"Qual deles você é?", ele não entendeu o que o príncipe queria dizer sobre isso, e nem podia perguntar a razão dessa pergunta, porquê logo em seguida tudo voltou ao normal e ele foi dispensado, voltando ao salão de festa onde todos os outros estavam, menos Tiffany e o corvo, parece que os dois ainda estão em algum lugar no meio dos jardins.
Ele volta para mesa de doces, que está ocupada pelo outro urubu, Nathaniel o irmão gêmeo da garota viciada em doces.
— Como vai Nathaniel? — Fala Allexander, tentando começar uma conversa amigável com o outro convidado.
— Estou bem. — Responde ele, saindo de perto da mesa e indo para um lugar afastado das outras pessoas, onde os dois poderiam conversar sem problemas. — Caius e minha irmã sairam para o jardim a um tempo atrás.
— Eu vi eles, pareciam estar se divertindo muito. — Fala Allexander, chegando mais perto dele. — Teve algo interresante acontecendo?
— Além do assassinato do herdeiro dos Erissis, nada de interessante ocorreu.— Comento Nathaniel tomando algo parecido com suco, como se aquela fosse uma simples notícia velha e não merecia muita atenção.
— Assassinado?! — Fala ele surpreso, segurando sua voz para não chamar atenção. — Eu não sabia que isso tinha acontecido!
Um herdeiro simplesmente morrer? Isso é algo que não acontece e todos continuam em frente como se nada tivesse acontecido, todos só esquecem disso alguns meses depois e voltam a suas vidas normais.
— Pelo que parece, não foi muito divulgado, por algum motivo. Eu só descubri isso porquê os meus pais não prestaram atenção na porta. — Admiti ele, com o tema de assassinato ainda no ar.
Para Allexander, essa pequena conversa se tornou umas das mais estranhas que ele teve em um baile, e ele ainda nem tinha ido em tantos assim.
— E é só isso? Nenhuma pista ou coisa parecida para explicar? — Pergunta ele, muitas vezes ocorreu que um dos irmãos matasse o outro para que conseguissem o título, mas o segundo herdeiro tinha apenas quatro anos, é impossível ele arquitetar um assassinato.
— Talvez alguém queira destrui-los, mas quem será? Eles não tem muitos inimigos.. — Falou em voz alta o urubu, que igual sua irmã compartilha o desejo de descobrir e abrir a carcaça escondida em meio aos vários segredos esperando para ser descobertos.
Quando ia responder à divagação do outro, surge os dois indivíduos que estavam jogando conversa fora no jardim sem se preocupar com nada. A urubu puxa o corvo na direção deles, com um grande sorriso no rosto, como se tivesse encontrado uma joia brilhante e não se segurava, pronta para compartilhar esse conhecimento com alguém.
— Vocês não sabem o que descobrimos! — Falou Tiffany entusiasmada, ela segura sua voz para não falar alto demais e chamar atenção dos outros convidados ao redor deles.
— É você vai contar? — Comenta cético Allexander, não acreditando que ela simplesmente falaria sem mais nem menos.
— Eu vou fazer isso apenas uma vez, e interresante demais para deixar apenas para mim mesma. — Fala ela, indo até seu irmão e puxando seu braço, e ele vai sem pestanejar muito.
Allexander não compra muito essa ideia, o que de tão interessante ela deve ter encontrado? Talvez uma borboleta bonita ou alguma outra coisa esquisita o suficiente para chamar sua atenção. Ele não está com muita vontade de ir, mas ficar e mais tedioso ainda, sem muita escolha própria, segue os outros dois que já estão seguindo Tiffany para o algo misterioso que encontrou.
Os quatro agora estão no jardim, perto do chafariz que antes Allexander não prestou muita atenção por estar sufocado demais com uma realeza ao seu lado, mas agora ele inspeciona a estátua esculpida ali, e simples ao mesmo tempo que não é. O mármore esculpido no formato de alguém sentado tocando lira*, a água ao seu redor se forma algo parecido com um lago, parecendo que a qualquer momento uma música suave começara a ser tocada colocando todos para dormir. É como a outra estátua em sua casa, também tem seu corpo coberto por uma camada fina, quase transparente, feito com puro mármore.
— O que vocês encontraram? — Perguntou Nathaniel, com os braços cruzados e esperando sua irmã fazer alguma coisa.
— Isso aqui.
Ela se agacha, seria muito deselegante uma moça se sentar dessa maneira, mas e logo esquecido quando ela empurra uma das partes da base do chafariz, logo do lado da placa indicando o seu nome. Todos se juntaram para ver o que era aquilo ali dentro, e era uma manivela enferrujada parecida com as das caixas de música, e que não foi usada a vários anos provavelmente esquecida pelos moradores do castelo.
— Como você encontrou isso? — Perguntou Allexander curioso.
— Bati o meu pé aqui sem querer, e escutei a parte oca, e só precisei abrir ela. — Enquanto falava Tiffany segura na manivela tentando fazer funcionar, mas não se mexeu um único centímetro. — Alguém poderia me ajudar?
"Será que é uma boa ideia?", Pensou Allexander, talvez essa manivela seja perigosa ou fosse proibida de ser tocada por algum motivo, ele olha ao redor, não vendo nenhum guarda ou alguém espiando nas varandas, com a certeza de não estar sendo vigiado ele toma o lugar de Tiffany e começa a girar.
Por um bom tempo o único som que saia dali era o da assobios que coisas enferrujadas normalmente fazem, quase fazendo ele deixar essa ideia de lado, seus ouvidos e cabeça não estão felizes com o barulhos os fazendo aos poucos começarem a doer.
Mas, de repente algo aconteceu, a estátua se mexeu.
Diferente de seu sonho a estátua não entregou sua cabeça ao abate, mas sim a levantou aos céus e mexendo seus braços começou a tocar sua lira feita com fios de mármore tão finos que é impressionante saber que alguém a fez com tanto cuidado.
A música, como ele adivinhou, e calma se igualando ao ambiente do jardim, transformando algo tão simples em mágico com apenas alguns toques bem cronometrados. Todos os quatro ficaram em silêncio contemplando a cena, a estátua continua seu número musical por mais alguns minutos que passaram em um sobro que de tão leve os fez até mesmo querer reviver novamente.
Como último ato ela se agacha na frente dos quatro com a mão esquerda fechada, que ao abrir mostrou cinco flores de diferentes cores e tamanhos, um crisântemo, uma flor de lótus*, um lírio* e uma gérbera*, e um pouco acima delas está um grande girassol, brilhante como os raios de sol que batem em suas pétalas.
Allexander pega a flor de lótus.
Caius pega a gérbera.
Tiffany pega o crisântemo.
Nathaniel pega o lírio.
Sobrando apenas o girassol, a estátua não se mexeu ainda esperando que alguém pegue a última flor. Como ninguém está se mexendo Allexander a pega ficando com mais duas flores. Com sua tarefa concluída a estátua volta a sua posição anterior, esperando mais uma vez que alguém use a manivela.
— Foi tudo tão lindo! — Exclama Tiffany, tão empolgada com a apresentação que até bate suas asas a fazer voar alguns centímetro para cima. — Vamos repetir!
Quando ela estava prestes a tocar na manivela de novo, Nathaniel segura seu braço.
— Não, vamos voltar para dentro. — Fala ele já puxando sua irmã consigo para o salão, fingindo surdez enquanto ela reclama por estar sendo levada, deixando para trás Allexander e o corvo.
Os dois se olham, sem nenhum assunto para começar, mesmo que tenham um pronto bem na sua frente. Caius querendo sair um pouco daquela pressão lê o que está na escrito na placa.
"O Cantor solitário"
O nome é autoexplicativo, um cantor que canta para os ventos e apenas deseja que alguém o escute pelo menos traços de sua música, que quando alguém realiza seu desejo a única coisa que tem para agradecê-las são flores colidas em uma época indeterminada.
— Quem será que fez isso? — Perguntou em voz alta o corvo, ainda inspecionando a placa esperando que algo mais apareça do nada.
— Vai saber. — Responde Allexander, mexendo nas petalas das duas flores que havia ganhado.
— Talvez seja igual a da mansão, será que vai ter alguma manivela lá também?
— Vai saber. — Repete Allexander, não prestando total atenção, mas talvez ele esteja certo e realmente tenha algo parecido na mansão, as estátuas são quase idênticas. Sua curiosidade e aguçada, talvez ele devesse ir procurar quando todos estiverem dormindo.
Mas também ele não saberia o que ela faria, um vaso não era nenhum tipo de instrumento musical.
— Eu vou indo lá. Você vem?
— Já vou.
O corvo sai, deixando Allexander sozinho com as duas flores em sua mão e o resto delas espalhadas pelo jardim, de repente, surge o príncipe novamente fazendo a coruja pular de susto.
— Majestade, o senhor... viu? — Perguntou Allexander, engolindo em seco e esperando que sua resposta seja negativa.
— Eu não achei que vocês encontrassem isso, mas devo ser mais pela alta atenção da Senhorita Dathar. — Fala o príncipe, andando até a manivela ainda descoberta e a gira, voltando o som do assobio e fazendo a estátua novamente ganhar vida.
— Você pensou no que eu lhe falei antes?
A pergunta paira por Allexander, tentando se lembrar, até clicar em sua cabeça e ele novamente engolir em seco com o nervosismo subindo por seu corpo.
— Alteza, eu não entendi muito bem sua pergunta.
O príncipe suspira, talvez até um pouco decepcionado com a resposta que recebeu.
— Você deve entender mais tarde, e espero que esse tarde seja logo. — Diz Leopold, seu olhar ameaçador deixa poucas ressrvar para se negar qualquer coisa para ele. — Mas, o que está achando da música?
A mudança de assusto abrupta pega Allexander de surpresa, deixando-o até mesmo sem palavras para responder naquele momento, mas até parece que o príncipe não está procurando uma resposta, porquê ele começa a dialogar sozinho, ou talvez esteja falando com a estátua cantora.
— Faz muito tempo que eu não mexia nessa estátua. — Começa o príncipe se sentando na base e dando uns tapinhas ao seu lado chamando Allexander para se sentar. — Da última vez eu era tão fraco que demorava minutos até eu conseguir mexer o suficiente para fazê-la cantar.
Allexander continua quieto, segurando uma pergunta que gostaria de soltar da garganta, mas parece que ele acabou percebendo isso.
— Vamos, perguntar, lhe dou permissão.
— A, bem, sabe de onde essa estátua veio? E, que sabe, ela e quase igual a que eu tenho em casa. Majestade...
— Não sei quem a fez. — Responde o príncipe deixando a coruja levemente decepcionada. — Mas, se for realmente iguais foram feitas em conjunto de um bruxo e algum artista.
— Se forem realmente feito por eles, por que não levar o crédito? Só tem o nome da obra ai.
— Isso eu também não sei, artistas são estranhos, não tente entender suas mentes. — O príncipe se levanta, tirando a poeira imaginária em suas roupas. — Vamos de volta para dentro, muitos devem estar se perguntando onde nós dois estamos, não e bom deixá-los fofocando, não é?
— Claro, majestade. — Fala ele, seguindo o pavão de volta para dentro e suspirando baixinho por conseguir sair daquela conversa sem nada ruim ter acontecido.
— É senhor Nyousvier, dá próxima ver que nós encontramos quero saber sua resposta.
Ou assim ele pensava.
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O resto da festividade seguiu normalmente, conversas, danças, e mais conversas. Nada inesperado aconteceu, mas antes que ele sinta o tédio disso tudo, lembrou o quão melhor era do que os acontecimentos de mais cedo, dessa vez, pelo menos sabia como agir em cada uma das situações.
É foi assim até irem embora.
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Na carruagem os dois estão cansados demais para até mesmo querer iniciar uma conversa entre si, que até mesmo o corvo acabou adormecendo em um ponto do caminho.
Ele escuta uma gota batendo na janela da vidro, logo seguida por outro, e por outro sucessivamente, até se transformar em uma chuva completa que encharca o chão fazendo a terra virar lama, com certeza essa viagem demorará mais de quatro horas.
O corvo acorda com o estalar de um trovão tão forte que tudo treme com seu poder, e fez o garoto tremer junto a ele, até se encolhendo um pouco no sofá acolchoado.
— O que foi, está com medo? — Fala Allexander com uma leve risada na voz, vê-lo assim lhe trás uma satisfação, como se o medo em seus olhos alimentar-se de algo escondido dentro de si, que ele mesmo nem sabia que poderia ter.
— Não, não estou com medo! — Exclama o corvo, que logo em seguida e assombrado por outro relâmpago fazendo um rachadura no céu, e iluminando tudo dentro da carrugem.
— Certeza? — Brinca ele, se levantado de seu assento, pronto para assustar o garoto que já está enrolado em suas asas tremendo um pouco.
Mas, seu plano falha, quando a carruagem pula por passar por cima de uma pedra que surgiu em meio a lama, Allexander acaba caindo encima do corvo que solta um "CAW" assustado. E logo em seguida um trovão seguida por um relâmpago, cruza novamente os céus.
— É só uma chuvinha, não vai te fazer mal nenhum. — Reclama Allexander, ainda em cima do amontoado de penas pretas que acabou tropeçando. — Não e como se um raio fosse cair em cima de nós, ou do nosso lado.
Um raio cai do lado da carruagem, fazendo o cocheiro soltar um grito assustado e acelerar um pouco mais. Allexander não olha para Caius que o encara sem piscar.
— Vou ficar quieto sobre isso. — Ele faz um gesto de zíper na boca é a joga fora. — Mas, por que você está com tanto medo dos raios? Nós temos a mesma idade, grandes o suficiente para não termos mais medo disso.
— Não importa! — Responde o corvo, pegando a coruja de surpresa por essa ser a primeira vez que o escuta levantar a voz. — Desculpa, eu não queria gritar...
A chuva do lado de fora ainda está forte, eles até conseguiam escutar o cocheiro junto dos guardas conversando irritados sobre o quão azarados estavam por isso ter acontecido e que isso foi culpa de alguém por ter feito alguma coisa. Superstições estranhas que ele não conseguiria entender nem se o céu estivesse limpo, e com o sol raiando.
— Vai demorar muito para chegarmos? — Perguntou o corvo ainda enrolado em seu travesseiro de pena.
— Não sei. — Respondeu a coruja, com preguiça demais para se levantar do dito travesseiro. — Mas, alguma hora chegaremos, pode relaxar.
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Lira*
Flor de lótus*
Lírio*
Gérbera*
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Atualizado até capítulo 27
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