Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem

  Eles conseguiram chegar em total segurança na mansão, como ainda estava chovendo dois empregados com guarda-chuva vieram ajudá-los a chegar até a porta, e lhe deram toalhas para se secarem.

 Já anoiteceu, claramente demorou mais de quatro horas que antes era prevista, e os dois pássaros estavam morrendo de fome por ficarem entediados dentro de uma carruagem. Eles correram escada acima, molhando os tapetes e o chão limpo com lama e água.

 Os dois tomaram banhos quentes, suspirando em suas próprias banheiras enquanto sentiam o calor subir por todo seu corpo e finalmente relaxar depois de passar por todo aquele frio. Depois de finalmente se estabeleceram, desceram, prontos para comer algo quente.

 Na mesa, encontraram a duquesa e o duque, os dois esperando que eles se sentem e começarem a comer.

— Como foi lá? — Perguntou o duque.

— Foi como sempre pai, não a nada de novo para contar. — Respondeu Allexander, que escondido, apertou a mão do corvo prestes a abrir a boca.

— Certeza? Não parece que isso seja verdade. — Falou a duquesa, esperando por suas respostas. — Foi tudo normal mesmo Caius?

— Sim! — Exaltou o corvo, fazendo a duquesa levantar uma sobrancelha. — Quer dizer... sim, vossa excelência.

—Allexander, depois venha conversar comigo no escritório. — Falou Dominique.

— Estarei lá pai.

— Agora comam, vocês precisam de coisas quentes para encher a barriga, se não pegaram um resfriado. — Finalizou Raquel, acenando para os outros empregados também trazerem chocolates quente para os garotos, que em sua visão, estão congelados.

 O jantar ocorreu normalmente, algumas puxadas de assunto aqui e ali, mas todos comeram bem, e os garotos se sentiam mais aquecidos do que nunca, prontos para cair no sono e dormir horas a fio.

 Tanto sono, que até Dominique mandou seu filho ir dormir logo, que no dia seguinte os dois conversariam sem interrupções.

...----------------...

 É assim, Allexander agora está em seu quarto, e diferente das outras vezes, finalmente adormeceu sem nenhum problema, o dia cansativo pesou em cima dele, e agora conta os cordeirinhos que pulam nas cercas tão novas que quase brilham.

 Ou assim ele pensou por um tempo, um raio atravessa sua janela, fazendo um barulho tão alto que faz suas penas se ericarem e seu corpo se projetar para fora da cama, quase caindo no chão, caso não se segurasse no colchão e nas cobertas.

 Ele se levanta, sentindo o frio subir por sua perna, mas logo em seguida volta a se deitar, fechando os olhos e querendo que os trovões fiquem mais baixos para conseguir dormir uma noite inteira sem nenhum contratempo.

Toc.

Toc.

Toc.

 O sons de batida o levantam no último segundo antes de cair novamente em seus sonho, ele deixa de lado por alguns momentos. Talvez assim a pessoa do outro lado entenda e saia, o deixando em paz.

Toc.

Toc.

Toc.

 O som continua, com um grunhido ele se levanta, a pessoa do outro lado não conhece nenhum pingo de decoro para bater na porta de alguém no meio da noite, um grito seria muito pouco do que realmente merece.

 Abrindo a porta, ele vê parado ali, o corvo, ainda com a mão levantada para bater novamente e irritar seus tímpanos.

— O que você está fazendo aqui a essa hora?! — Exclamou Allexander, sua voz ficando mais fina, quase como um guincho terminando em um rosnado.

 O corvo se encolhe, com Allexander percebendo agora que ele estava envolto de um cobertor escuro e quase se escondendo em meio a toda a pelugem ali. Quando ele iria responder outro trovão surge, trazendo consigo o relâmpago que traça o quarto com uma luz quase assustadora, fazendo o corvo se encolher ainda mais no cobertor.

 Aquela satisfação estranha volta, quase o fazendo abrir um largo sorriso, mas ele consegue disipar virando as costas e tirando o corvo encolhido de seu campo de visão. Outro clarão aparece, e dessa vez apenas o som leve foi o indicativo do medo sentindo pelo outro.

— Você não me respondeu! — Fala ele, batendo o pé na madeira oca, querendo que isso deixe o garoto ansioso o suficiente para responder de uma vez.

—posso dormir aqui... — Sussura o corvo, quase baixo demais para até um rato ter dificuldade para escutar. Mas Allexander conseguiu.

— Você... quer dormir aqui?

 O garoto acena, andando um pouco mais para frente, quase dentro, esperando o convite certo para finalmente entrar sem problemas.

— Felicity deve te receber lá. Vá falar com ela. — Responde Allexander, já fechando a porta para expulsar o garoto e finalmente voltar pra sua tão sonhada cama.

 O garoto olha para a porta se fechando triste, mas outro relâmpago o assustando, fazendo-o agir em pânico e pular em cima da coruja desprevenida. Os dois batem no chão de madeira com um baque, esse barulho chamaria alguém que estivesse em volta ou até mesmo os pais dele, mas todos estavam dormindo ou patrulhando em outras áreas, como resultado ninguém os ouviu caindo como estantes velhas no chão.

— Sai de cima de mim! — Guinchou Allexander, empurrando o garoto de lado, pronto para jogá-lo na parede de fora do quarto, ou até mesmo jogá-lo pela janela, ele voa conseguiria se virar sem problemas.

 Mas quando iria fazer a ação, parou e sentiu que simplesmente jogá-lo não traria nada de bom, seria como se aos poucos montasse algo desconhecido com a única certeza que não seria bom para ninguém, rir de seu medo poderia ser uma coisa, mas arremessar uma criança fora, infelizmente, seria outra completamente diferente, e traria algo ruim para ele de alguma forma.

— Eu vou deixar você dormir aqui. — Algo esperançoso surge na aura do corvo. — Mas, iremos montar uma parede de travesseiros no meio, odeio dormir perto de outras pessoas.

 O corvo suspira, mas parece aceitar o acordo, pelo menos ele não estaria sozinho.

 Os dois montam a parede de travesseiros, como a cama de Allexander e grande demais até para ele mesmo, não foi difícil dividi-la ao meio. Eles teriam seus próprios espaços e não teria o acidente de acabarem do lado do outro por acidente.

— Prontinho! Vamos dormir.

 Allexander se deita, sem esperar que o convidado indesejado também se deita, ele só sente a cama do outro lado se afundando com o peso do outro, e sem pestanejar ele dorme.

...----------------...

 Algo cutuca seu nariz, passando a mão para tirar não adiantou, o algo permanece ali se mexendo apenas para fazê-lo querer espirar, ele continua mexendo quase arrancando aquilo para finalmente conseguir alguma paz. Mas não adiantou, só restando-

ATCHIM!

 Caius pula da cama, assustado com o espirro fulminante que veio do outro lado. Se virando percebeu que sua asa havia se esticado até no nariz de seu vizinho do lado.

— Eu falei pra ficar fora! — Guinchou Allexander, bravo por seu sono ser interrompido mais uma por conta de um corvo.

— Foi apenas minha asa, nem chegou tão perto assim de você. Foi apenas algumas penas.

— Mas e o suficiente! — Explode Allexander, pegando uns dos travesseiros que compõem a parede e joga na cara do corvo distraído.

 O corvo em vingança pega outro e também joga, as penas brancas começam a sair dos travesseiros preenchendo o ambiente que aos poucos se torna mais confortável e animado.

 Um dos travesseiros bate forte nas costas de Allexander, atingindo suas asas, mas em vez de sentir algum tipo de irritação ele começa a rir, até sua barriga doer, enquanto ainda jogava seu próprio armamento em seu inimigo que estava sendo derrotado por suas próprias risadas o fazendo abaixar a guarda.

  Os dois pegam o mesmo travesseiros, com um olhar de raiva, que e totalmente deixado por lado pelas risadas ainda saindo deles, eles começam a puxar, cada um para o seu próprio lado, até o travesseiro ficar tão espichado, que simplesmente rasga no meio com milhares de pequenas brancas sendo levantadas para cima e deixando os dois iguais galinhas meio depenadas.

— Olha o que você fez! — Fala Allexander apontando o dedo, com sua falsa raiva, segurando as risadas, mas não conseguindo esconder o sorriso puxando seus lábios para cima.

— Não, olha o que você fez! — Respondeu Caius, imitando o outro garoto.

 Os dois se apontam por alguns segundos, mas não aguentaram e cairam para o lado enquanto riem de toda a bagunça que fizeram, segurando suas barrigas com lágrimas se formando em seus olhos. Quando seus risos e lágrimas se transformaram em apenas soluços, eles se encararam ainda com sorrisos no rosto e olhos vermelhos por chorarem tanto.

" Talvez ele não fosse tão ruim assim.", Pensa Allexander, sentindo no fundo de si aquela raiva de antes se acalmar, pelo menos um pouco e por enquanto tudo parece estar bem.

— Se todas as vezes que você vier para o meu quarto, isso acontecer, eu vou te expulsar eternamente. — Fala Allexander, de cara com Caius que sorri para ele com mais satisfação.

— Então posso vir aqui mais vezes? — Pergunta animado o corvo.

— O que! Também não é assim!

— Tá bom, então vou entrar e não irei te acordar. Problema resolvido.

— Também não é assim! Se eu ver você vir escondido no meu quarto, eu te jogo pela janela!

— Mas você não vai me ver! Eu faço isso! — Caius enrola suas asas em volta de si, virando uma bolinha preta felpuda.

— Ainda consigo ver você!

— Consegue não.

— Certeza? Então vê agora. — Allexander pega um travesseiro jogado de canto e começa a bater na bolinha felpuda até ela se desenrolar como um tatu.

  Eles continuam brincando, esquecendo completamente da chuva que ainda ricochetei pela janela e da grande bagunça de penas que fizeram por todo o quarto. Esse momento criou um pequeno elo, que mudou uma simples coisa que se transformará na base de algo que eles apenas saberam no futuro tão próximo, quanto longo.

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Comments

☯︎𝑹𝒂𝒑𝒐𝒔𝒊𝒕𝒂🦊

☯︎𝑹𝒂𝒑𝒐𝒔𝒊𝒕𝒂🦊

não sei como elogiar sua escrita autor(a) , é fofa e muita boa!

2024-01-14

1

Ver todos
Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 01 - Um dia comum, mas cheio de sentimentos estranhos
3 Capítulo 02 - Primeiras impressões são fáceis, até você sair correndo
4 Capítulo 03 - Conversas podem fluir no jantar se você ter ajuda pra conversar
5 Capítulo 04 - Tudo é um aviso, só não aguento mais recebê-los.
6 Capítulo 05 - Um dois pra lá, um dois pra cá
7 Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...
8 Capítulo 07 — Sonhos são estranhos, tudo tem significado, mas muitas vezes não
9 Capítulo 08 — Pássaros podem ser cobras se tiverem o disfarce perfeito
10 Capítulo 09 - Cantam como caixinhas de música e tremem como trovões.
11 Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem
12 Capítulo 11 - Um dia de folga, um novo problema, um dos dois terá um fim rápido
13 Capítulo 12 - Como um jarro pode ser usado como instrumento?
14 Capítulo 13 - Antigas casas não podem ser sempre chamadas de lares
15 Capítulo 14 - Visitas não muito tranquilas e conversas superficiais
16 Capítulo 15 - Traidor
17 Capítulo 16 - Um canto esquecido conta suas próprias histórias
18 Capítulo 17 - Um buraco escondido contra suas próprias lendas
19 Capítulo 18 - Saindo de um esconderijo e entrando em uma farsa
20 Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras
21 Capítulo 20 - Pesadelos que enlouquecem aos poucos
22 Capítulo 21- Fatos sobre assassinato e cansaço sem fim
23 Capítulo 22 - Um sentimento de culpa que não deveria existir
24 Capítulo 23 - Pássaros mortos não podem cantar
25 Capítulo 24 - A ilusão da segurança
26 Capítulo 25 - Conversar com um urubu e o mesmo que falar com uma porta
27 Capítulo 26 - Conversas atrás de conversas, talvez um plano saía daí
Capítulos

Atualizado até capítulo 27

1
Prólogo
2
Capítulo 01 - Um dia comum, mas cheio de sentimentos estranhos
3
Capítulo 02 - Primeiras impressões são fáceis, até você sair correndo
4
Capítulo 03 - Conversas podem fluir no jantar se você ter ajuda pra conversar
5
Capítulo 04 - Tudo é um aviso, só não aguento mais recebê-los.
6
Capítulo 05 - Um dois pra lá, um dois pra cá
7
Capítulo 06 — Um dia que pode ser resumido em monótono...
8
Capítulo 07 — Sonhos são estranhos, tudo tem significado, mas muitas vezes não
9
Capítulo 08 — Pássaros podem ser cobras se tiverem o disfarce perfeito
10
Capítulo 09 - Cantam como caixinhas de música e tremem como trovões.
11
Capítulo 10 - A chuva pode fazer até pássaros diferentes se divertirem
12
Capítulo 11 - Um dia de folga, um novo problema, um dos dois terá um fim rápido
13
Capítulo 12 - Como um jarro pode ser usado como instrumento?
14
Capítulo 13 - Antigas casas não podem ser sempre chamadas de lares
15
Capítulo 14 - Visitas não muito tranquilas e conversas superficiais
16
Capítulo 15 - Traidor
17
Capítulo 16 - Um canto esquecido conta suas próprias histórias
18
Capítulo 17 - Um buraco escondido contra suas próprias lendas
19
Capítulo 18 - Saindo de um esconderijo e entrando em uma farsa
20
Capítulo 19 - Roubar coisas e conversar sobre outras
21
Capítulo 20 - Pesadelos que enlouquecem aos poucos
22
Capítulo 21- Fatos sobre assassinato e cansaço sem fim
23
Capítulo 22 - Um sentimento de culpa que não deveria existir
24
Capítulo 23 - Pássaros mortos não podem cantar
25
Capítulo 24 - A ilusão da segurança
26
Capítulo 25 - Conversar com um urubu e o mesmo que falar com uma porta
27
Capítulo 26 - Conversas atrás de conversas, talvez um plano saía daí

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