Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...

 Eles não ficaram muito tempo naquela sala, sendo, na verdade, apenas uma única hora. Pois, Felicity bateu na porta acordando Allexander do seu sono e o corvo dos seus devaneios.

— Por que vocês estão jogados ai no chão? — Perguntou ela vendo os dois pássaros perdidos nos seus próprios mundos.

— O chão está gelado da maneira certa, quer experimentar também? — Convida Allexander, que espalha mais suas asas pelo chão as fazendo soltar leves estalinho das suas articulações sendo esticadas.

— Não, eu vou passar essa, vim aqui para chamar vocês dois para um café da tarde, vossa excelência quer que vão comer junto a ela na estufa.

 Allexander se levanta, sentindo suas costas doerem por dormir numa superfície dura, de pé ele segue para a porta sem esperar o corvo ou checar se está o acompanhando, apenas passa por Felicity e vai para a estufa.

...----------------...

 A estufa fica no jardim, apenas precisa chegar no chafariz e seguir um longo caminho até uma redoma de vidro, cheia de plantas e flores com tanto perfume que as vezes faz seu nariz coçar.

 Lá dentro encontrou sua mãe, sentada em uma cadeira branca enquanto come alguns biscoitos que parecem ter recheio de limão, ela não está prestando atenção em sua chegada, na verdade, seu olhar está fixo em uma das flores que estão um pouco mais a frente que aparenta estar começando a murchar.

— Mãe, cheguei. — Anuncia Allexander, chamando finalmente a atenção dela.

— Que bom, finalmente chegou se sente, e onde está Caius? — Pergunta ela enquanto empurra o prato com biscoitos na sua direção.

— Ele deve estar chegando, daqui a pouco aparece. — Responde enquanto mastiga seu biscoito.

— Como foi a aula de hoje? Ele conseguiu aprender alguns passos?

— Ele foi bem, para sua primeira vez, daqui a pouco não iremos precisar mais que eu de aulas para ele.

— Ótimo, mas mudando de assunto, você sabe o que fazer lá, não é?

— Sim, sim, conversar com o príncipe e virar o cachorrinho dele, realmente preciso fazer isso?

— Você não vai virar o cachorrinho dele, mas sim um amigo ou colega, só use seu talento pra conquistar o príncipe e estará tudo resolvido.

— Mas, e o corvo? Para que mandá-lo? Ele não conhece ninguém ou tem algum nome que possa interresar qualquer um ali dentro, apenas vai deixá-lo na parede durante todo o baile. — Indagou Allexander, levar o garoto não faz sentido, o que ele iria fazer lá? Quebrar os pés de todos os convidados? Não iria funcionar nem por um segundo.

— Ele precisa ir para demonstrarmos nossa nova aquisição aqui na família, não tem lugar melhor para anunciarmos sua chegado do que um baile onde todas as outras crianças estarão. — Respondeu sua mãe enquanto enchia sua xícara com o chá amargo que tanto adorava.

— Eu acho que entendi, ele é nosso caso de caridade ou coisa do tipo? — Pergunta Allexander, que a duquesa acena em afirmação. — Colocar boas graças em nosso nome...

— Você entendeu muito bem, meu garoto esperto. — Elogia a duquesa, abrindo um largo sorriso para seu filho que retribui.

 Os dois conversam por mais alguns minutos, até o corvo e Felicity chegarem, acompanhados por uma outra empregada que empurra um carrinho cheio de mais guloseimas para a mesa.

— Caius, que bom vê-lo, vamos se sente. — Fala primeiro a duquesa, que gesticula para a terceira cadeira, vendo o garoto se sentar logo pergunta. — Como foi sua aula com meu filho? Seguiu tudo bem?

— Foi tudo ótimo Vossa excelência.— Responde o garoto, enquanto pega um dos biscoitos em cima da mesa.

— Vincent já me falou que vocês conversaram, espero um bom desempenho em suas conversas no dia do baile.

— Desempenho? — Perguntou Allexander, levantando sua cabeça após bebericar o chá doce que a outra empregada tinha trago.

— Sim, você não tinha falado que ele poderia passar vergonha na hora do baile? — Disse a duquesa. — Pois bem, Vincent o está ajudando, com as formas de se comportar e tudo o mais.

— Entendi — Responde Allexander, segurando a xícara com suas duas mãos e sentindo calor as esquentando agradavelmente. — Mas, mudando de assunto, como foi o dia da senhora?

— Meu dia foi ótimo. — Diz ela bebendo seu chá para limpar a garganta. — Apenas as mesmas coisas de sempre, infelizmente nenhuma novidade-

 Um empregado entra no jardim, andando rápido e parece se segurar para não correr, quando chega perto de sua mãe ele faz uma leve reverência chegando mais perto, até se agachar começando a sussurar algo baixo demais para que até mesmo Allexander tem dificuldade de escutar.

 Parece ter sido algo grave, ou muito fora da realidade para que sua mãe sempre composta se levantasse da cadeira e saísse, sem se despedir ou falar qualquer outra coisa, apenas a outra empregada que a estava acompanhando fez uma reverência rápida aos dois indo embora logo em seguida.

— O que será que aconteceu? — Perguntou Felicity, que foi para o lado deles após todos os outros saírem.

— Nenhuma ideia, eles falaram baixo demais. — Respondeu Allexander, ajustando sua postura na cadeira. — Mas eles devem resolver isso logo, vamos lá não consegui ver o capitão hoje, talvez ele ainda esteja na área de treinamento.

— Mas já está tarde, tem mais chances de ele estar em sua sala. — Fala Felicty, se virando para o garoto ainda sentado. — É Caius, não vai chamá-lo?

— Ele pode ir fazer o que quiser, não estamos mais em aula. — Responde ele, seguindo para a entrada da estufa. — Não vai nós matar dar uma olhadinha, e você também vai conseguir ver seu noivo.

— Tá bom, mas ele não é meu noivo!

  É assim os dois ali saem, deixando apenas um para trás que começa a comer os doces e salgados em cima da mesa.

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 Quando os dois chegaram no campo não encontraram os dois que queriam ver, apenas alguns soldados treinando e conversando entre si.

— É, você tinha razão. — Fala Allexander se virando para a amiga, que dá um sorrisinho por estar certa.

— O que você irá fazer agora? — Perguntou ela enquanto se virava para sair, acenando para alguns dos soldados para cumprimentá-los.

— Eu não sei... talvez tenha algo para fazer se andarmos por aí. — Responde Allexander, caminhando de volta para o jardim.

Andando por essa área, nada de interessante aconteceu além de um besouro insistente resolver que sua cabeça e um ótimo alvo para mirar seu voou irregular.

— Sai, sai. — Fala ele, agitando os braços para fazer a criatura ir para longe, mas não funciona, resultando em receber uma cabeça do besouro bêbado. — Felicity! Não fica rindo ai.

Felicity fecha a boca, mas mesmo assim suas bochechas inflaram para segurar as risadas que querem explodir pra fora da boca. — Deixa eu te ajudar.

Ela então pega o besouro com sua mão e o joga em um arbusto qualquer, e sorri para Allexander. — Não pensei que você ficaria com medo de um besourinho.

— Não estou com medo, e apenas nojento. — Responde ele passando a manga da camisa na área onde o besouro cabeceou. — É e melhor você lavar essa mão, não sabe por onde esse bicho passou.

— Essa aqui? — Pergunta ela de brincadeira, levantando a mão e indo em direção do amigo. — Não tem nada de mais, vem cá.

— O que? Não sai daqui. — Responde tanto vários passos para trás, até Felicity correr um pouco em sua direção em resposta e ele se virar correndo mais rápido ainda.

— Allexander, volta aqui! — Grita Felicity, os sons de suas risadas acompanham cada palavra sua, e logo é respondida por mais sons alegres correspondentes que se afudam jardim abaixo.

Os dois correm um atrás do outro, a questão do besouro foi esquecida em alguma parte desconhecida do caminho, agora e apenas uma tiê-sangue¹ correndo atrás de uma coruja da igreja que se embrenha por arbustos e rosas.

De repente uma coisinha preta aparece de repente na linha de visão da coruja, mas era tarde demais para parar sem bater no outro indivíduo, então Allexander cai encima do garoto, e por conta do atingido ser muito menor um grande peso foi imposto a ele fazendo-o soltar um fino "CAW".

— Ai meu ouvido! — Fala Allexander, se levantando rapidamente com suas asas arrepiadas e um pouco trêmulas pelo grasnado logo em sua orelha.

— Garotos vocês estão bem? — Chega Felicity, que vai até o corvo ajudando-o a se levantar.

— To bem, só meu ouvido que tá zumbindo. Acho que vou ficar surdo. — Fala Allexander, batendo a mão no ouvido como se estivesse tirando água dali, e o garoto apenas acena com a cabeça.

— Não seja dramático, foi só um barulhinho.

— Fala isso porque não foi com você.

— Eu já escutei um grasnado de um corvo adulto no meu ouvido, e só foi um zumbido que logo saiu.

— Somos pessoas diferentes em situações diferentes, não tem nada a haver.

— Tem sim, você só está sendo dramático.

Enquanto isso o corvo vira sua cabeça de um lado para o outro, vendo os dois pássaros brigando por um grasnado acidental, os dois se viraram para ele com os olhos fumegantes para saber qual deles está certo.

— Você não acha que ele está sendo dramático? — Falou Felicity.

— Você não acha que ela não está entendo o que quero dizer? — Fala Allexander.

O corvo olha de para um e para o outro, sem saber para qual lado seguir, os dois com os braços cruzados apenas esperando sua resposta para decidir e ele não sabe o que fazer. No final, sua resposta chegou em ele virando as costas e indo embora, o mais longe possível dos dois indivíduos que ainda se olham com discordância.

— É, ele foi embora por saber o quão besta foi essa discussão. — Falou Felicity quebrando o silêncio que estava crescendo a cada minuto.

— Mesmo que eu concorde com essa discussão sendo besta, está claro que quem está certo sou eu. — Responde Allexander seriamente, descruzando os braços e saindo com confiaça.

— O que? Quem disse que você estava certo? — Recrutou Felicity seguindo a coruja orgulhosa.

— A situação respondeu.

— Que situação? Volta aqui! — Fala Felicity, levantando novamente aquela mão pronta para tocá-lo.

— Ou, sai daqui!

É assim os dois voltam a correr, esquecendo a situação que acabou de acontecer e apenas aproveitando o começo da geada do ínico da noite enquanto passam pelos arbustos e são engolfados pelo cheiro doce das rosas vermelhas sangue.

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tiê-sangue¹

Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 01 - Um dia comum, mas cheio de sentimentos estranhos
3 Capítulo 02 - Primeiras impressões são fáceis, até você sair correndo
4 Capítulo 03 - Conversas podem fluir no jantar se você ter ajuda pra conversar
5 Capítulo 04 - Tudo é um aviso, só não aguento mais recebê-los.
6 Capítulo 05 - Um dois pra lá, um dois pra cá
7 Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...
8 Capítulo 07 — Sonhos são estranhos, tudo tem significado, mas muitas vezes não
9 Capítulo 08 — Pássaros podem ser cobras se tiverem o disfarce perfeito
10 Capítulo 09 - Cantam como caixinhas de música e tremem como trovões.
11 Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem
12 Capítulo 11 - Um dia de folga, um novo problema, um dos dois terá um fim rápido
13 Capítulo 12 - Como um jarro pode ser usado como instrumento?
14 Capítulo 13 - Antigas casas não podem ser sempre chamadas de lares
15 Capítulo 14 - Visitas não muito tranquilas e conversas superficiais
16 Capítulo 15 - Traidor
17 Capítulo 16 - Um canto esquecido conta suas próprias histórias
18 Capítulo 17 - Um buraco escondido contra suas próprias lendas
19 Capítulo 18 - Saindo de um esconderijo e entrando em uma farsa
20 Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras
21 Capítulo 20 - Pesadelos que enlouquecem aos poucos
22 Capítulo 21- Fatos sobre assassinato e cansaço sem fim
23 Capítulo 22 - Um sentimento de culpa que não deveria existir
24 Capítulo 23 - Pássaros mortos não podem cantar
25 Capítulo 24 - A ilusão da segurança
26 Capítulo 25 - Conversar com um urubu e o mesmo que falar com uma porta
27 Capítulo 26 - Conversas atrás de conversas, talvez um plano saía daí
Capítulos

Atualizado até capítulo 27

1
Prólogo
2
Capítulo 01 - Um dia comum, mas cheio de sentimentos estranhos
3
Capítulo 02 - Primeiras impressões são fáceis, até você sair correndo
4
Capítulo 03 - Conversas podem fluir no jantar se você ter ajuda pra conversar
5
Capítulo 04 - Tudo é um aviso, só não aguento mais recebê-los.
6
Capítulo 05 - Um dois pra lá, um dois pra cá
7
Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...
8
Capítulo 07 — Sonhos são estranhos, tudo tem significado, mas muitas vezes não
9
Capítulo 08 — Pássaros podem ser cobras se tiverem o disfarce perfeito
10
Capítulo 09 - Cantam como caixinhas de música e tremem como trovões.
11
Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem
12
Capítulo 11 - Um dia de folga, um novo problema, um dos dois terá um fim rápido
13
Capítulo 12 - Como um jarro pode ser usado como instrumento?
14
Capítulo 13 - Antigas casas não podem ser sempre chamadas de lares
15
Capítulo 14 - Visitas não muito tranquilas e conversas superficiais
16
Capítulo 15 - Traidor
17
Capítulo 16 - Um canto esquecido conta suas próprias histórias
18
Capítulo 17 - Um buraco escondido contra suas próprias lendas
19
Capítulo 18 - Saindo de um esconderijo e entrando em uma farsa
20
Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras
21
Capítulo 20 - Pesadelos que enlouquecem aos poucos
22
Capítulo 21- Fatos sobre assassinato e cansaço sem fim
23
Capítulo 22 - Um sentimento de culpa que não deveria existir
24
Capítulo 23 - Pássaros mortos não podem cantar
25
Capítulo 24 - A ilusão da segurança
26
Capítulo 25 - Conversar com um urubu e o mesmo que falar com uma porta
27
Capítulo 26 - Conversas atrás de conversas, talvez um plano saía daí

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