falta um longo caminho para casa, mas e melhor estar ali dentro do que naquela casa. — Agora apenas precisamos resolver todas essas coisas novas.

— Não será tão simples assim. Poderíamos conversar com alguns dos seus amigos, eles devem saber mais coisas que você, quer dizer a gente.

— Você acabou de me chamar de burro? — Caius apenas mexe o ombro. — Mas, nos podemos sim falar com eles.

 Allexander relembra do livro com a arvore genealógica dos Pasmour, como que em um dos casamentos foi com os Dathar, nada melhor do que se comunicar por cartas no início desse dia e então eles poderão ir até eles, ou ao contrário. Ele preferiria a segunda opção, não está com o humor de ir à casa de ninguém.

— Preciso falar com os meus pais o que aconteceu. — Solta Allexander. — Pensei que seria tranquilo até lá, não voltar com um anel roubado e um assassino pronto para pegar a minha cabeça.

Allexander passa a mão pelo pescoço, quase sentindo o metal frio raspar sua garganta, o fazendo engolir em seco, em pensar como sua vida se tornaria — perturbada por apenas ter feito uma simples visita nas casas de pessoas que a poucos dias atrás nem sequer passavam por sua mente, mas agora eles não saíram tão cedo assim.

— E melhor falar mesmo. — Diz Caius. — Não temos ideia quando o ataque pode acontecer, e nem sabemos como ele é.

— Precisamos nos proteger, e desconfiar de qualquer um que queira se aproximar de nós de repente. — A coruja se aconchega no estafado, passando as mãos pelo rosto querendo apenas chegar logo em sua casa. — E também, estou morrendo de sono agora, quando chegarmos vou me jogar na cama e apenas acordar daqui duas semanas.

Allexander limpa um pouco o clima que estava começando a ficar sufocante, não querendo mais pensar, em nada na verdade, apenas querendo deixar seu corpo relaxar na dura, e pouco relaxante, carruagem. Fechando os olhos e esperando ansiosamente para chegar logo em casa, indo fazer algo que ele pensara melhor quando já tiver lá.

Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 01 - Um dia comum, mas cheio de sentimentos estranhos
3 Capítulo 02 - Primeiras impressões são fáceis, até você sair correndo
4 Capítulo 03 - Conversas podem fluir no jantar se você ter ajuda pra conversar
5 Capítulo 04 - Tudo é um aviso, só não aguento mais recebê-los.
6 Capítulo 05 - Um dois pra lá, um dois pra cá
7 Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...
8 Capítulo 07 — Sonhos são estranhos, tudo tem significado, mas muitas vezes não
9 Capítulo 08 — Pássaros podem ser cobras se tiverem o disfarce perfeito
10 Capítulo 09 - Cantam como caixinhas de música e tremem como trovões.
11 Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem
12 Capítulo 11 - Um dia de folga, um novo problema, um dos dois terá um fim rápido
13 Capítulo 12 - Como um jarro pode ser usado como instrumento?
14 Capítulo 13 - Antigas casas não podem ser sempre chamadas de lares
15 Capítulo 14 - Visitas não muito tranquilas e conversas superficiais
16 Capítulo 15 - Traidor
17 Capítulo 16 - Um canto esquecido conta suas próprias histórias
18 Capítulo 17 - Um buraco escondido contra suas próprias lendas
19 Capítulo 18 - Saindo de um esconderijo e entrando em uma farsa
20 Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras
21 Capítulo 20 - Pesadelos que enlouquecem aos poucos
22 Capítulo 21- Fatos sobre assassinato e cansaço sem fim
23 Capítulo 22 - Um sentimento de culpa que não deveria existir
24 Capítulo 23 - Pássaros mortos não podem cantar
25 Capítulo 24 - A ilusão da segurança
26 Capítulo 25 - Conversar com um urubu e o mesmo que falar com uma porta
27 Capítulo 26 - Conversas atrás de conversas, talvez um plano saía daí
Capítulos

Atualizado até capítulo 27

1
Prólogo
2
Capítulo 01 - Um dia comum, mas cheio de sentimentos estranhos
3
Capítulo 02 - Primeiras impressões são fáceis, até você sair correndo
4
Capítulo 03 - Conversas podem fluir no jantar se você ter ajuda pra conversar
5
Capítulo 04 - Tudo é um aviso, só não aguento mais recebê-los.
6
Capítulo 05 - Um dois pra lá, um dois pra cá
7
Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...
8
Capítulo 07 — Sonhos são estranhos, tudo tem significado, mas muitas vezes não
9
Capítulo 08 — Pássaros podem ser cobras se tiverem o disfarce perfeito
10
Capítulo 09 - Cantam como caixinhas de música e tremem como trovões.
11
Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem
12
Capítulo 11 - Um dia de folga, um novo problema, um dos dois terá um fim rápido
13
Capítulo 12 - Como um jarro pode ser usado como instrumento?
14
Capítulo 13 - Antigas casas não podem ser sempre chamadas de lares
15
Capítulo 14 - Visitas não muito tranquilas e conversas superficiais
16
Capítulo 15 - Traidor
17
Capítulo 16 - Um canto esquecido conta suas próprias histórias
18
Capítulo 17 - Um buraco escondido contra suas próprias lendas
19
Capítulo 18 - Saindo de um esconderijo e entrando em uma farsa
20
Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras
21
Capítulo 20 - Pesadelos que enlouquecem aos poucos
22
Capítulo 21- Fatos sobre assassinato e cansaço sem fim
23
Capítulo 22 - Um sentimento de culpa que não deveria existir
24
Capítulo 23 - Pássaros mortos não podem cantar
25
Capítulo 24 - A ilusão da segurança
26
Capítulo 25 - Conversar com um urubu e o mesmo que falar com uma porta
27
Capítulo 26 - Conversas atrás de conversas, talvez um plano saía daí

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!